A tradição do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, que neste ano é celebrado no dia 28 de novembro, remonta ao início do século XVII. Os colonos recém-chegados à Nova Inglaterra logo perceberam que seus suprimentos não durariam muito tempo e, como já era início de inverno, não havia tempo hábil para plantar e colher nos meses seguintes. No entanto, foram salvos por indígenas que os ensinaram a sobreviver durante os dias difíceis da estação, especialmente através da caça e da pesca.
Com a ajuda dos nativos, foram capazes também de iniciar plantio e efetuar uma farta colheita no outono seguinte, quando também já dominavam as técnicas de caça e pesca. Assim, decidiram celebrar o sucesso dessa colheita com um grande banquete, o que ficou conhecido como sendo o primeiro Dia de Ação de Graças na história do país. No lugar da fome, Deus lhes dera uma abundante colheita, o que trouxe grande regozijo aos colonos e pela qual agradeceram e bendisseram a Deus.
Esse é o motivo pelo qual cada lar dos Estados Unidos celebra o Dia de Ação de Graças com um banquete que reúne toda a família, no qual seus membros expressam verbalmente motivos de gratidão pelo que têm recebido. A celebração se dá sempre na quarta quinta-feira de novembro e a sexta-feira que se segue é conhecida como Black Friday. Esta passou a ser imitada mundialmente por motivos comerciais óbvios. No entanto, poucos sabem ou se dão conta de que, no dia anterior, uma nação inteira para a fim de celebrar e agradecer a Deus por suas bênçãos. Muito maior que qualquer promoção de Black Friday, isso tem o poder de atrair o favor de Deus sobre as famílias e sobre o país.
A oferta de paz
O ato de ação de graças tem sua origem na Torá. Dentre os sacrifícios apresentados a Deus, estava a oferta de paz (zebach shelamim) que era o tipo de oferta para expressar gratidão a Deus por sua bondade e misericórdia. A palavra shelamim está relacionada a shalom que significa paz. Essa categoria incluía a oferta de ação de graças (todah) e era obrigatória para sobreviventes de crises que ameaçassem a vida. Assim, por exemplo, alguém que tivesse sobrevivido a um incêndio ou naufrágio precisava apresentá-la ao Senhor. Essa mesma categoria também abrangia as ofertas voluntárias e as feitas em cumprimento de algum voto.
Ao serem livres da fome e da morte por subnutrição, os homens da colônia de Plymouth que, mais tarde, ficariam conhecidos por peregrinos, captaram o sentido exato dessa oferta. Eles foram movidos não por um sentimento religioso ou litúrgico. Por terem recebido um livramento de uma morte iminente, sentiram-se obrigados a apresentarem uma oferta por pura gratidão e alegria.
A oferta de ação de graças dos colonos se deu no grande banquete com a carne dos animais e peixes que aprenderam a caçar e pescar, e com o fruto da colheita abundante que recolheram. Assim foi consagrada a refeição do primeiro Dia de Ação de Graças, no outono de 1621, repartida entre todos os homens e suas famílias. Foi a forma de dizer Todah (obrigado) a Deus por sua bondade.
É notável ressaltar que, na Torá, esse era o único tipo de oferta da qual, além do sacerdote, toda a família do ofertante deveria comer, regozijando-se juntos, com gratidão diante de Deus. Essa oferta dos colonos se tornou um marco significativo de gratidão para a nação americana, atravessou quatro séculos e continua sendo oferecida a cada ano ao Senhor, quando cada família se reúne para celebrar o Dia de Ação de Graças com alegria e um coração grato pela bondade e misericórdia divinas.
Lembrando dos seus benefícios
Davi inicia o Salmo 103 louvando a Deus com estas palavras: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor: tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum dos seus benefícios”. Como é possível manter um coração grato que possa bendizer ao nome do Senhor continuamente? A resposta vem na sequência: sem se esquecer de nenhum dos seus benefícios.
E como se lembrar de todos os seus benefícios? Parece uma tarefa impossível, mas é uma ordenança. No entanto, se tivermos o hábito diário de agradecer, essa tarefa se torna não apenas possível, mas algo prazeroso que nos aproximará do Doador de tudo. Devemos lembrar, em todo tempo, o bem que dele temos recebido. A gratidão — seja pelas dádivas grandes, seja pelas pequenas — precisa estar arraigada em nosso âmago, verbalizada em nossa língua com louvores e ocupando nossos pensamentos diante de todas as situações que vivenciamos. Se agirmos assim, não esqueceremos de “nenhum dos seus benefícios”.
O livramento da morte e as bênçãos de uma colheita abundante encheram o coração e a boca dos peregrinos de Plymouth que jamais se esqueceram desse benefício do alto em suas vidas, passando adiante sua memória a todas as gerações de americanos. A oferta de ação de graças é algo que agrada profundamente a Deus e ativa seu favor. Que o Dia de Ação de Graças instaurado pelos peregrinos nos sirva de inspiração diária para oferecer a Deus um coração plenamente grato por todos os seus benefícios.
“Em tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1Ts. 5:18).
Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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