Eu preciso. Você, ele, ela, todos. É desesperador ter o que dizer e não saber como. Ter o que falar e faltar habilidade, conhecimento, palavras. Logo cedo experimentamos estes dilemas na comunicação. Quando crianças tentávamos descrever e explicar algumas coisas que os adultos fingiam que estavam entendendo.
Sussurros, frases, gritos, tudo parece estar sufocado. Desejamos falar e muitas vezes não conseguimos. Pecados da visão, da imaginação, do tato, do fato. Pecados sutis, escabrosos, escandalosos. Pecados da frieza, da indiferença, da vaidade. De todos os tipos, de todas as áreas, com todas as intensidades, no fim, os pecados de uma rotina sem remissão acabam por emudecer a nossa voz.
Nossos sons são implacavelmente robotizados, e nós, drasticamente, nem nos damos conta. Automaticamente acionamos o play social e emitimos nossas frases feitas: bom dia, boa tarde, até amanhã, tchau, não posso, talvez, não sei, vou pensar, se der, talvez outro dia, é assim mesmo, ninguém liga, ninguém se importa, boa noite. Tudo isso é som para levar a vida num mundo caído. Falta o olhar, o ouvir, falta ombro, falta colo, falta, enfim, voz.
Voz com emoção de verdade. Voz mansa, brava, calma, indignada, paciente, acelerada, ansiosa, desejosa, triste, estimulante, vibrante, cativante, trêmula, convicta, tímida, bondosa e, acima de tudo, verdadeira. Mudos ficamos pelo politicamente correto que orienta: não ofenda, não machuque, não confronte, não estrague. Aí, quando voz de verdade, com cheiro gente, com os poros borbulhando de emoção, resolve se expor, muitos se doem, feridinhos, mimadinhos, injustiçadinhos. Afinal, a autenticidade que deveria ser o comum na voz, perdeu lugar para sons meramente robotizados. Sons que não aprofundam relacionamento algum, mas preservam o verniz social, pelo menos por um tempo. Pura ilusão.
Precisamos resgatar a voz que clama no deserto, na cidade, no carro, no quarto. Sozinhos, efetivamente não conseguiremos. Os esquemas de pecado padronizaram nossos comportamentos e palavras. Não falo sobre prostituição, álcool, drogas e corrupção, tudo isso se insere em categorias de pecados, dependências, doenças, desvios e ponto. Já sabemos. Falo dos pecados com os quais nos acostumamos. Pecados que nos convém, nos mantém na zona de conforto, nos deixam bem com todos e, claro, abafam e silenciam nossa voz. Pecados que nos levam a proteger A em prejuízo de B. Pecados que oculista nenhum cura, que levam as pessoas a fazerem intencionalmente a omissa vista grossa. Pecados que fingem não saber, não ouvir, não conhecer, tudo para não se comprometer. Pecados que nos levam a desprezar os pratos onde outrora comemos. Pecados, enfim, mudos, carentes de voz.
Na seqüência de parágrafos assim, o versículo um da primeira carta de João no capítulo dois, é a voz que precisamos ouvir: ''Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo'. Em sua raíz latina, a palavra advogado tem o seguinte significado: aquele que dá voz aos que não têm.
Perfeito! Minha voz pode ser redimida através de Cristo. E só através dEle. I João 2.1 me conforta e me consola. Sou pecador, mas posso recorrer ao melhor dos advogados que já se conheceu, Ele dá voz para aqueles que não têm. Voz para não se conformar com raposinhas que destroem uma propriedade inteira, sem que o dono perceba, através de intrigas, jogos de poder, invejas, ciúmes, orgulhos, presunções, teimosias, manhas, caprichos, falta de submissão, ausência de humildade. Precisamos da voz do Cordeiro autenticando nossa voz, sem manipulação ou intimidação de oportunistas, apenas seguindo o princípio dos sacrifícios que agradam a Deus, o princípio que aponta para a obediência ao exemplo de vida do Justo, o qual bebeu sozinho o cálice que só Ele poderia beber, única e exclusivamente porque aquela era a vontade do Pai.
Paz!
pr. Edmilson Mendes
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '''Adolescência Virtual'', ''Por que esta geração não acorda?'', ''Caminhos'' e ''Aliança''.
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