"Desventurado homem que sou!..." (Rm 7.24).
Não é uma questão de retórica não; de fato, eu sou o meu maior problema. Sou uma pessoa mais complicada do que aquelas que estão ao meu redor podem perceber. Sou a fonte dos meus maiores dissabores e poucas vezes de minhas mais saborosas alegrias. Elencarei aqui algumas razões porque eu sou o meu maior problema.
Em primeiro lugar, porque embora salvo da condenação do pecado, ainda cometo terríveis transgressões. Inobstante ter sido regenerado, ainda tenho um coração inclinado ao mal. Meu coração cogita o que não é santo, meus olhos veem o que não é puro e minhas mãos fazem o que não é reto. Minha língua, às vezes, murmura em vez de adorar a Deus. Meus lábios se abrem para falar mal daqueles que foram criados à imagem e semelhança de Deus, em vez de abençoá-los com palavras de sabedoria. Meus pés, são inclinados a se desviarem em vez de andarem em retas veredas. Oh, desventurado homem que sou!
Em segundo lugar, porque tenho a tendência de enxergar um cisco nos olhos do meu irmão e não ver uma tábua encravada nos meus próprios olhos. Sou complacente com os meus erros e implacável com as falhas do meu próximo. Vejo as mínimas deficiências nos outros e não consigo diagnosticar pecados gritantes em mim mesmo. Sou exigente com os outros e muito tolerante comigo. Sou inflexível quando se trata de cobrar dos outros, mas extremamente complacente comigo mesmo. Condeno nos outros o que não tenho coragem confrontar no meu próprio coração. Muitas vezes, afivelo no rosto uma grossa máscara de piedade, quando o que desfila garbosamente na feira das vaidades é uma deslavada hipocrisia. Oh, desventurado homem que sou!
Em terceiro lugar, porque faço promessas a Deus e ao próximo acerca daquilo que não tenho a disposição de cumprir. Como sou pródigo em minhas promessas a Deus! Digo a ele que o amo, mas entristeço-o com meus pecados. Prometo a ele sincera amizade, mas não faço o que ele manda. Estadeio a ele minha inegociável fidelidade, mas troco-o, com frequência, por um prato raso de prazeres efêmeros. Faço estudos profundos sobre oração, mas meus joelhos não se dobram em deleitosa adoração. Ergo minha voz e digo para todos que sou um embaixador, mas me calo covardemente tantas vezes, deixando de anunciar as boas novas do evangelho aos que perecem em seus pecados. Reconheço que sou apenas mordomo e não o dono do que está em minhas mãos, mas nem sequer entrego a ele, com fidelidade, os dízimos e as ofertas. Oh, desventurado homem que sou!
Em quarto lugar, porque minha vida nem sempre é avalista de minhas palavras. Minhas palavras são mais bonitas do que minhas obras. Sou como a figueira cheia de folhas, mas desprovida de frutos. Toco trombeta quando dou um esmola, mas faço-o para que as pessoas vejam quão generoso eu sou. Gosto de ser reconhecido pelos homens e deles receber aplausos mais do que agradar a Deus, que tudo vê em secreto. Escoa dos meus lábios torrentes de palavras bonitas, para impressionar as pessoas que só veem minha aparência, mas escondo no coração cogitações perversas que fariam afastar de mim os meus mais achegados amigos. Oh, desventurado homem que sou!
Em quinto lugar, porque sou um ser contraditório que acabo fazendo o que detesto e deixando de fazer o que aprovo. Meu coração é enganoso e desesperadamente corrupto. É um laboratório que produz, em larga escala, o que traz desonra para Deus e ofensa para o próximo. Sou um ser a tal ponto paradoxal, que o bem que eu quero fazer, não faço e o mal, que não quero, esse pratico. Meus lábios na mesma medida que adoram a Deus com cânticos espirituais no templo, ferem os irmãos como palavras grosseiras no pátio da igreja. Alteio minha voz para dizer que sou um pacificador, mas muitas vezes, acabo semeando contendas entre os irmãos, o pecado que Deus mais abomina. Oh, desventurado homem que sou! Minha esperança não está em quem sou nem no que faço, mas na graça daquele que tudo fez por mim, morrendo na cruz em meu lugar, para me dar a vida eterna!
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