Tempos difíceis? Um chamado à esperança e fé!

O apóstolo Paulo adverte que nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis, trabalhosos.

Fonte: Guiame, Fernando MoreiraAtualizado: terça-feira, 1 de abril de 2025 às 17:37
(Foto: Pexels/Liza Summer)
(Foto: Pexels/Liza Summer)

Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus,  tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes (II Timóteo 3:1-5).

O apóstolo Paulo adverte que nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis, trabalhosos. A palavra "trabalhosos" ou "difíceis evoca uma sensação de crise moral, social e espiritual. Mas será que os tempos atuais são realmente mais difíceis que os do passado?

No texto original, Paulo usa a palavra grega chalepoi, que significa "perigosos", "ásperos" ou "difíceis de suportar". O termo aparece apenas duas vezes no Novo Testamento: em II Timóteo 3:1 e em Mateus 8:28, descrevendo dois homens "ferozes" possuídos por demônios. A ideia é de um ambiente hostil, marcado por conflitos éticos (morais) e espirituais.

No Antigo Testamento, a expressão hebraica Et Tzarah, traduzida como "tempo de angústia" ou "tempo de tribulação", aparece em textos como Daniel 12:1 e Salmos 37:39. A raiz tsarar remete a algo apertado, constrito, refletindo uma situação de pressão extrema. Essa linguagem é usada para descrever períodos de crise coletiva, como exílio ou perseguição.

No livro, Organize sua vida e cresça, falo sobre tempos de apertura, aperto, pressão incompreensível, que denota a falta de ar, desalento e desânimo. Por isto que Paulo faz um contraponto de esperança em II Coríntios 4:8-9, angustiado, mas não desesperados.  Um chamado ao posicionamento intencional para parar de sobreviver e voltar a viver.

O diabo vem para roubar, matar e destruir (João 10:10) a vida. O diabo é o pai da mentira, e parte do cansaço vem das mentiras ‘sussurradas’, diariamente, pelo diabo às mentes inquietas, que querem Deus, mas não querem abandonar as paixões mundanas, às inseguranças e resistência às mudanças. Conflitos de posicionamento geram cansaços invisíveis, que roubam a paz.

Algumas características dos "tempos difíceis"  

Dessensibilização sistemática (v. 1). Não se trata da técnica psicológica, mas do processo de desestruturação da família, do "eu" e do ser humano pelo egoísmo viralizado. A exposição contínua a valores individualistas corrói os laços afetivos e a integridade moral, transformando relações em transações.

Idolatria do prazer e do dinheiro (v. 2, 4). A ausência de limites na busca por gratificação imediata e riqueza gera uma espiral de vaidade, arrogância e opressão. Quando o hedonismo se torna norma, a dignidade humana é reduzida a uma commodity.

Egoísmo e desumanização (v. 2-3). Uma sociedade apática, indiferente ao próximo, é sintoma de uma patologia coletiva. O egoísmo surge da emancipação das ilusões acerca de si mesmo: a autossuficiência ilusória, a justiça própria e a carência narcisista que substituem a empatia por uma falsa grandiosidade.

Traição nas relações familiares (v. 3). Desrespeitar quem compartilha o próprio teto é um atentado à própria identidade. Quem não honra sua raiz familiar perde o lastro ético, tornando-se capaz de normalizar até a barbárie em nome de interesses individuais.

Religiosidade vazia (v. 5). Deus não se confina a rituais ou instituições. Religião verdadeira é religare: reconectar-se ao divino não por mérito próprio, mas pelo amor intencional. A espiritualidade doente inverte essa lógica, como se Deus precisasse de nós, e não nós d’Ele — um reducionismo que transforma fé em barganha.

Essas características ecoam em crises sociais modernas, como polarização política, consumismo desenfreado e crises de saúde mental, espiritual e físico. Uma família desestruturada, gera indivíduos tóxicos que envenenam à sociedade e todos os lugares em que os enfermos da alma, do espírito e da moral, estão. Salomão disse: O solitário busca o seu próprio interesse, e se levanta contra a verdadeira sabedoria (Provérbios 18:1).

Por que se acredita que os tempos estão mais difíceis?

Conflito de gerações: Uma pesquisa exclusiva do Infojobs, HR Tech, 66% dos profissionais da geração X sentem que os mais novos duvidam de seu profissionalismo.  76% dos profissionais da geração Y ou Z acreditam que a geração X possui resistência aos seus posicionamentos.

Mudanças climáticas: O relatório do IPCC (2023) alerta que eventos extremos (secas, inundações) aumentaram 50% nas últimas décadas. Todos notam que São Paulo não é mais a terra da garoa, e nem Belém se fala mais: depois da chuva ou antes da chuva? (quando se marcava algum compromisso).

Saúde mental: Um estudo da OMS (2022) revelou que mais de 1 bilhão de pessoas vivem com transtornos mentais, agravados por redes sociais e isolamento pós-pandemia.

