Os quatro Evangelhos narram a história do Messias em sua vida terrena e terminam da mesma forma: contando sobre sua ressurreição dentre os mortos e sua ascensão aos céus. A base do cristianismo é a ressurreição de Yeshua e, sem ela, não haveria Evangelho, nem corpo de Cristo e nem mesmo o próprio cristianismo. O mistério da ressurreição, não apenas de Yeshua, mas a ressurreição futura de todos os que morreram é algo do qual quase nada sabemos e, por isso, um enigma a ser revelado.
Há alguns casos de ressurreição bem conhecidos e documentados entre muitas pessoas, tanto em nosso tempo quanto em casos históricos. As Escrituras descrevem milagres de ressurreição realizados por Eliseu e, principalmente, por Yeshua. Entretanto, a ressurreição a que me refiro é especial e somente ocorreu até hoje com Yeshua. Todas as pessoas que ressuscitaram no passado voltaram a morrer, mas Yeshua ressuscitou e vive eternamente. A respeito desse tema, o apóstolo Paulo trata no capítulo 15 da primeira carta aos Romanos. Ele afirma que o Messias “ressurgiu dentre os mortos e foi feito as primícias dos que dormem” (v.20).
Esse capítulo é uma resposta à incredulidade de muitos coríntios convertidos que contestavam a ressurreição dos mortos. Paulo relembra o que pregou a eles no início, enfatizando a ressurreição de Yeshua, alegando que, se Ele não ressurgiu dentre os mortos, “logo, é vã a nossa pregação e também é vã a vossa fé” (v.14). Afirma que, após ressuscitar ao terceiro dia, o Senhor foi visto por todos os apóstolos e, em certa ocasião, por mais de quinhentos discípulos. Muitos ainda estavam vivos na época de Paulo e confirmariam esse testemunho a quem quer que duvidasse (v.3-6). Não teria nexo algum crer em um morto ou ser batizado em seu nome (v.29). Tampouco faria sentido se expor a perigos a toda hora, como ter lutado com feras, fato ocorrido com Paulo em Éfeso, se não houvesse ressurreição dos mortos (v.29-32).
Um corpo vivificado
A grande indagação que pairava sobre os incrédulos era: “Como ressurgirão os mortos? E com que corpo virão?” (v.35). Ao que Paulo responde: “convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade” (1Co 15:53). Paulo está se referindo exclusivamente ao tipo de ressurreição de Yeshua que, até então, é única, mas que terão todos aqueles que morreram (e morrerão) confiando e esperando nele. Ele foi feito primícias dos que dormem e todos os que nele estão adormecidos (eufemismo judaico para morte) também ressuscitarão para a vida eterna.
Jesus não ressuscitou dos mortos com a mesma fragilidade e corrupção do corpo humano como o conhecemos, sujeito a enfermidades, envelhecimento e morte. Seu novo corpo foi vivificado no Espírito na fração de segundo em que ocorreu o fenômeno que chamamos de ressurreição. Ele ressurgiu num corpo novo, inédito na criação, imune a doenças, a dores e capaz de viver eternamente. É um corpo que vive no domínio do espírito, mas que pode se materializar fisicamente em qualquer lugar a qualquer hora, que transcende o tempo e o espaço. Os Evangelhos relatam que Jesus se manifestou aos discípulos estando eles a portas fechadas, que permitiu que tocassem em seu corpo e suas chagas, bem como comeu com eles mais de uma vez, o que é surpreendente. Há muito ainda por saber sobre esse novo corpo ressurreto e isso compõe o mistério da ressurreição.
A pedra removida
A ressurreição experimentada por tantas pessoas ao longo da História, conforme relatada nas Escrituras e documentada em outros registros, inclusive relatos médicos, nunca deixou de ocorrer e consiste basicamente no retorno do espírito ao corpo do morto para ficar numa explicação bem simples, se é que se pode explicar um tema tão desconhecido e que desafia os limites da fé. Esse foi o tipo de ressurreição feita por Yeshua de seu amigo Lázaro.
A história é bem conhecida e consta do Evangelho de João. Esta se tornou o símbolo da ressurreição “normal”, ou seja, aquela em que a pessoa voltará a morrer um dia. Ao chegar diante do túmulo de seu amigo, Yeshua ordena que removam a pedra que fechava a gruta onde repousava o corpo de Lázaro. Aqui vemos os homens fazendo sua parte, movendo a pedra, e Deus fazendo a sua, devolvendo seu espírito ao corpo para que Lázaro pudesse sair.
O mistério da ressurreição de Yeshua envolve um cenário diferente. As mulheres vão até o sepulcro, após o Shabbat, a fim de cumprirem os ritos de sepultamento que faltavam. No caminho, surge uma preocupação e elas se perguntam: “Quem removerá para nós a pedra da entrada do sepulcro? Mas, quando foram verificar, viram que a pedra, que era muito grande, havia sido removida” (Mt. 16:3-4). Ao entrarem no sepulcro, deparam-se com um anjo com vestes brancas que lhes dá a maior boa nova de toda a história do universo: “Ele ressuscitou!” (Mc. 16:6).
Aqui, nenhum homem removeu a pedra do sepulcro. No caso de Lázaro, ela foi removida para que ele pudesse sair. Yeshua não precisava que a pedra fosse removida, pois seu corpo glorificado tem o poder de atravessar qualquer obstáculo, como fez ao aparecer no local onde estavam os discípulos. Foi Deus quem removeu a pedra do sepulcro, não para que seu Filho pudesse sair, mas para que as mulheres e todos nós que cremos pudéssemos entrar. Sim, para que entrássemos e soubéssemos que Ele está vivo, reina e é o Senhor!
“Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá” (João 11:25-26).
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.
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