A Ilusão da Revolução

A Ilusão da Revolução

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:07
O país está fervendo e não se fala em outra coisa além da suposta revolução que se iniciou por causa dos benditos vinte centavos do aumento da passagem de ônibus. Tá! "Não foi por causa dos vinte centavos", ok, esse foi o estopim de um povo indignado pela corrupção e descaso dos governantes que têm abusado do poder que lhes foi atribuído democraticamente. Em outras palavras, o povo "cansou", e agora quer revolucionar a ordem do país para que o progresso de fato aconteça.

Sair às ruas, levantar cartazes, organizar manifestações nas redes sociais, murmurar online e protestar em praça pública, portanto, tornou-se o novo hit do momento, e depois de ver inúmeros cristãos aderindo aos "movimentos revolucionários", decidi abordar a questão da maneira mais bíblica que a luz que eu tenho da Palavra me permita.

Particularmente, considero tudo isso uma imensa ilusão, e já pretendo explicar o porquê. Não estou falando a respeito da busca por um país melhor, ou de se "lutar" para fazer valer os direitos do povo pois, de fato, são legítimos e devem ser requeridos. Falo, contudo, dos meios que estão sendo usados para se atingir os fins, isto é, estou me referindo a todos esses protestos repletos de vandalismo e desrespeito ao próximo. 

Definitivamente, isso não pode ser certo, e ainda que digam que apenas uma minoria aja assim, isso não é verdade! O ajuntamento das massas tem propiciado o saqueamento de estabelecimentos comerciais e a depredação de repartições públicas Brasil afora, o que já passou de absurdo. 

Além disso, protestos desse tipo são de pouco efeito, e vão resultar em algumas melhorias imediatas e superficiais, mas não vão mudar o "sistema" do nosso país. 

A verdade é que depois de um tempo de calmaria pós-revolução, os desfalques nos cofres públicos vão continuar a acontecer, exatamente do mesmo modo como depois do impeachment de Collor , quando diferentes corruptos assumiram o poder e desviaram o dinheiro público de outros modos menos traumáticos e cara-de-pau que o confisco de cadernetas de poupança, embora não tenham deixado de fazê-lo. É o famigerado e inevitável efeito "mosca na sopa" do Raul Seixas - "se você mata uma, vem outra no seu lugar..."

Revolucionar, nos termos atuais, infelizmente tem sido confundido com "intimidar pela bestialidade da violência", seja ela literal, verbal ou moral; só que gritos e badernas simplesmente não mudam o governo, porque não mudam AS PESSOAS.

Jesus sabia disso muito bem, e é precisamente por essa razão que eu não consigo imaginá-lo no meio de uma multidão dessas, levantando cartazes e dizendo que "o povo não é besta não" e "o gigante acordou". Não, ele não faria algo assim, deixe-me enfatizar. Ele também não desenharia memes ridicularizando César, não faria piadas ou trocadilhos com a sua imagem, não o desrespeitaria como pessoa ou como autoridade. Ele nos ensinou a respeitarmos os líderes, a despeito dos seus disparates, pois estes prestarão contas ao Supremo Juiz um dia.

O Cristo que a Bíblia apresenta era um revolucionário genuíno, mas não usava a força, o grito ou a afronta. Além do mais, seus métodos eram inteligentes e pacíficos, e cuidavam DA RAIZ DOS PROBLEMAS, não das suas folhas ou frutos. 

Jesus sabia que a corrupção não é um mal dos tempos modernos, mas que desde o infortúnio da traição de Adão, ela está mais presente neste mundo do que gostaríamos: especificamente nos corações dos homens. Em suma, se não mudarem os corações, nada será mudado, ou muito pouco.

Nos tempos de Jesus, por exemplo, já havia desigualdade social, tirania e abuso de poder. Também havia cobrança exorbitante e indevida de tributos, injustiça e opressão. Provavelmente tudo em maior escala do que no nosso tempo, já que vivemos em um estado democrático e ele era cidadão de uma nação dominada pelo Império Romano.

Prova disso é que Zaqueu, "fiscal da Receita Federal" da época, ao encontrar-se com Jesus, prometeu-lhe restituir a todos que havia defraudado até aquele dia, em dobro. Noutra passagem, em conversa com Pedro, Jesus admitiu ser injusta a cobrança do tributo das didracmas aos cidadãos nativos (apenas os estrangeiros deviam pagar aquele imposto), mas mandou Pedro ir buscar o dinheiro para pagar mesmo assim, a fim de que ninguém fosse escandalizado. (Mt 17)

O Jesus bíblico JAMAIS reivindicou direitos do Estado, pode ler na sua Bíblia - não há uma reclamaçãozinha sequer, absolutamente! E olhe que ele tinha consciência política, não era um alienado. Sabia muito bem dos esquemas dos "mensalões" da época, conhecia suas manobras e artimanhas. Tinha também ciência do quanto o povo, por quem ele mais tarde morreria, sofria nas mãos dos tubarões, mas sabia que o mal tinha que ser arrancado pela raiz.

