Naamã: Herói de guerra; poderoso, porém leproso!

A lepra que estava sobre Naamã trata-se de uma praga (Dt 24.8,9), uma punição contra os rebeldes e a cura é uma graça de Deus.

Fonte: Guiame, Felipe MoraisAtualizado: quarta-feira, 21 de setembro de 2022 às 18:05
 (Captura de tela/YouTube/Casey Griffiths)
(Captura de tela/YouTube/Casey Griffiths)

Naamã era o comandante do exército da Síria e, abaixo do rei, ele era a pessoa mais importante seu país!

De fato, um grande homem, de muito conceito. Por ele, o próprio Deus deu vitória à Síria.

Tornou-se então um renomado herói de guerra...

Embora nada disso tivesse tanta importância, diante de seu estado de saúde muito debilitado.

De nada adianta o título de herói e as vestes de um guerreiro se, quando chegava em casa, ao despir-se de todo esse aparato, ficava evidente sua triste realidade: por fora, um “herói”, mas por dentro, um mísero “leproso” sendo comido pela doença que se alastrava a cada dia!

Ele conseguia vencer milhares de homens na guerra, mas estava perdendo a batalha contra a doença.

Talvez, suas vestes poderiam ocultar sua doença diante dos demais oficiais, mas quando chegava em casa, seus familiares e funcionários inevitavelmente teriam ciência de sua realidade.

A lepra

Para entender a gravidade da situação, precisamos ler o diagnóstico no livro de Levítico, capítulo 13, onde o sacerdote atua como um médico que examina o paciente e emite o atestado da doença.

O diagnóstico serve para não confundir esse tipo de lepra (Lv 13-14) com outras doenças de pele. Pois essa praga não é a mesma doença de Hansen (lepra moderna), nem é tinha (infecção fúngica), vitiligo, pústula, impingem (dermatofitose) ou furúnculos.

O caso de Jó, por exemplo, não foi essa praga, pois a expressão hebraica para lepra é (tsara ath). Em Jó aparece outra palavra: (shechiyn), que é traduzida como tumor ou furúnculos.

A lepra que estava sobre Naamã trata-se de uma praga (Dt 24.8,9), uma punição contra os rebeldes e a cura é uma graça de Deus (Lv 14.34; 2Cr 26.20). Não havia prescrição de medicação ou procedimentos de prevenção natural. Tanto a manifestação da praga como sua eliminação dependia totalmente da ação de Deus.

O pelo torna-se branco e a praga é mais profunda que a pele (Lv 13.3,20,25), o edema é branco-avermelhado (Lv 13.24,42), no cabelo e barba os pelos ficam finos e amarelados (Lv 13.30). Pode atingir também casas e roupas, nesse caso a praga fica vermelho-esverdeada (Lv 13.49; 14.37).

A praga floresce (Lv 13.12,25,42) ou “brilha” (2Cr 26.19) “zarach”, como ocorreu com o rei Uzias. A praga se propaga e espalha pela pele (Lv 13.5-8,22,27,36,51,57; 14.39,44,48). A carne viva é contaminada (Lv 13.14-15).

A praga era uma maldição (2Sm 3.29). As casas com lepra deveriam ser destruídas (Lv 14.33-53) as vestes deveriam ser queimadas (Lv 13.47-59) e as pessoas deveriam permanecer afastadas das outras durante todo o período em que estivesse com a praga (Lv 13:46).

O sacerdote que estivesse leproso não poderia comer das ofertas até que estivesse puro (Lv 22.4).

Várias pessoas na Bíblia que foram atingidas por essa lepra: Moisés teve a mão leprosa e restaurada como sinal de Deus (Êx 4.6-7). Miriã foi atingida pela sua rebeldia; ficou leprosa e foi recolhida por 7 dias (Nm 12.1-16). Naamã ficou leproso até se humilhar diante de Deus (2Rs 5.1-17). Nesse tempo, muitos leprosos em Israel não foram purificados, apenas Naamã (Lc 4.27). Geazi foi tomado pela lepra que estava sobre Naamã (2Rs 5.20-27). Pelas palavras de Jesus, podemos ver que Geazi não foi curado:  Lc 4:27: “Havia também muitos leprosos em Israel nos dias do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro.” Outra observação: Naamã não estava diante do rei em Israel (senão quebraria a Lei de Moisés), ele estava diante do rei dos filisteus, assim como Naamã ia até o rei da Síria. As nações vizinhas não tinham o mesmo critério de leis pois não eram orientadas pelo Senhor. O rei Uzias ficou leproso até morrer (2Rs 15.5; 2Cr 26.16-21). A Bíblia também fala sobre os 4 Leprosos de Samaria (2Rs 7.3-11). Um leproso é curado ao pedir Jesus (Mt 8.1-4; Mc 1.40-45; Lc 5.12-16). Jesus limpa e manda purificar os leprosos (Mt 10.8; 11.5; Lc 7.22). Os 10 Leprosos que Jesus purificou e só o estrangeiro voltou para agradecê-Lo (Lc 17.11-19)

A lepra é um símbolo de pecado e ilustra bem seus efeitos. O pecado não é superficial, ele aprofunda na alma e brota de dentro para fora (Mt 15.18-20; Mc 7.20-23). O pecado se alastra, contamina, isola, envergonha e dói muito. Além disso, o destino final do pecado é a destruição e o fogo do inferno.

A expectativa de Naamã

Ao ouvir a voz da menina, Naamã foi procurar o profeta Eliseu, com uma grande comitiva e muitos presentes como uma espécie de pagamento pelo serviço a fim de impressionar o simples servo do Senhor, e tentar fazer com que isso lhe trouxesse algum favorecimento.

