Naamã era o comandante do exército da Síria e, abaixo do rei, ele era a pessoa mais importante seu país!
De fato, um grande homem, de muito conceito. Por ele, o próprio Deus deu vitória à Síria.
Tornou-se então um renomado herói de guerra...
Embora nada disso tivesse tanta importância, diante de seu estado de saúde muito debilitado.
De nada adianta o título de herói e as vestes de um guerreiro se, quando chegava em casa, ao despir-se de todo esse aparato, ficava evidente sua triste realidade: por fora, um “herói”, mas por dentro, um mísero “leproso” sendo comido pela doença que se alastrava a cada dia!
Ele conseguia vencer milhares de homens na guerra, mas estava perdendo a batalha contra a doença.
Talvez, suas vestes poderiam ocultar sua doença diante dos demais oficiais, mas quando chegava em casa, seus familiares e funcionários inevitavelmente teriam ciência de sua realidade.
Para entender a gravidade da situação, precisamos ler o diagnóstico no livro de Levítico, capítulo 13, onde o sacerdote atua como um médico que examina o paciente e emite o atestado da doença.
O diagnóstico serve para não confundir esse tipo de lepra (Lv 13-14) com outras doenças de pele. Pois essa praga não é a mesma doença de Hansen (lepra moderna), nem é tinha (infecção fúngica), vitiligo, pústula, impingem (dermatofitose) ou furúnculos.
O caso de Jó, por exemplo, não foi essa praga, pois a expressão hebraica para lepra é (tsara ath). Em Jó aparece outra palavra: (shechiyn), que é traduzida como tumor ou furúnculos.
A lepra que estava sobre Naamã trata-se de uma praga (Dt 24.8,9), uma punição contra os rebeldes e a cura é uma graça de Deus (Lv 14.34; 2Cr 26.20). Não havia prescrição de medicação ou procedimentos de prevenção natural. Tanto a manifestação da praga como sua eliminação dependia totalmente da ação de Deus.
O pelo torna-se branco e a praga é mais profunda que a pele (Lv 13.3,20,25), o edema é branco-avermelhado (Lv 13.24,42), no cabelo e barba os pelos ficam finos e amarelados (Lv 13.30). Pode atingir também casas e roupas, nesse caso a praga fica vermelho-esverdeada (Lv 13.49; 14.37).
A praga floresce (Lv 13.12,25,42) ou “brilha” (2Cr 26.19) “zarach”, como ocorreu com o rei Uzias. A praga se propaga e espalha pela pele (Lv 13.5-8,22,27,36,51,57; 14.39,44,48). A carne viva é contaminada (Lv 13.14-15).
A praga era uma maldição (2Sm 3.29). As casas com lepra deveriam ser destruídas (Lv 14.33-53) as vestes deveriam ser queimadas (Lv 13.47-59) e as pessoas deveriam permanecer afastadas das outras durante todo o período em que estivesse com a praga (Lv 13:46).
O sacerdote que estivesse leproso não poderia comer das ofertas até que estivesse puro (Lv 22.4).
Várias pessoas na Bíblia que foram atingidas por essa lepra: Moisés teve a mão leprosa e restaurada como sinal de Deus (Êx 4.6-7). Miriã foi atingida pela sua rebeldia; ficou leprosa e foi recolhida por 7 dias (Nm 12.1-16). Naamã ficou leproso até se humilhar diante de Deus (2Rs 5.1-17). Nesse tempo, muitos leprosos em Israel não foram purificados, apenas Naamã (Lc 4.27). Geazi foi tomado pela lepra que estava sobre Naamã (2Rs 5.20-27). Pelas palavras de Jesus, podemos ver que Geazi não foi curado: Lc 4:27: “Havia também muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro.” Outra observação: Naamã não estava diante do rei em Israel (senão quebraria a Lei de Moisés), ele estava diante do rei dos filisteus, assim como Naamã ia até o rei da Síria. As nações vizinhas não tinham o mesmo critério de leis pois não eram orientadas pelo Senhor. O rei Uzias ficou leproso até morrer (2Rs 15.5; 2Cr 26.16-21). A Bíblia também fala sobre os 4 Leprosos de Samaria (2Rs 7.3-11). Um leproso é curado ao pedir Jesus (Mt 8.1-4; Mc 1.40-45; Lc 5.12-16). Jesus limpa e manda purificar os leprosos (Mt 10.8; 11.5; Lc 7.22). Os 10 Leprosos que Jesus purificou e só o estrangeiro voltou para agradecê-Lo (Lc 17.11-19)
A lepra é um símbolo de pecado e ilustra bem seus efeitos. O pecado não é superficial, ele aprofunda na alma e brota de dentro para fora (Mt 15.18-20; Mc 7.20-23). O pecado se alastra, contamina, isola, envergonha e dói muito. Além disso, o destino final do pecado é a destruição e o fogo do inferno.
Ao ouvir a voz da menina, Naamã foi procurar o profeta Eliseu, com uma grande comitiva e muitos presentes como uma espécie de pagamento pelo serviço a fim de impressionar o simples servo do Senhor, e tentar fazer com que isso lhe trouxesse algum favorecimento.
Mas o profeta nem atendeu a porta e apenas enviou seu servo (Geazi), para mandar um recado ao poderoso comandante do exército do rei da Síria que veio de tão longe para vê-lo!