Olhando um pouco mais de perto a situação político-social em que ele vivia, é mesmo estarrecedor que ele não tenha se indignado e feito motim contra o governo de sua era. É realmente contra a lógica deste mundo, e de uma sabedoria impressionante, o fato dele nunca ter movido uma palha em relação a isso.

O povo bem que quis, vale a pena ressaltar. Os "revolucionários" da época, certa vez, quiseram elegê-lo rei (por certo eram os "cara-pintada" daquele tempo). Lembrando eles das profecias que prometiam paz sem fim para o povo de Israel, no governo que seria estabelecido pelo Messias esperado (Is 9.7), ao presenciarem o milagre da multiplicação dos pães e deduzirem (com razão) que Jesus era o "profeta que havia de vir ao mundo" (Jo 6.14-15), equivocada e carnalmente concluíram que este seria um governo TERRENO e uma paz CIVIL. Como sabemos (ou deveríamos saber), não se tratava disso.

A questão é que o povo judeu perdeu a bênção da redenção porque estava esperando um Messias político e não um espiritual. "Ele veio para o que era seu [Israel], mas os seus não o receberam..." (Jo 1.11). Eles rejeitaram Jesus também porque tiveram suas expectativas frustradas, já que esperavam que um Messias que liderasse uma revolução que expulsasse os romanos e os livrasse da tirania herodiana. Daí Jesus só falava em amor, perdão e tolerância, e o povo queria protesto, manifestação e revolução... Deu no que deu. 

Mas Cristo não veio ao mundo para governar uma pátria e estabelecer uma ordem exterior, superficial e efêmera. Ele não queria ser rei do Estado Israelita e não aspirava sentar num trono literal, pelo simples fato de saber que esse tipo de governo não poderia trazer a paz que a humanidade precisa. Ele estava determinado a ser Rei e Senhor absoluto da vida de cada ser humano.

A verdade irrefutável é que a raiz da corrupção tem que ser arrancada dos corações dos homens, e nenhum protesto pode realizar essa obra em quem quer que seja. O único impeachment que dá ordem ao caos da nossa existência é o de satanás. O único manifesto que liberta verdadeiramente o homem, é o de rendição a Deus e submissão ao senhorio de Cristo.

Lamentavelmente, enquanto houver gente sem o governo espiritual do Rei Jesus, haverá desordem e corrupção, e tantos quantos forem destituídos dos seus cargos serão substituídos por outros igualmente pervertidos, ou que se deixarão adulterar pelo sistema.

Não estou dizendo, de nenhum modo, que nada vai ser obtido como lucro das manifestações. Alguma coisa vai mudar, sim. Algumas poucas. De fato, as tarifas do transporte público já foram baixadas, e como decorrência dos protestos nas ruas, algumas leis provavelmente serão revistas ou implantadas. Outras transformações também poderão acontecer, mas não radicais, não suficientemente consistentes e, com certeza, não satisfatórias.

Seguramente, até que Jesus volte para estabelecer o seu governo e cumprir a Palavra que diz "tragada foi a morte pela vitória" (1 Co 15.54), a corrupção não cessará, e toda revolução que não aconteça de dentro para fora, portanto, será apenas uma grande ilusão. 

É por isso que, como Igreja de Cristo e representantes do governo celestial, o melhor que podemos (e devemos) fazer, é exatamente o que Jesus nos ensinou: orar pelos governantes do nosso país, para que tenhamos uma vida tranquila e sossegada na medida do possível (1Tm 2.1-2), e anunciar o evangelho do Reino INCORRUPTÍVEL e eterno, que fará com que a paz que está dentro dos nossos corações se dissemine, e transcenda todas as fronteiras geográficas e ideológicas.

Aqueles que não têm considerado essa alternativa suficientemente eficaz, certamente desconhecem o poder que há na oração do justo e no evangelho da salvação.

"Pois, embora vivamos como homens, não lutamos segundo os padrões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas, mas são poderosas em Deus para destruir fortalezas" (2 Coríntios 10.3-4)

VIVA A REVOLUÇÃO! [A verdadeira, não a ilusória.]
 
- Luciana Honorata

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