Desigualdade: A Oxfam (2023) aponta que o 1% mais rico detém 45% da riqueza global, exacerbando tensões sociais.

Governos populistas, progressistas, com vieses ditatoriais: Em vários países, em todos os continentes, cada vez mais, líderes políticos emparelhando a justiça, órgãos públicos, privados e independentes para se manterem no poder e agirem como perdulários e inventores de males.

A inteligência artificial e as redes sociais, embora úteis, amplificam deepfakes, desinformação e vícios digitais, como mostra pesquisa da Nature (2023).

Desigrejados igrejados: No pós-pandemia uma geração de pessoas sem comprometimento com a igreja se revelou. Pessoas que ‘querem’ Deus, mas segundo suas próprias decisões de engajamento com a igreja. Elas definem o seu próprio culto a Deus. Definem seus roteiros de culto, daquilo que querem participar e daquilo que não querem, após isto, tiram fotos em festivais seculares, com copos de cerveja na mão ou cigarro etc., porque para elas sua vida cristã não afeta sua vida mundana. Porque a vida mundana não é mundana, mas a liberdade que Cristo deu. Liberdade que leva à carnalidade, não é liberdade, mas heresia.

Dias de egoístas e desafeiçoados

O "viés de negatividade", estudado pela APA (Associação Psicológica Americana), explica que humanos tendem a superestimar ameaças, interpretando o presente como pior que o passado.

Independente da geração desesperançada, temos que continuar, perseverar e resistir. Como Nachman de Breslov disse: Se você acredita que é possível destruir, acredite que é possível reconstruir. Ou ainda como Jonathan Sacks afirmou: A esperança não é otimismo ingênuo, mas a coragem de enfrentar a escuridão com fé.

Creio que ninguém é criado para o fracasso, mas a resiliência é fruto de mentes que perseveram, resistem e lutam. Sei que isto cansa, mas gera proporcionalmente, vida.

Como lidar com os tempos difíceis?

- Fé e resiliência espiritual: A Bíblia enfatiza a esperança em meio ao caos (Salmo 46:1). Incredulidade e fanatismo são os extemos das pessoas egoístas e arrogantes. Deus é Senhor do equilíbrio, organização e esforço! Esforça-te e Eu te ajudarei (Josué 1:9).

- Comunidade: Estudos da Universidade de Harvard (2021) mostram que redes de apoio reduzem mortalidade e depressão. Não se isole.

- Ação ética: Combater a indiferença, como propõe Paulo, praticando justiça e misericórdia (Miqueias 6:8). A indiferença é sinal de carnalidade e apostasia! Deus é amor, e todo aquele que ama, é nascido de Deus, e conhece a Deus (I João 4:7-8).

- Educação emocional: Técnicas de mindfulness e terapia cognitivo-comportamental são eficazes, segundo o Journal of Clinical Psychology (2022), mas não gera fé, não gera esperança. São paliativos, técnicas emotivas que auxiliam no bem-estar, mas não substituem a fé (Ora a fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus (diariamente) (Romanos 10:17).

- Engajamento crítico com a tecnologia: Limitar exposição a notícias tóxicas e priorizar fontes confiáveis. Excesso de consumo mental de ‘carnalidade digital’, em forma de piadas com duplo sentido, criticismo, preconceito, radicalismo, incredulidade e desconstrução da fé, geram esgotamento silencioso da fé.

Os tempos são difíceis, mas não necessariamente "piores". Cada geração enfrenta desafios únicos, e a percepção de crise muitas vezes reflete transformações sociais aceleradas. A mensagem de II Timóteo 3:1 não é um convite ao pessimismo, mas um chamado à perseverança, vigilância ética e à esperança ativa. Como o ensino diz: Não cabe a você completar a obra, mas tampouco és livre para desistir dela (Pirkei Avot 2:16).

O arrependimento, voltar-se para Deus, teshuva, é renovo, restauração e vida. Não há como vivermos esses tempos difíceis, sem nos voltarmos constantemente para o Criador. Enquanto alguns oram de cima para baixo, os verdadeiros adoradores, oram de baixo para cima, não exigindo, mas humilhando-se sob a poderosa mão de Deus, que ao seu tempo no exaltará (I Pedro 5:6).

O orgulho precede à queda (Provérbios 16:18) e o coração quebrantado e contrito, Deus não o despreza (Salmos 51:10).

Maranata, ora vem, Senhor Jesus!

 

Fernando Moreira (@prfernandomor) é pastor na Igreja Batista do Povo em Americana - SP. Bacharel em Ciência da Computação e Teologia. Mestrado em Ciência da Computação. Doutorado em Teologia e MBA em Vendas, Marketing e Geração de Valor. É membro da Academia de Letras, Artes e Cultura do Brasil. Mentor de alunos de MBA, executivo de tecnologia, mentor de carreiras executivas, conselheiro administrativo, palestrante, conferencista e autor de vários livros.

* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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