Agora imagine a cena: um poderoso general que veio de tão longe, recebendo ordens pela boca de um simples servo do profeta!
Isso tudo fazia parte do “tratamento” de Naamã. Se ele fosse bem recebido como esperava e já estava acostumado, estaria inflando ainda mais seu ego. Mas, ao ser recepcionado dessa forma, sentiu-se desprezado e seu orgulho foi ferido. Isso tudo fazia parte do plano de Deus!
Entenda uma coisa: Deus não vai paparicar ninguém arrogante. Ele abate o soberbo (Jó 40:11-12).
Mas, aqui, o abatimento tinha o propósito de restauração e conversão!
Naamã queria que tudo ocorresse do seu jeito, pois estava acostumado a dar ordens!
Ele havia desprezado a terra de Israel zombando do rio Jordão; onde, mais tarde, o Senhor Jesus Cristo seria batizado por João Batista.
De acordo com o léxico de Strong, o nome do rio Jordão significa tanto “descendente” (G2446) como “aquele que desce” (H3383). Isso parece apontar para Cristo, o descendente de Davi e aquele que desceu do céu! De certo modo, ao negar mergulhar no rio Jordão, Naamã estava desprezando o descendente, aquele que desce. A cura só viria quando ele reconhecesse que esse era o único caminho!
Naamã, sabia que, além da coceira e constante dor, a morte se aproximava rápida e inevitavelmente!
O último recurso era aquele profeta, que não fez como ele queria. E agora, seu orgulho está ferido e ele está disposto a voltar para sua casa frustrado e revoltado. O orgulho é realmente uma doença muito grave na alma humana!
O que esse herói precisava entender é que, ele mesmo não estava no controle da situação e reconhecer que era apenas um miserável, fadado a morrer, vendo sua carne ser consumida pela doença!
Não seria do seu jeito, não seria “comprando” as bênçãos de Deus. Uma coisa precisava estar clara: ele dependia da graça de Deus!
A única exigência era Naamã humilhar-se e obedecer à voz de Deus. Simples assim...
A princípio ele tenta se esquivar; pois a carne falava muito alto: “Depois daquele profeta não te receber como você merece, ainda vai se humilhar obedecendo-o entrando nas águas desse rio?”.
Mas não haveria a cura sem primeiro tratar “a raiz” do problema: o orgulho, a descrença e arrogância.
Ao ouvir o conselho de seus servos ele então se humilha e decide obedecer à voz de Deus. “Então Naamã desceu e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua pele se tornou como a pele de uma criança, e ficou limpo.” (2Rs 5:14)
A lepra era apenas um problema superficial. A raiz do problema também foi tratada para dar frutos bons!
Ele não foi apenas curado da lepra, foi curado de seu pecado, seu orgulho foi afogado no rio Jordão e simbolicamente nasceu de novo; e isso fica tipificado em sua pele como de uma criança!
Naamã agora, reconhece o Deus de Israel como o único Deus verdadeiro e oferece uma grande oferta ao profeta Eliseu; que não a recebe. Já não há desprezo, ele valoriza tanto que levou uma carga da terra de Israel (2Rs 5:17).
Da mesma forma tem ocorrido com muitos obreiros, que ostentam seus títulos, diplomas e façanhas realizadas ao longo da vida; mas hoje, encontram-se contaminados pelo pecado!
Talvez Deus já os tenha dado grandes vitórias, mas isso ficou no passado, hoje é só história.
Ao invés de servos simples, obedientes e humildes, estamos rodeados de homens presunçosos, cegos espiritualmente, sem o temor de Deus e longe do primeiro amor têm se escondido por trás dessas estruturas institucionais, que funcionam como as “armaduras” de Naamã.
Muitos agem como ditadores, pois não tem amor, empatia e nem misericórdia. Se acham “donos” da igreja e se esquecem que todo pastor é uma ovelha do Senhor.
Diante dos púlpitos, sua voz soa altiva e forte, mas quem os conhece de perto sabe muito bem que estão escondendo sua lepra moral e espiritual por traz de uma “capa de santidade”.
Nas Escrituras, a lepra tipifica o pecado e o pecado é, de fato, um forte opositor ao fruto do Espírito. Ou você vigia, ou será gravemente ferido e, se não cuidar, pode ser atingido pela morte espiritual.
Muitas vezes a fama e/ou sucesso de suas obras tenham ocultado aos seus olhos que já não vivem a pureza e simplicidade do evangelho de Cristo. Justificam-se dizendo que precisaram se contaminar para supostamente “abrir portas para a palavra”. Palavra essa, já não tão genuína quanto no início da caminhada.
Mas assim como Deus usou uma simples serva para orientar Naamã a buscar o profeta (Eliseu significa: “Deus é Salvação”), espero servir como um servo ao seu favor te levando de volta aos pés de Cristo!
A “receita” ainda é a mesma: “humilhação e oração.” (2Cr 7:13,14).
“Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará.” (Tg 4:10)
“Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, os exalte.” (1 Pedro 5:6)
Bibliografia
STRONG, J. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.
Felipe Morais é servo temente ao Senhor e atua como pastor na Igreja Batista do Reino, Bacharel em Teologia, escritor (Os Segredos da PÁSCOA: e a Salvação do Povo de Deus | Perdão: assim como nós perdoamos), atua como professor no YouTube pelos canais Curso Bíblico Online e Devocional Bíblico Online.
* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: Mical: um exemplo a não ser seguido
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