Mas o profeta nem atendeu a porta e apenas enviou seu servo (Geazi), para mandar um recado ao poderoso comandante do exército do rei da Síria que veio de tão longe para vê-lo!

Agora imagine a cena: um poderoso general que veio de tão longe, recebendo ordens pela boca de um simples servo do profeta!

O Caminho para a restauração

Isso tudo fazia parte do “tratamento” de Naamã. Se ele fosse bem recebido como esperava e já estava acostumado, estaria inflando ainda mais seu ego. Mas, ao ser recepcionado dessa forma, sentiu-se desprezado e seu orgulho foi ferido. Isso tudo fazia parte do plano de Deus!

Entenda uma coisa: Deus não vai paparicar ninguém arrogante. Ele abate o soberbo (Jó 40:11-12).

Mas, aqui, o abatimento tinha o propósito de restauração e conversão!

Tem que ser como Deus quer!

Naamã queria que tudo ocorresse do seu jeito, pois estava acostumado a dar ordens!

Ele havia desprezado a terra de Israel zombando do rio Jordão; onde, mais tarde, o Senhor Jesus Cristo seria batizado por João Batista.

De acordo com o léxico de Strong, o nome do rio Jordão significa tanto “descendente” (G2446) como “aquele que desce” (H3383). Isso parece apontar para Cristo, o descendente de Davi e aquele que desceu do céu! De certo modo, ao negar mergulhar no rio Jordão, Naamã estava desprezando o descendente, aquele que desce. A cura só viria quando ele reconhecesse que esse era o único caminho!

Naamã, sabia que, além da coceira e constante dor, a morte se aproximava rápida e inevitavelmente!

O último recurso era aquele profeta, que não fez como ele queria. E agora, seu orgulho está ferido e ele está disposto a voltar para sua casa frustrado e revoltado. O orgulho é realmente uma doença muito grave na alma humana!

A raiz do problema

O que esse herói precisava entender é que, ele mesmo não estava no controle da situação e reconhecer que era apenas um miserável, fadado a morrer, vendo sua carne ser consumida pela doença!

Não seria do seu jeito, não seria “comprando” as bênçãos de Deus. Uma coisa precisava estar clara: ele dependia da graça de Deus!

A única exigência era Naamã humilhar-se e obedecer à voz de Deus. Simples assim...

A princípio ele tenta se esquivar; pois a carne falava muito alto: “Depois daquele profeta não te receber como você merece, ainda vai se humilhar obedecendo-o entrando nas águas desse rio?”.

Mas não haveria a cura sem primeiro tratar “a raiz” do problema: o orgulho, a descrença e arrogância.

A cura

Ao ouvir o conselho de seus servos ele então se humilha e decide obedecer à voz de Deus. “Então Naamã desceu e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua pele se tornou como a pele de uma criança, e ficou limpo.” (2Rs 5:14)

A lepra era apenas um problema superficial. A raiz do problema também foi tratada para dar frutos bons!

Ele não foi apenas curado da lepra, foi curado de seu pecado, seu orgulho foi afogado no rio Jordão e simbolicamente nasceu de novo; e isso fica tipificado em sua pele como de uma criança!

Naamã agora, reconhece o Deus de Israel como o único Deus verdadeiro e oferece uma grande oferta ao profeta Eliseu; que não a recebe. Já não há desprezo, ele valoriza tanto que levou uma carga da terra de Israel (2Rs 5:17).

Os Naamã’s atuais

Da mesma forma tem ocorrido com muitos obreiros, que ostentam seus títulos, diplomas e façanhas realizadas ao longo da vida; mas hoje, encontram-se contaminados pelo pecado!

Talvez Deus já os tenha dado grandes vitórias, mas isso ficou no passado, hoje é só história.

Ao invés de servos simples, obedientes  e humildes, estamos rodeados de homens presunçosos, cegos espiritualmente, sem o temor de Deus e longe do primeiro amor têm se escondido por trás dessas estruturas institucionais, que funcionam como as “armaduras” de Naamã.

Muitos agem como ditadores, pois não tem amor, empatia e nem misericórdia. Se acham “donos” da igreja e se esquecem que todo pastor é uma ovelha do Senhor.

Diante dos púlpitos, sua voz soa altiva e forte, mas quem os conhece de perto sabe muito bem que estão escondendo sua lepra moral e espiritual por traz de uma “capa de santidade”.

Nas Escrituras, a lepra tipifica o pecado e o pecado é, de fato, um forte opositor ao fruto do Espírito. Ou você vigia, ou será gravemente ferido e, se não cuidar, pode ser atingido pela morte espiritual.

Muitas vezes a fama e/ou sucesso de suas obras tenham ocultado aos seus olhos que já não vivem a pureza  e simplicidade do evangelho de Cristo. Justificam-se dizendo que precisaram se contaminar para supostamente “abrir portas para a palavra”. Palavra essa, já não tão genuína quanto no início da caminhada.

Mas assim como Deus usou uma simples serva para orientar Naamã a buscar o profeta (Eliseu significa: “Deus é Salvação”), espero servir como um servo ao seu favor te levando de volta aos pés de Cristo!

A “receita” ainda é a mesma: “humilhação e oração.” (2Cr 7:13,14).

“Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará.” (Tg 4:10)

“Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, os exalte.” (1 Pedro 5:6)

Bibliografia

STRONG, J. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.

 

Felipe Morais é servo temente ao Senhor e atua como pastor na Igreja Batista do Reino, Bacharel em Teologia, escritor (Os Segredos da PÁSCOA: e a Salvação do Povo de Deus | Perdão: assim como nós perdoamos), atua como professor no YouTube pelos canais Curso Bíblico Online e Devocional Bíblico Online.

* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Mical: um exemplo a não ser seguido

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