Freud e Religião

Freud e Religião

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:29

S igmund Freud, ateu e materialista, tentou explicar o fenômeno da religião, afirmando com sua teoria que o Deus concebido pelo homem não passa de projeções do seu próprio inconsciente. Como teorias não são leis, não é possível fechar questão a respeito do assunto, ainda que tenhamos que concordar com algumas das conclusões dos estudos do gênio austríaco no campo das religiões.

N egar a espiritualidade intrínseca ao ser humano e resumir a experiência de milhões a simples manifestações de uma psique adoecida, é no mínimo uma atitude pretensiosa demais, ainda que Freud tenha sido um homem reconhecidamente comedido. O fato é que essa arrogância do homem moderno em desprezar o mythos , em detrimento do logos , tem ocasionado um esvaziamento existencial que já vai se tornando caro demais.

O homem pré-moderno, em sua concepção mítica e mística do mundo, não entendia muito acerca do universo ao seu redor, mas conseguia encontrar, em sua simplicidade, um sentido para a vida. O homem moderno, através do logos , de cunho, ora racional ora cientificista, até consegue explicar muitas coisas ao seu redor, mas por outro lado precisa da ajuda de remédios (ou veneno) para dormir, pois não consegue mais fazer sentido da existência.

A criatura humana transcende o seu próprio mundo; o seu mundo não pode contê-la. O homem é, definitivamente, maior do que o seu mundo. Daí a agonia existencial que experimenta. Há uma constante sensação de limitação que o cerceia e estas muralhas invisíveis o angustiam profundamente. A esfera natural concreta capturada pelos sentidos naturais, bem como todos os prazeres sensuais experimentados pelo corpo não podem satisfazê-lo por muito tempo. Há sempre uma intrigante sensação de que está faltando alguma coisa.

E ste ser intrigante definitivamente não se resume a um corpo material privilegiado, uma unidade de carbono complexa que alcançou grau sofisticado de avanço na escala evolutiva. Não. O homem transcende, transborda o seu próprio copo. A incrível conclusão a que se pode chegar é que nem mesmo o cosmo, tão imenso e aparentemente insondável, poderia jamais preencher os anseios da alma humana. Se um dia o homem puder explorar os confins do universo e alcançar as galáxias mais longínquas, lá chegando, a mesma velha sensação de vazio o acometerá. Uma impressão dramática de certa descontinuidade, de se perceber incompleto, acompanhará o homem por onde quer que ele vá em sua experiência temporal. Se não lhe apresentarem um deus prémoldado, acabará fabricando deuses para si!

Luiz C. Leite é pastor, psicanalista, administrador de empresas, conferencista e escritor. Autor de "O poder do foco", editora Memorial; e "A inteligência do Evangelho", editora Naós; além de vários títulos por publicar.

Confira o blog do escritor: http://luizvcc.wordpress.com/

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