Certa vez ouvi uma pessoa dizer que o papel da Igreja Cristã não é lidar com questões envolvendo a batalha cultural, mas apenas a espiritual, porque este seria o seu único e exclusivo dever. Infelizmente, essa visão dicotômica entre meio secular e eclesiástico ainda domina a mente de muitos cristãos, motivo pelo qual escrevo o artigo de hoje.
Batalha cultural é tudo o que envolve os temas sociais e pertence ao campo da discussão política, acadêmica e até das ruas. Lidamos diariamente com isso, por exemplo, no trabalho, na escola, na conversa com o vizinho sobre o último capítulo da novela ou sobre o lançamento do próximo filme na Netflix.
O que caracteriza a "batalha", em si, é a postura que você adota diante dos acontecimentos/assuntos. Se você é alguém que ouve e vê tudo de forma passiva, sem reagir a nada que nitidamente contraria os seus princípios e até mesmo a sua fé em Cristo, então você não é uma(a) guerreiro(a) nessa batalha. Você é indiferente a essa realidade, muito embora a sua indiferença tenha um custo para todos nós.
Por outro lado, se você é uma pessoa que faz questão de se posicionar sempre que vê algo que ataca os seus valores e a sua fé, buscando confrontar a mentira com a exposição da verdade, então você está lutando no campo da batalha cultural. Mas, o que isso tem a ver com a batalha espiritual?
A batalha é a mesma
O erro de quem enxerga a batalha cultural e a espiritual como coisas diferentes é não perceber que, na verdade, elas são a mesma coisa. Talvez, a passagem da Bíblia mais conhecida sobre o assunto, do ponto de vista teológico, é a de Efésios 6: 11-18. Os versos 11 e 12 dizem o seguinte:
"Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais."
Pelo fato da passagem se referir a "potestades" e "príncipes das trevas", muitos cristãos enxergam o texto apenas pelo viés da espiritualidade, esquecendo-se de que o que ocorre no campo espiritual resulta em ações no mundo carnal. E como lidamos com essas sequelas no mundo carnal?
Na passagem acima, Paulo fala de preparo espiritual para lidar com a vida em todos os seus aspectos. A oração é uma ferramenta da batalha espiritual, primordial, bem como o correto conhecimento da Palavra de Deus, mas nós devemos ser os instrumentos nas mãos de Deus para que elas dêem frutos na Terra, o que implica em atitudes.
É por isso que em Tiago 2:26 também está escrito que "assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta." A obra da fé não é caracterizada apenas pelo modelo clássico de evangelismo e missões, ou pela vida cristã pacata ao estilo dos monastérios, mas também através de quem se posiciona na sala de aula, no trabalho ou no Congresso Nacional em favor da herança cristã.
Quando o Apóstolo Paulo foi até o Areópago romano debater sobre a existência de Deus diante dos filósofos da sua época, ele estava ali travando uma batalha cultural/espiritual. Mesmo antes disso, os versos 17 e 18 de Atos 17 dizem que ele debatia também nas praças, e confrontava ali mesmo os grandes nomes da cultura local.
A Bíblia diz que Paulo "disputava na sinagoga com os judeus e religiosos e, todos os dias, na praça, com os que se apresentavam. E alguns dos filósofos epicureus e estoicos contendiam com ele.". Naquela época, praças eram como as tribunas de hoje nas Assembléias Legislativas, ou como os auditórios nas grandes universidades, onde inúmeros assuntos eram debatidos.
Quando um cristão, portanto, defende a visão cristã sobre sexualidade, família, uso de drogas recreativas, aborto ou meio ambiente, ele está tratando de temas sociais que também possuem correlação direta com o mundo espiritual, pois não há neutralidade entre às ações humanas e o estado espiritual humano.
A diferença entre alguns está no foco do discurso. É esperado, por exemplo, que a Igreja lide com esses assuntos de forma explícita pelo viés das Escrituras, no templo e nas suas programações em geral, o que já é diferente em relação ao político que discursa na tribuna do Congresso, ou do professor em sala de aula.
Em todos os casos, porém, a batalha travada possui a mesma essência, devendo mudar apenas o tipo de postura de acordo com cada situação e o domínio de conhecimento de cada um. Por isso, aqui, finalizo também citando a passagem de 1 Pedro 3:15-16, onde vemos claramente o quanto a Palavra de Deus nos incentiva ao preparo para reagir diante de qualquer circunstância:
"Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós, tendo uma boa consciência, para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom porte em Cristo."
Por Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros "Por que as pessoas Mentem?", "A Ideologia de Gênero na Educação" e "Famílias em Perigo".
* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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