Em virtude de seu deslize moral e do sofrimento atroz que sentiu em virtude de ter escondido esse pecado, ao destampar as câmaras de horror de seu coração, reconheceu que não poderia, por si mesmo, possuir um coração puro. Então, roga a Deus para realizar esse prodígio nele e por ele. O texto enseja-nos cinco lições.
Em primeiro lugar, o nosso coração é inclinado para a impureza. Nossa conversão não erradicou nossa natureza adâmica. Ainda temos um coração inclinado para o mal. Ainda temos dentro de nós uma fábrica de ídolos. Nosso coração é um laboratório de impureza. O mal que não queremos fazer, fazemo-lo, porque nosso coração desesperadamente corrupto nos arrasta para esses desejos e práticas. Nossa carne ainda milita contra o Espírito. Somos uma guerra civil ambulante. Somos um ser um conflito. Somos arrastados em direções opostas. As paixões carnais ainda fazem guerra contra nossa alma.
Em segundo lugar, o nosso coração é mestre de enganos. Nosso coração é assaz enganador. Ludibria-nos com seus ardis. Cobre-se com mantos de piedade, enquanto navega nas águas turvas da impureza. Veste-se de justiça, enquanto alimenta-se de vaidade. Faz propaganda de santidade, enquanto encobre a transgressão. Oh, nosso coração não é confiável! Não pode ser plenamente conhecido nem mesmo sondado. É desesperadamente corrupto a ponto de nenhum homem, por mais robusto que seja seu conhecimento, poder discernir seus intentos.
Em terceiro lugar, o nosso coração não consegue purificar a si mesmo. Não somos apenas impuros, mas também impotentes. Não conseguimos limpar a nós mesmos. Não temos dimensão total de nossa impureza nem conseguimos tirar todas as manchas que enfeiam nosso caráter. Nas palavras do profeta Jeremias, somos como um leopardo que não consegue apagar suas manchas ou como um etíope que não poder mudar a cor de sua pele. Não podemos salvar a nós mesmos nem santificar-nos. Nossa incapacidade é total. Nossos desejos não são suficientemente fortes para erguermos da impureza escorados no bordão da vontade própria.
Em quarto lugar, o nosso coração não pode ser apenas reformado. A pureza não é alcançada apenas com uma reforma do nosso velho coração. Não teremos um coração puro apenas fazendo alguns arranjos morais em nossa vida. Passar verniz em madeira podre não é uma atitude sensata. Nossa velha estrutura está completamente contaminada e precisa vir abaixo. É preciso jogar tudo por terra. A demolição e não uma reforma é o começo de uma nova vida. Primeiro é preciso morrer para o pecado para depois vivermos para Deus. A nova vida em Cristo é nada menos que uma ressurreição. É preciso nascer de novo. É necessário ser nova criatura.
Em quinto lugar, o nosso coração precisa de uma mudança sobrenatural. Davi orou a Deus pedindo um novo coração. Ele pediu: “Cria em mim, ó Deus, um coração novo”. Só Deus pode fazer esse milagre. Não é obra humana. Não se alcança esse novo coração através de ritos religiosos. Essa é uma obra soberana e exclusiva de Deus. O que não podemos fazer, entretanto, ele faz. Cabe-nos reconhecer nossa impotência e clamarmos por sua intervenção sobrenatural. Somente ele pode tirar de nós o coração de pedra, e dar-nos um coração de carne. Somente ele pode tirar de nós um coração cheio de justiça própria e dar-nos um coração humilde e quebrantado. Somente ele pode tirar de nós um coração inclinado para a impureza e dar-nos um coração que se deleita nas coisas lá do alto, onde Cristo vive. Que este grito ainda seja ouvido hoje: “Cria em mim, ó Deus, um coração novo”.
Por Hernandes Dias Lopes - pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil e diretor executivo da Editora Luz para o Caminho.
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