Nosso ego sempre vai ter público nas redes sociais

Não importa o conteúdo do textão, nem a ética ou a moral deles. Não importa se há erros de português ou palavras em latim. Todos têm seu público garantido.

Fonte: Guiame, Marcos BotelhoAtualizado: segunda-feira, 27 de novembro de 2017 às 15:11
Ego. (Foto: Fatos Morina)
Ego. (Foto: Fatos Morina)

Depois de ler um “textão” nas redes sociais, tenho a terrível mania de dar uma olhada nos comentários. É uma mistura de pesquisa social, auto-tortura e um lembrete forçado da total deturpação do ser humano. Esses comentários contêm muito lixo, bestialidade, ódio; mas também, de forma mais rara, algumas pérolas, bom senso e até voz profética.

Há alguns dias estava lendo um desses textões nonsense, no qual o autor claramente se achava o messias do mundo, destilando veneno e ódio para todo os lados. Como sempre, fui me torturar nos comentários. Percebi que lá encontrava o mesmo que nos meus “textões”: alguns aplausos, o “muito obrigado por esse texto”, o cara que xinga a mãe, a menina do “Não jugueis”, o cara que comenta sem nem ter lido e até a hashtag de algum possível candidato em 2018.

Na hora eu buguei. Travei. Não entendia como um texto tão diferente dos meus podia gerar comentários tão parecidos. Fui olhar outros textões na rede… Vi o de um jornalista a favor da Lava Jato e um contra, os de uns 3 candidatos a presidente em 2018, os de pastores reformados e pentecostais, o de uma adolescente Youtuber e também da trinca de filósofos pops do Brasil. Foi quando percebi que todos aqueles comentários que eu sempre vejo nos meus textos estavam lá também. Não importava o conteúdo do textão, nem a ética ou a moral deles. Não importava se havia erros de português ou palavras em latim. Todos têm seu público garantido com os comentários “padrão” citados acima.

O famoso algoritmo das redes sociais garante a cada textão – escrito por um gênio ou uma pessoa normal – o público para curtir e comentar. Cada ego será alimentado nas redes sociais e, assim, se perpetuarão as plataformas cibernéticas que fizerem esse algoritmo de forma mais precisa e alienada nos nichos.

Não estou dizendo que temos que sair das redes sociais, que não devemos ler mais os tais “textões” ou nos transformar em detetives dos egos. É impossível saber se esse texto que você está lendo agora pode ser puro fruto do meu ego e, ao mesmo tempo, útil a algum leitor. Meu alerta é apenas para estarmos atentos à armadilha de só ler os textões que nos agradam, sempre das mesmas pessoas e fontes. Acredito que tem muita mensagem útil para ser lida na internet. Que sejamos sagazes o suficiente para não nos tornarmos apenas fruto de um algoritmo que nos aliena.. E só “migrarmos” de massa de manobra da TV para as plataformas digitais.

 

*O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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