A Chave dos Mistérios

A Chave dos Mistérios

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:29

F austo, o personagem central do grande poema de Goethe, num desabafo que denota profunda exaustão existencial exclama:

"E studei ardentemente tanta filosofia, direito e medicina e infelizmente muita Teologia (...) e chego ao fim de tudo ignorante de tudo!"

D epois de tantos estudos, geralmente a conclusão a que o sábio chega é que nada sabe. O acúmulo de conhecimento, ainda que útil em vários aspectos, não é suficiente para saciar aquela estranha fome que devora a alma humana. O conhecimento, por si, pode alvoroçar a alma do homem, torná-lo arrogante, irrequieto e até destrutivo.

O poema de Goethe parece ser, a princípio, uma paródia do livro bíblico de Jó. Como no grande clássico bíblico, Mefistófeles, o diabo, numa espécie de disputa com o Senhor, põe-se a infernizar a vida do já angustiado Fausto. O desenrolar dos fatos, entretanto, toma um rumo bem diferente daquele observado na narrativa da vida de Jó.

O personagem de Goethe interage com o anjo caído por toda a estória e flerta com o diabo como se este fora totalmente inofensivo. Diferentemente do personagem bíblico, que é apresentado de início como um homem bem-sucedido, vivendo uma vida próspera e pacata, o Fausto de Goethe é, de saída, encontrado numa profunda crise, como que envolvido por um turbilhão inescapável de conflitos e experimentando tédio insuportável.

M uito letrado, Fausto deparou-se com o desencanto na rota para o suicídio:

"Eu acreditava ser a imagem de Deus, muito incerto,

Ser o espelho fiel da vera eternidade!

(...) Mas um tufão me mostrou o que sou na verdade.

A pós adquirir tanto conhecimento, Fausto se viu aturdido, confuso, sem resposta para a aguda crise interna, a crise da auto-imagem. Quem sou? O que sou? Ter respostas parciais para essas questões não resolve. Um imenso acervo de conhecimento desse mundo e dos mecanismos que o movem não é suficiente e não provê garantia de libertação dos cárceres da angústia. Fausto experimentou o desencanto mesmo depois de acumular tanto saber dessa natureza.

E m conversa com o pretenso Wagner que ansiava saber tudo diz:

"Será o pergaminho essa fonte sagrada que a nossa sede de saber eterno acalma?

Alívio não acharás nessa dura empreitada se a fonte não jorrar dentro da própria alma."

C onhecer o mundo ao nosso redor é importante. Saber seus segredos é estimulante. Aprender, aprender, aprender deveria ser o lema da criatura humana, posto que a vida é curta e a arte é longa! Mas a angústia será certa se nos limitarmos à curiosidade concernente ao mundo da matéria.

O Sábio Salomão já há três mil anos havia chegado a essa conclusão dizendo que "quem aumenta ciência aumenta enfado" . A ciência não tem todas as respostas. Para piorar a inquietação nas almas dos inquiridores, como já se disse em algum lugar, quando o homem acha que encontrou a resposta, Deus muda a pergunta!

K ant foi possivelmente quem melhor percebeu a charada e concluiu que a razão, ainda que importante, não seria suficiente como muro de arrimo para conter o peso insustentável das questões que pressionam, demandando respostas que o intelecto não pode dar. O conhecimento científico, empírico explica o mundo em parte. Muito embora seja de grande valia obter o conhecimento, esse tipo de informação não nos proverá com as respostas para questionamentos de outra ordem.

K ant opõe-se ao racionalismo iluminista que sustentava que a razão humana seria perfeitamente capaz de decifrar os enigmas do mundo natural, de nós mesmos e do próprio Deus. Para ele, as incansáveis investigações do labor científico não conduzirão o homem a lugar algum além do campo imediato dos fenômenos. O conhecimento que a ciência pode proporcionar descreverá o fenômeno, mas não penetrará naquilo que ele chamava de "a-coisa-em-si" .

E xiste algo para além do fenômeno, há uma outra esfera para além daquilo que se pode ver, tocar, mensurar. Lá reside a-coisa-em-si . Assim, ainda que o conhecimento intelectual seja absolutamente importante para responder às demandas da mente racional e por conseqüência emprestar certo sentido ao mundo que nos cerca, esse conhecimento apenas jamais poderá responder aos anseios da vacuidade espiritual que todos, sem exceção, experimentam.

A Inteligência do Evangelho  arranca o homem do seu estado de perplexidade diante do absurdo e apresenta-lhe Jesus, a chave hermenêutica que decodifica o enigma e proporciona a possibilidade de suspirar aliviado por fim e poder dizer: "Ah! agora estou entendendo!"

Trecho do Livro "A INTELIGENCIA DO EVANGELHO", de Luiz Leite, lançado pela Editora Naós.

Luiz C. Leite é pastor, psicanalista, administrador de empresas, conferencista e escritor. Autor de "O poder do foco", editora Memorial; e "A inteligência do Evangelho", editora Naós; além de vários títulos por publicar.

Confira o blog do escritor: http://luizvcc.wordpress.com/

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