Homens não são ratos

Homens não são ratos

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:08

 

Dia desses ouvi alguém falando sobre ladrões. Foi numa dessas conversas cheias de animosidade entre comerciantes experientes. Eu apenas ouvia calada o compartilhamento de informações e sentimentos que havia ali – um deles havia sido roubado, enquanto o outro o instruía acerca dos cuidados que se deve ter.
 
Em meio àquela atmosfera de tensão, ficaram marcadas na minha memória apenas duas coisas: o sentimento de revolta expressado por eles, e uma frase que um dos dois proferiu: Quando o dono da casa sai, os ratos tomam conta.
 
Aquela frase me fez pensar. Eu já havia ouvido muitas analogias entre ladrões e ratos, mas pela primeira vez na vida eu realmente pensei com seriedade sobre o assunto.
 
ratoÉ que ratos não jogam limpo – eles se escondem pela casa e sorrateiramente passeiam quando não há ninguém por perto. Assaltam nossos armários sem nenhum pudor, consomem aquilo que não é deles, levam uma parte, destroem outra e depois se escondem novamente, esperando a próxima oportunidade. Nem sempre eles deixam rastros, embora fique sempre uma sensação de que há algo errado, só não se sabe o quê. Difícil coisa é pegá-los, tamanha a sua astúcia.
 
Pois bem, fiquei assombrada com tamanha semelhança de atitude entre um e outro: o rato – mamífero roedor irracional desprovido de faculdades mentais evoluídas, que não fala, não faz continha de matemática, nem planos para o futuro – e o ladrão – ser humano, essencialmente espiritual, dotado de racionalidade e livre arbítrio.
 
Depois de notar tão espantosa similaridade, peguei-me meditando sobre essa coisa de analogia entre homem e animal, e me vieram várias delas à memória:
 
“Ele é um cachorro!”, diz a namorada quando quer mostrar que o amado não tem escrúpulos e é infiel;
 
“Aquela menina é uma galinha”, diz alguém acerca da moça que se enamora com certa dose de volubilidade;
 
“Fulano é um cavalo”, para mostrar que o tal é bruto demais;
 
E por aí vai…
 
Percebi, curiosamente, que esse hábito de comparar homem com animal é comum, mas traz uma lição profunda sobre a condição humana – a de que se formos dominados por nossos instintos, e não por nossos PRINCÍPIOS, nos comportaremos sempre como animais.
 
Vemos os ratos vivendo escondidos em lugares obscuros, conformando-se com as sobras e as sombras. Flagramos os cachorros correndo atrás de cadelas no cio e acasalando em plena avenida sem nenhum constrangimento. As galinhas não se sentem nem um pouco desvalorizadas por dividirem o mesmo galo. E o cavalo não hesita em ferir com um coice aquele que lhe incomoda.
 
Pois é, os animais são totalmente instintivos, logo, eles não pensam e escolhem como vão agir e reagir, apenas seguem seus impulsos e consumam seus desejos. Esse negócio de escolha é privilégio da raça humana, e foi ideia do próprio Deus para as nossas vidas.
 
Acontece que não fomos criados para sermos como animais, mas para nos diferirmos deles. Recebemos algo superior – a própria natureza de Deus – e ele espera que andemos a altura dela.
 
O problema é que a gente aprende na escola que o homem é um “animal racional”, e cresce acreditando nesta meia verdade. Sim, claro, verdade pela metade, porque comparar o homem a um animal é rebaixá-lo da categoria estabelecida pelo próprio criador, afinal, não foi ele mesmo quem disse “façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”? (Gn 1.26)
 
Deus não é animal. É bem verdade que a parte natural do ser humano – o seu corpo – é sim “animal”, mas você não é o seu corpo, você é muito mais do que isso, ele é apenas uma parte de você.
 
Eu sei também que tem muita gente dizendo por aí que você é lindo porque foi criado à imagem do Pai, mas devemos considerar que tal semelhança não poderia ser carnal, pois bem sabemos que Deus é espírito (João 4.4), e como Jesus falou certa vez, “um espírito não tem carne e ossos” (Lc 24.39), logo, a similaridade entre Deus e o homem é invisível, espiritual, e se refere ao fato do homem ser um indivíduo com vontade, pensamentos e emoções, assim como aquele que o gerou.
 
Em suma, a parte de você que se parece com Deus não são seus belos olhos, mas o seu eu verdadeiro – o seu espírito. “Sigam seus instintos”, aconselham-nos os mestres cientistas. Porém, porque vamos viver baseados em instintos primitivos se fomos dotados de inteligência e capacidade de controlar os nossos impulsos para viver uma vida inteligente? Não há razão nisso…
 
Ora, seguir os instintos significaria viver uma vida totalmente sem ética e moral, completamente sem pé nem cabeça, baseada apenas nos desejos da carne. É viver uma vida perfeitamente animal. A Bíblia diz, contudo, que os que estão na carne não podem agradar a Deus, justamente porque estão vivendo uma vida animal, dirigida pelos instintos e desejos da carne, quando o plano de Deus era que tivessem uma vida conforme a natureza divina que há dentro deles – com domínio próprio, bom senso, respeito, pudor, e por que não dizer, equilíbrio?
 
Honestamente, depois de analisar bem tive imensa misericórdia dos “ratos” que há por aí. Pensei nos “cachorros”, nas “galinhas” e nos “cavalos” que conheço, e no “zoológico” que é este mundo, e tive profunda compaixão. Tudo porque minha inevitável conclusão foi a de que os homens vivem como animais simplesmente porque não sabem quem são de fato: filhos do Deus altíssimo – o próprio idealizador do universo.
 
Eu não quero parecer com ratos ou quaisquer seres irracionais, quero ser a imagem do MEU PAI…E quer saber? Mais inevitável ainda foi concluir que os que ousam viver uma vida espiritual são aqueles que entenderam que o comportamento animal não é digno de alguém que descende de uma raiz tão nobre.
 
Ei, você é filho de Deus, pareça-se com ELE!
 
 
por Luciana Honorata
 

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