E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14).
Atanásio, o campeão da ortodoxia, no primeiro concílio geral da igreja, em Nicéia, em 325 d.C., afirmou, com razão, que a encarnação do Verbo é o maior mistério do Cristianismo. Estou inclinado a crer que ele tem razão e, isso, pelas seguintes razões:
Em primeiro lugar, na encarnação o transcendente tornou-se imanente. “E o Verbo se fez carne…”. O Verbo que se fez carne é eterno, pessoal, divino, autoexistente, imenso, infinito, eterno, imutável, onipotente, onipresente, onisciente, transcendente. Ele é maior do que o universo. Nem o céu dos céus pode contê-lo. Entrementes, ele esvaziou-se a si mesmo, a ponto de tornar-se um zigoto, um embrião, um feto, um bebê, que nasceu de uma virgem, foi enfaixado e colocado num coxo de animal, uma manjedoura. Aquele bebê é o Deus Todo-poderoso, criador e sustentador do universo. Grande mistério, sublime mistério!
Em segundo lugar, na encarnação o eterno entrou no tempo. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós…”. O Verbo eterno, que pre-existe ao princípio, à criação, sendo ele mesmo o criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, entrou no tempo, nasceu em Belém, cresceu na Nazaré, morou em Cafarnaum, morreu e ressuscitou em Jerusalém, retornou para o céu e voltará em glória para julgar vivos e mortos.
Em terceiro lugar, na encarnação o absolutamente santo tabernaculou-se entre pecadores. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade…”. O Verbo divino, sendo o totalmente outro, apartado de todo pecado, puríssimo em seu ser, sendo Deus de Deus, luz de luz, coigual, coeterno e consubstancial com o Pai, vestiu pele humana, calçou as sandálias da humildade, pisou o nosso chão, comeu o nosso pão, bebeu a nossa água, chorou a nossa lágrima, sentiu a nossa dor, carregou sobre o corpo, no madeiro, os nossos pecados, morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação. Ele é o Deus Emanuel, o Deus conosco, o Deus entre nós, o Deus em nós. Apanhou-nos sujos, depravados, condenados, mortos em nossos delitos e pecados e nos deu vida e nos fez assentar com ele nas regiões celestes, acima de todo principado e potestade.
Em quarto lugar, na encarnação o Deus que habita em luz inacessível revelou-se a nós. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”. O Verbo sendo Deus, e habitando em luz inacessível, encarnou-se, para revelar-nos Deus. Ele é verdadeiramente Deus e verdadeiramente Homem. Não deixou de ser Deus ao encarnar-se nem deixou de ser Homem ao retornar para o céu como Deus. Ele é a exata expressão do ser de Deus. Ele é o resplendor da glória. Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. Ele tem os mesmos atributos de Deus e a realiza as mesmas obras de Deus. Ele e o Pai são um. Quem vê Jesus, o Verbo, vê ao próprio Deus. Eis o grande mistério da encarnação!
Hernandes Dias Lopes é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil e diretor executivo da Editora Luz para o Caminho.
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guia
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