Getúlio Cidade

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Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog de mesmo nome onde publica estudos bíblicos com ênfase na história, língua e cultura judaicas relacionadas ao cristianismo.

Teshuvá — um chamado ao arrependimento

Muitos cristãos gentios conhecem ou já ouviram falar nessas festas que se estendem até após a metade do mês de Tishrei e apontam para a segunda vinda do Messias.

Fonte: Guiame, Getúlio CidadeAtualizado: quarta-feira, 3 de setembro de 2025 às 17:35
(Foto: Unsplash/Megs Harrison)
(Foto: Unsplash/Megs Harrison)

No dia 25 de agosto, iniciou-se o mês de Elul — último do calendário civil de Israel. Ele precede as Festas do Outono que se iniciam no primeiro dia do ano novo, em Rosh HaShanah. Muitos cristãos gentios conhecem ou já ouviram falar nessas festas que se estendem até após a metade do mês de Tishrei e apontam para a segunda vinda do Messias.

Elul é o mês conhecido pela Teshuvá — um tempo de quebrantamento e humilhação diante de Deus. A cada manhã, o shofar é tocado bem cedo, como uma forma de chamar as pessoas ao arrependimento. Esse instrumento, feito pelo chifre de carneiro e tão característico nas celebrações de Rosh HaShanah, representa a voz de Deus nas Escrituras. Seu toque é um lembrete de que precisamos nos arrepender, fazer Teshuvá — o caminho de volta para Deus — mediante confissão de pecados e correção dos passos.

As orações feitas todas as manhãs de Elul, conhecidas como selichot, têm a totalidade de seu conteúdo na confissão de pecados, especificando-os um a um, sempre finalizadas com pedido de perdão. Isso requer, antes de tudo, que se peça perdão às pessoas ofendidas, aquelas a quem, intencionalmente ou não, causamos algum dano, seja ele de ordem material, moral ou emocional.

Reconciliação com o próximo

Na verdade, antes de se fazerem as selichot, deve-se buscar a parte ofendida e pedir seu perdão, bem como a reparação do dano causado. A tradição judaica ensina que, somente após acertar o relacionamento com a pessoa a quem devemos pedido de perdão e reparação, podemos buscar nosso relacionamento com Deus. Logo, somente deve-se pedir perdão a Deus após termos pedido perdão e restituirmos a quem ofendemos de algum modo.

Esse processo está perfeitamente alinhado com o que Yeshua e seus discípulos ensinaram. Em Mateus 5:23-26, o Senhor afirma que oferta alguma deve ser trazida ao altar sem que haja reconciliação com o irmão. Isso envolve qualquer tipo de oferta, seja material, financeira ou mesmo oferta de ações de graças.

Yeshua ensina que, se não conseguimos nos relacionar com o próximo, seremos incapazes de nos relacionar com Deus. Nessa mesma linha, João (Yochanan), o discípulo amado, afirma: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (1Jo.4:20).

Um estilo de vida

Teshuvá pode ser traduzido como arrependimento, retorno, volta. Sua raiz aparece mais de mil vezes apenas na Bíblia hebraica. Um dos versos mais conhecidos está em Oséias 6:1, quando o profeta exorta: “Vinde, voltemos para o Senhor!” (façamos Teshuvá). Essa palavra aparece em Jeremias mais de cem vezes, mais do que em qualquer outro livro, pois foi o principal profeta que admoestou o povo de Israel a fazer Teshuvá antes que viesse o juízo que culminou com o exílio babilônico. Infelizmente, ninguém lhe deu ouvidos.

Teshuvá percorre todas as Escrituras em hebraico, desde Gênesis, e flui naturalmente para o Novo Testamento, aparecendo nas primeiras palavras registradas de João, o Batista, em Mateus 3:2: “Arrependei-vos, pois está próximo o Reino dos céus”. Aqui, Teshuvá aparece em sua forma grega — metanoeo. São essas também as primeiras palavras de Yeshua ao iniciar seu ministério (Mateus 4:17).

Teshuvá é o alicerce básico para se estabelecer o Reino dos céus. É a preparação para as duas vindas do Messias. Tanto João quanto Yeshua pregaram Teshuvá ao longo de seus ministérios. Ambos ensinaram que Teshuvá vai além da temporada de Elul, mas deve ser adotado pelos discípulos como um estilo de vida.

Preparando o caminho

Esse processo de arrependimento, confissão e pedido de perdão marca a temporada de Teshuvá e profeticamente aponta para o encontro de Israel com o Messias, o que ocorrerá em algum período futuro das Festas do Outono, quando o remanescente de Judá se encontrar “entre os estreitos”, sob grande perseguição que os fará se voltar para Yeshua como único Salvador de seu povo. A volta do Messias passa necessariamente pela restauração (conversão) de Israel.

É exatamente isso que significa Teshuvá — volta, conversão, retorno de onde se desviou. Israel se volta para o Senhor e o Senhor volta (literalmente) para Israel a fim de pôr seu Trono em Jerusalém. Para cada cristão enxertado na Oliveira Natural, a Teshuvá deve ser exercitada todos os dias, em todo tempo, pois o arrependimento, confissão e purificação da Noiva do Cordeiro é o que preparará o caminho de sua volta, como o fez João Batista antes da primeira vinda de Yeshua. Essa é a essência de Teshuvá e dos dias proféticos do mês de Elul.

Para saber mais, acesse https://www.aoliveiranatural.com.br/2021/08/28/teshuva-tempo-de-arrependimento/

 

Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor de A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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