Sem partido político e sem denominação

Sem partido político e sem denominação

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:08

 

apartidários
 
Estes dias li que pela primeira vez desde 1988, o número de brasileiros que se declara apartidário superou o de pessoas que afirmam ter preferência por alguma legenda política. Levantamento feito pelo Ibope, para o jornal O Estado de S. Paulo, mostra que, no final de 2012, 56% das pessoas diziam não ter nenhuma preferência partidária, contra 44% que apontavam preferência por alguma legenda.
 
Você poderia logo afirmar que isso está ocorrendo por causa dos escândalos políticos dos últimos tempos. Pode até ser, em parte, por isso. Mas acredito que nessa geração emergente está surgindo um pensamento que vai muito além de abandono de uma legenda partidária.
 
Vejo cada vez mais um desapego das instituições organizadas e um apego ao que chamo de causas primárias.
 
A cidade ganha importância, a união perde; o time de futebol ganha, a seleção perde; o ensino informal cresce, o ensino formal cai; o ministério de uma igreja ganha importância, a denominação perde.
 
Assim também cresce a cada dia o número de jovens e adultos desapegados as denominações protestantes.
 
Já faz alguns anos, mas lembro de ver, na minha infância, a rincha entre presbiterianos e batistas aparecer forte em meio a brincadeiras que ouvia entre os amigos do meu pai.
 
Me lembro que se você fosse pedir transferência de uma denominação para outra era o maior problema, minha esposa foi excluída do rol de membros da sua igreja por ter ido para uma igreja presbiteriana.
 
O batismo era feito no dia da ceia, para que o batizado tomasse pela primeira vez a ceia que era exclusiva dos membros ativos da igreja local.
 
Mas algo mudou, e não estou dizendo que mudou pra melhor ou pior. Apenas mudou.
 
Vejo pessoas frequentando por 3 anos uma igreja e nem passa pela cabeça virar membro, chegam afalar claramente: “Pra que essa burocracia? Eu tomo ceia e participo dos ministérios e isso basta.”
 
Conheço pessoas que no domingo de manhã vão numa igreja, a noite em outra de outra denominação e durante a semana ajudam o pastor da TV de uma outra denominação em seu projeto pessoal.
 
A geração emergente não dá a mesma importância para as denominações, nem para seus concílios, muito menos para o rol de membros de uma igreja.
 
Não sei se foi o surgimento de centenas de pequenas denominações novas nas últimas décadas por motivos pífios de divergências teológicas, se foram os escândalos de grandes líderes e igrejas, o afastamento da eclesiologia com o contexto atual ou simplesmente uma característica dessa geração.
 
Mas hoje ter uma opinião pré-definida e um envolvimento garantido com um partido político e uma denominação não é mais algo comum.
 
Olhando rápido separo um ponto positivo e outro negativo de muitos que vejo.
 
Por um lado, vejo uma geração deixando de brigar por coisas periféricas da essência cristã, vejo uma possibilidade de união por causas importantíssimas como movimentos sociais e envolvimento com missões evangelísticas interdenominacionais, podendo explodir a qualquer momento uma revolução em todo sistema religioso.
 
Por outro lado, penso que essa geração está deixando de querer refletir em profundidade o que crê, tem preguiça de pensar quais são as consequências da sua fé, podendo explodir a qualquer momento uma inércia gigantesca e um grande número de crentes nominais.
 
Creio que se continuarmos assim, logo falaremos que as denominações são coisas do passado. Isso não tem muito como mudar. Só peço a Deus em oração que essa explosão seja para uma reforma eclesiástica com a causa no Reino de Deus.
 
 
Marcos Botelho
 

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