Na boca de quem?

Na boca de quem?

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:28

Acabo de ler um artigo de Arnaldo Jabor falando sobre as dezenas de artigos na internet que são escritos em nome dele. Lá ele destila toda a sua ira e declara que nunca terá um Twitter, mesmo já tendo um com milhares de seguidores, inclusive eu.

O que me chama a atenção no artigo dele é que ele odeia os textos e acha uma imbecilidade, mas que as pessoas o param na rua para elogiar, e mesmo ele negando o texto, as pessoas não acreditam e falam que é modéstia dele.

Lembro-me do meu pai contando quando ele compôs a sua primeira canção. Ele tinha muito medo de mostrar para os companheiros do JV, pois sabia que iriam ridicularizar. Foi quando teve a ideia de não falar de quem era a musica, e ensinou no acampamento como se tivesse sido a tradução de algum conjunto de fora. A musica "Eu quero andar" foi muito cantada na década de setenta. Quando ele teve coragem de falar que eles podiam gravar, pois tinha sido ele quem tinha composto os amigos não acreditaram. Pois a música era muito boa para ter sido feita por alguém que não era um compositor profissional.

Em uma era da personificação, do endeusamento dos líderes, da teofania nos apóstolos, o conteúdo não importa tanto, o que vale é: Isso foi dito na boca de quem?

Não importa se a música ou se a tradução é um lixo, foi a banda da Austrália ou outro lugar que a compôs. Não importa se o que ele fala é claramente uma jogada capitalista para ganhar dinheiro, ele é um homem de Deus.

Recordo-me um bom tempo atrás, de ir jantar com um conhecido que é apóstolos na igreja dele. Eu falava que estava incomodado com as mensagens de um certo evangelista estava fazendo na TV, pois a sua mensagem tinha mudado muito o conteúdo. Ele vira para mim e fala: "Você deveria ter vergonha Marcos, enquanto estamos comendo esta pizza ele provavelmente está trabalhando para levantar sustento para falar na TV no horário nobre".

Mais uma vez, não importa o conteúdo, e sim a personalidade, o esforço de chegar lá. Se o que o cara fala é verdade, mas é um "Zé ninguém" ele está com ciúmes, ou querendo aparecer. O pior que as vezes é mesmo. Mas se o cara já tem um destaque, foi todo mundo que não o entendeu, mas ele está certo.

Nestas comunidades do Orkut de pastores de destaque, estou em uma ou duas de mestres que admiro. Estes dias em uma delas começou um tópico se o pastor tinha falado tal coisa ou não no púlpito. Começaram os ataques e defesas dos seguidores nervosos. Em uma briga que parecia que só tinha duas opções: ou ele falou tal afirmação e não presta mais, ou entenderam errado o que ele tinha dito e ele continua perfeito. A possibilidade de ele ter errado no que ele falou, mas vou continuar ouvindo, pois sei que ele tem conteúdo tirando este erro nunca foi cogitada.

O meu maior medo é que esse pensamento tem criado na nossa juventude. Pois hoje o jovem não gasta o seu tempo em buscar conteúdo no que vai falar ou o que vai escrever, porque não importa. Ele vai procurar prestigio e fama, porque se eles as tiverem não importa o que ele vai falar, tudo será aceito.

Vejo isso nos blogs e nas charges, se brincamos ou até criticamos um personagem bíblico ninguém reage, mas se fazemos o mesmo com o líder das igrejas, chove de emails e recados dos súditos indignados por tocarmos nos seus ungidos.

A personificação dos ministérios está criando uma geração acrítica, idólatra e imbecil!

Marcos Botelho é pós-graduado em Teologia Urbana, Missionário do Jovens da Verdade, SEPAL. Professor da FLAM - Faculdade Latino Americana de Missões e responsável pelo Terra dos Palhaços Brasil

www.marcosbotelho.com.br

www.jvnaestrada.com

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