A Herança dos Santificados - Parte 4

A Herança dos Santificados - Parte 4

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:55

É MELHOR NÃO PECARMOS DO QUE SERMOS RESTAURADOS DEPOIS

Aos quinze anos de idade, eu ouvi uma história que, apesar de muito simples (eu poderia dizer que foi uma ilustração bem infantil), me abriu os olhos para algo muitíssimo importante. Eu estava conversando com um pastor sobre as lutas contra o pecado que o adolescente tem que travar, e, em algum momento, eu comentei como era confortante a ideia de que servimos a um Deus perdoador. Apesar de eu estar falando uma verdade bíblica inquestionável, eu creio que eu deixei transparecer um entendimento equivocado sobre como devemos nos relacionar com a questão do pecado e sobre como podemos usufruir do perdão de Deus, pois, imediatamente, aquele pastor passou a narrar a seguinte história:

“Havia um garoto cheio de energia, hiperativo, que a mãe mal conseguia controlar. Depois de inúmeras tentativas frustrantes de corrigir e disciplinar o menino, a mãe resolveu mexer em algo que se destacava como uma característica singular da criança: o seu lado narcisista. Ela havia presenteado o filho com uma foto dele, a qual foi ampliada e colocada como um pôster enorme em seu próprio quarto. O rapazinho amava aquele quadro e quase adorava a si mesmo. Assim sendo, a sua mãe, decidida a fazê-lo repensar a sua rebeldia, ameaçou-o, dizendo que, a partir daquele momento, ela pregaria uma taxinha no pôster do menino a cada ato de desobediência dele. Num certo dia, o menino entrou em seu quarto e surpreendeu-se por quase não conseguir enxergar o seu próprio rosto no pôster, tamanha a quantidade de taxinhas fincadas no quadro! O choque causado pela cena o ajudou a perceber o quanto ele vinha errando e magoando a sua própria mãe. Sinceramente arrependido, o garoto pediu perdão por ter falhado tanto e disse o quanto ele gostaria de agir de forma diferente, o que fez com que a sua mãe não apenas o perdoasse, mas também removesse todas aquelas taxinhas! Contudo, enfatizou o narrador, o quadro ficou cheio de furinhos!”

Moral da história: os nossos erros, ainda que perdoados, deixam consequências! Eu entendi imediatamente que, apesar de saber que eu servia a um Deus que perdoa os meus pecados, eu não podia “brincar” de pecar, para pedir perdão depois! É melhor não pecarmos do que sermos restaurados depois, pois o perdão divino restaura a nossa comunhão com o Senhor, mas não anula as consequências que se manifestarão depois! A Palavra de Deus é muito clara com relação a isso! Vejamos esse princípio revelado em três exemplos bíblicos de pessoas que pecaram e colheram as consequências, até mesmo depois que foram perdoadas!

Primeiramente, observemos o exemplo da geração de israelitas que saiu do Egito. Quando eles se recusaram a crer que herdariam a Terra Prometida, o Senhor Se irou contra eles, a ponto de querer destruí-los (Nm 14.11,12). Mas Moisés intercedeu por eles, suplicando o perdão divino, e foi ouvido em sua oração (Nm 14.13-20). Deus perdoou o pecado deles, mas, juntamente com o perdão, o Senhor anunciou qual seria a consequência do pecado deles (ainda que já perdoado):

“O Senhor respondeu: Eu o perdoei, conforme você pediu. No entanto, juro pela glória do Senhor que enche toda a terra, que nenhum dos que viram a minha glória e os sinas miraculosos que realizei no Egito e no deserto, e me puseram à prova e me desobedeceram dez vezes – nenhum deles chegará a ver a terra que prometi com juramento a seus antepassados. Ninguém que me tratou com desprezo a verá.”  (Números 14.20-23 – NVI)

Também encontramos nas Escrituras o exemplo de Davi, o qual, ainda que perdoado pelo pecado cometido, ouviu do Senhor uma sentença de julgamento. Isto é evidente na palavra profética recebida depois do pecado de adultério com Bate-Seba e do homicídio de Urias:

“Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o que era mal perante ele? A Urias, o heteu, feriste à espada; e a sua mulher tomaste por mulher, depois de o matar com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o Senhor: Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei isto perante todo o Israel e perante o sol.”  (2 Samuel 12.9-14)

Ainda que Deus houvesse declarado o perdão a Davi e que ele estava livre da morte (o que a Lei de Moisés exigia neste caso, o que, para mim, é uma “janela da graça” se abrindo ainda no tempo da Lei), as consequências foram claramente anunciadas. O rei-salmista foi avisado de que a espada jamais se apartaria da sua casa, e ele provou a dor de ver um filho matando o outro. A vida de Davi (bem como de sua família) tornou-se uma grande confusão depois deste ocorrido, e, na rebelião de Absalão, a profecia teve o seu cumprimento final, quando as concubinas do rei Davi foram tomadas pelo seu filho e humilhadas à vista de todo o Israel!

Todo pecado, mesmo que perdoado por Deus, deixa consequências! Sempre haverá uma colheita das coisas que plantamos! O perdão divino remove a culpa, mas as consequências – ainda que aplacadas pela misericórdia divina – hão de se manifestar!

Outro exemplo claro desta verdade (de que os pecados perdoados deixam consequências) pode ser visto na vida de Paulo, o qual, antes da sua conversão, perseguiu a Igreja de Jesus Cristo como poucos fizeram (At 8.3; 1 Co 15.9). Sabemos que, ao encontrar-se com Jesus, Paulo foi perdoado de todos os seus pecados. No entanto, assim que se converteu, uma das primeiras palavras proféticas que ele recebeu do Senhor foi: “Eu lhe mostrarei o quanto importa sofrer pelo meu nome” (At 9.16).

Vale ressaltarmos que as consequências dos nossos pecados, obviamente, são determinadas pela gravidade do que praticamos. Nem todo pecado cometido por um ministro significará a sua remoção do seu ministério. O que o Senhor Jesus declarou ao mensageiro da Igreja de Éfeso foi o seguinte: “Arrepende-te... se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas” (Ap 2.5). A remoção do ministério somente ocorre se não houver arrependimento. Contudo, alguns pecados que cometemos, até mesmo depois de terem sido perdoados por Deus, podem reduzir a nossa herança ministerial e o nível de conquistas e de bênçãos que poderíamos desfrutar!

Vemos nas Escrituras Sagradas o exemplo de Moisés e Arão, os quais, depois de pecarem contra o Senhor, não puderam entrar na Terra Prometida. Os dois irmãos foram instruídos por Deus a falarem à rocha, a qual, por sua vez, jorraria água. No entanto, ao invés de falarem à rocha, eles acabaram ferindo-a. Logo depois do ocorrido, a sentença divina foi determinada:

“Mas o Senhor disse a Moisés e a Arão: Visto que não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso, não fareis entrar este povo na terra que lhe dei. São estas as águas de Meribá, porque os filhos de Israel contenderam com o Senhor; e o Senhor se santificou neles.”  (Números 20.12,13)

Logo depois de o Altíssimo determinar a consequência do pecado de Moisés e Arão, que era o fato de eles não poderem entrar em Cana㠖 a Terra da Promessa – Ele também determinou que Arão fosse imediatamente “recolhido”. A morte do sumo sacerdote foi antecipada por causa deste pecado nas águas de Meribá:

“Então, partiram de Cades; e os filhos de Israel, toda a congregação, foram ao monte Hor. Disse o Senhor a Moisés e a Arão no monte Hor, nos confins da terra de Edom: Arão será recolhido a seu povo, porque não entrará na terra que dei aos filhos de Israel, pois fostes rebeldes à minha palavra, nas águas de Meribá.”  (Números 20.22-24)

