A origem dos defeitos: por que é tão difícil ser transformado?

Existem três pontos que definem nossa inclinação a falharmos em alguma área específica. A genética, as circunstâncias culturais e nossas escolhas.

Fonte: Guiame, Melina BotteghinAtualizado: terça-feira, 9 de novembro de 2021 às 18:35
(Foto: Vince Fleming/Unsplash)
(Foto: Vince Fleming/Unsplash)

“Não imitem o comportamento e os costumes deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma mudança em seu modo de pensar, a fim de que experimentem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus para vocês.” (Romanos 12:2)

O texto de Romanos 12:2 nos dá uma condição a vivermos a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. A transformação constante da mente, que culminará na mudança de atitudes e ações. Ou seja, a vontade de Deus não deixa de ser incrível, mas só conseguiremos desfrutar dela quando sofremos uma metamorfose na nossa maneira de pensar. 

Não gostamos de falar de falhas e muito menos avaliar nossos defeitos. É um buraco que nos incomoda e nos deixa em alerta, mas percebi estudando alguns textos médicos que a melhor forma de tratar uma infecção é conhecendo a origem dela.

Existem três pontos que definem nossa inclinação a falharmos em alguma área específica. A genética, as circunstâncias culturais e nossas escolhas.

Engraçado né? Pensar que não herdamos somente a cor de olhos e formato de lábios, mas geneticamente somos a coleção de genes que herdamos dos nossos ancestrais e que determinam de alguma forma nossa pré disposição sentimental, emocional. 

De acordo com o Projeto Genoma Humano 2004, existem mais de 3 bilhões de genes que compõem o DNA humano e as mais diversas combinações de genes por cromossomos, o que nos torna mais suscetíveis em uma área ou outra. Claro que a genética pode indicar uma área de vulnerabilidade, mas nunca uma justificativa para o pecado. A inclinação não indica a escolha e sim uma luta maior.

Quando falamos de circunstâncias culturais, nos referimos ao país, estado, cidade, idioma, escola e família. Situações externas que determinam o contexto da nossa criação. Às vezes viemos de casas violentas (ou países em guerra) e convivemos com parentes murmuradores, amargurados, resmungões, alcoólatras, orgulhosos, religiosos etc. Fatores que tendem a indicar um caminho diferente e uma área de vulnerabilidade específica. 

(Quero fazer um parênteses e incentivar pessoas que vieram de lares violentos. O Antigo Testamento também era cheio de violência e dor, mas houve algo na história que mudou tudo: Jesus. Quando Jesus entrou tudo foi transformado. Tenho certeza que Jesus pode fazer o mesmo na sua casa.)

O poder formador do hábito

O dicionário Oxford em Português define hábito como “maneira permanente ou frequente de comportar-se”. Por exemplo, se você escolhe tomar café todos os dias às oito da manhã por um mês, provavelmente você fará isso o resto da vida ou até que algo te obrigue a mudar esse costume. E hábitos são muito mais complicados de mudar do que escolhas. 

Quer ver uma coisa interessante? Existem algumas falhas que são qualidades mal utilizadas. Por exemplo, o maledicente (o que fala mal dos outros) normalmente é comunicativo e persuasivo, mas usa esse potencial para o mal. Escolhe usar para o mal aquilo que Deus plantou nele como bom.

A grande questão é: se a Bíblia nos leva à mudança, se Jesus nos convida a uma vida nova, por que é tão difícil mudar?

Nossas falhas são acordos antigos dentro de nós. São padrões de comportamento  intrínsecos, como raízes de grandes árvores. Arrancar uma muda é fácil, mas tentar derrubar um carvalho exige muito tempo, esforço e maquinários específicos. Às vezes o erro está nas ferramentas que utilizamos para arrancar as raízes. Não dá para derrubar uma árvore com um martelo.

Temos o mal costume de incluir os nossos defeitos na nossa identidade. Essa é uma tática de Satanás muito eficaz. Falamos em voz alta: “Eu sou assim, chato mesmo!” ou “Eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim” (Modinha Para Gabriela). Querido, eu quero te dizer que isso é uma mentira! 

Você é filho do rei, à imagem e semelhança de Jesus, manso e humilde como Ele. E a sua identidade foi criada quando Deus te formou. Não adicione o que precisa ser transformado àquilo que é eterno. Não anule o Espírito Santo. Você não é o seu defeito.

Creio que o que mais nos impede de mudar são os pontos positivos que os nossos defeitos nos trazem e que mascaram as nossas falhas. “Eu faço isso, porque meu pai me abandonou”, “Eu nunca recebi carinho” ou “Fui diagnosticado com…”. E isso de alguma forma nos ‘desculpa’ dos nossos fracassos. “Também, não vim de um lar rico… Ou cristão”.

Dê pequenos passos rumo à transformação

Depois de todas essas informações, como posso trabalhar com Deus para que haja realmente essa transformação de mente que me faça viver integralmente a boa, perfeita e agradável vontade dEle?

Lembre-se Jesus orou pelo pão nosso de cada dia (Mt 6:11) e não pelo pão nosso da semana ou do mês, por isso trate uma falha por vez. Escolha uma falha de cada vez. O que eu vou mudar hoje? O que eu posso fazer para efetuar uma mudança na minha vida hoje? Ninguém aqui é pipoca! Não ficamos prontos em três minutos no microondas. Ninguém acorda transformado. Lembre-se que não será pela sua força e sim pelo poder de Deus. Sua força de vontade é importante, mas não suficiente; você precisa que o Espírito Santo segure sua mão nessa caminhada. 

Precisar é diferente de sentir. Por exemplo, você precisa emagrecer, mas sente de passar na padaria e comprar um sonho. Pois é, a carne (a nossa vontade, o que sentimos, baseado nas nossas tendências genéticas, culturais e hábitos), nos sabota o tempo todo. 

Fique perto de pessoas que te ajudem a melhorar e não das que te fazem cair. Queremos andar com a cobra e não sermos picados, não é mesmo? Evite ambientes que te levem a falhar novamente (você conhece as suas tendências). 

Um exemplo bom é o alcoolismo: se você tem uma luta nessa área, não vá para o bar para comer coxinha e ouvir música ao vivo, porque a chance de você perder o controle é muito grande. Se você falha na área pornográfica, quando está sozinho no quarto com o celular, vá para o quarto com um livro na mão e deixe o celular carregando na sala. 

Há pecados que evitamos não ambientando eles. Lembre-se que tudo é uma grande caminhada e nenhum bebê começa correndo, mas sim dando pequenos passinhos. Preste atenção no caminho já percorrido e não na perfeição, porque ela na verdade não existe. Não desista. Talvez você ainda não tenha chegado onde deveria estar, mas tenho certeza que você já é bem melhor do que era cinco anos atrás.

Vamos começar hoje?

Por Melina Botteghin, estudante de teologia, esposa, mãe, missionária por vocação e publicitária de formação.

* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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