Depois de Arão, foi a vez de Moisés morrer sem entrar na Terra Prometida. E, novamente, o Senhor recordou o motivo pelo qual isto aconteceria – o pecado cometido nas águas de Meribá:

“Depois, disse o Senhor a Moisés: Sobe a este monte Abarim e vê a terra que dei aos filhos de Israel. E, tendo-a visto, serás recolhido também ao teu povo, assim como o foi teu irmão Arão; porquanto, no deserto de Zim, na contenda da congregação, fostes rebeldes ao meu mandado de me santificar nas águas diante dos seus olhos. São estas as águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim.”  (Números 27.12-14)

Moisés chegou a orar, pedindo que Deus o deixasse entrar em Canaã, mas a sua herança foi diminuída no tocante a isto, e nada mais pôde ser feito. A nossa herança ministerial pode ser diminuída quando pecamos! Isto é um fato!

Iniciamos este estudo falando do contraste entre os filhos de Zadoque (que se conservaram fiéis ao Senhor) e os demais levitas (que se corromperam, servindo aos ídolos) e como a herança – natural – das terras ao redor do Templo foram dadas para se honrar aos sacerdotes santificados. Concluiremos agora, observando que um outro aspecto da herança – o espiritual – é determinado por essa mesma postura nossa de compromisso com Deus (ou não)!

Observe que os demais sacerdotes que pecaram foram como que “rebaixados” à função de meros levitas, sem poderem exercer todo o seu ofício ou tampouco desfrutar de todos os seus direitos sacerdotais:

“Os levitas, que tanto se distanciaram de mim quando Israel se desviou e que vaguearam para longe de mim, indo atrás de seus ídolos, sofrerão as consequências de sua iniquidade. Poderão servir no meu santuário como encarregados das portas do templo e também farão o serviço nele; poderão matar os animais dos holocaustos e outros sacrifícios em lugar do povo e colocar-se diante do povo e servi-lo. Mas, porque os serviram na presença de seus ídolos e fizeram a nação de Israel cair em pecado, jurei de mão erguida que eles sofrerão as consequências de sua iniquidade. Palavra do Soberano, o Senhor. Não se aproximarão para me servir como sacerdotes, nem se aproximarão de nenhuma das minhas coisas sagradas e das minhas ofertas santíssimas; carregarão a vergonha de suas práticas repugnantes. Contudo, eu os encarregarei dos deveres do templo e de todo trabalho que nele deve ser feito.”  (Ezequiel 44.10-14 – NVI)

Por outro lado, os filhos de Zadoque, a linhagem chamada pelo Senhor de “casa firme”, pelo fato de que permaneceram fiéis (quando ninguém mais o fez), tiveram não apenas os seus direitos e funções preservados, mas também receberam a promessa de que desfrutariam da presença de Deus como ninguém mais:

“Mas, os sacerdotes levitas e descendentes de Zadoque e que fielmente executaram os deveres do meu santuário quando os israelitas se desviaram de mim, se aproximarão para ministrar diante de mim; eles estarão diante de mim para oferecer sacrifícios de gordura e sangue. Palavra do Soberano, o Senhor. Só eles entrarão em meu santuário e se aproximarão da minha mesa para ministrar diante de mim e realizar o meu serviço.”  (Ezequiel 44.15,16 – NVI)

CONCLUSÃO

O entendimento destas verdades deve produzir temor em nossos corações e fazer com que haja em nós uma resposta mais intensa de consagração a Deus! Se a nossa herança – tanto na dimensão natural (Ez 48.10-14) como na dimensão espiritual (Ez 44.15,16) – é determinada pela nossa santificação, então devemos aprofundar o nosso compromisso com o Senhor! Esta é a única forma pela qual poderemos desfrutar da herança dos santificados! Você está decidido a desfrutá-la?

Luciano P. Subirá   É o responsável pelo Orvalho.Com - um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa. Escritor de livros como ''De Todo o Coração'' e ''Honrando ao Senhor com Nossos Bens'', ministra palestras, abordando temas como finanças, adoração e casamento.  

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