Eu sempre gostei de andar descalça. Minha mãe conta uma história de que quando eu era pequena, eu detestava tanto os sapatos a ponto de chegarem a me perguntar se eu não os usava porque ela não teria condições financeiras de comprar. Imaginem só! Justamente ela, um ícone de moda de sua época, ter uma filha que andava descalça o tempo todo.
Apesar de eu, hoje adulta, como quase toda mulher gostar muito de sapatos, não há nada mais libertador do que tirá-los.
A única desvantagem em tirá-los é que os pés sujam.
A Bíblia nos conta, no evangelho de João capítulo 13, uma história bastante conhecida e ao mesmo tempo um tanto peculiar.
“Jesus, sabendo que o Pai havia posto todas as coisas debaixo do seu poder, que viera de Deus e voltava para Deus, levantou‑se da mesa, tirou a capa e colocou uma toalha em volta da cintura. Depois disso, derramou água em uma bacia e começou a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando‑os com a toalha que estava na cintura.”
Foi uma noite diferente para a proximidade da Páscoa.
Lavar os pés na cultura judaica é conhecido como "netilat yadayim" e é realizado antes das refeições, especialmente durante o Shabat e festividades. É um ato de purificação muito comum, por causa do terreno poeirento da época e da região, mas…
O que tornou esse ato tão memorável foi o fato de Jesus o estar fazendo. Aquele serviço era feito pelo servo menos importante na hierarquia da casa. Se aquela casa tivesse um escravo, era exatamente ele quem o faria.
Uau! Que coisa incrível não é mesmo? Ver o Rei dos reis e o Senhor dos senhores se colocar na posição de servo e lavando os pés de seus seguidores.
Muito mais profundo do que isso, Jesus estava mostrando que seria Ele quem tiraria toda a sujeira de nós e em nós. Ele é a própria fonte de água viva inesgotável.
Purificar significa tornar algo puro. Algo que antes estava sujo, em algo limpo.
E lá estava Jesus, lavando os pés de Judas, mesmo sabendo que Ele o trairia. E lá estava Ele, nos ensinando muito mais do que humildade ou uma conexão com seu sacrifício.
Jesus estava nos ensinando constância e comportamento cristão, muito antes desse título existir.
“Pedro disse: ― Nunca lavarás os meus pés! Jesus respondeu: ― Se eu não os lavar, você não tem parte comigo. Simão Pedro respondeu: ― Então, Senhor, não apenas os pés, mas também as mãos e a cabeça! Jesus respondeu: ― Quem já se banhou precisa apenas lavar os pés; todo o corpo está limpo”. (João 13:8-10a NVI)
Que texto rico! O sanguíneo Pedro, demonstrando claramente seu comportamento — falando o que passava em sua cabeça. Afinal, como poderia o seu Senhor lavar os seus pés, não é mesmo?
As ações de Pedro normalmente geram reações explicativas de Jesus e uma lição preciosa para nós.
Aquele que foi limpo pelo sangue de Jesus, aquele que entendeu o sacrifício da cruz, está limpo! E a limpeza nunca dependeu de nós. Porque quem faz é Ele. Ele é a própria água.
Mas mesmo aquele que está limpo, quando for caminhar pelas estradas empoeiradas da vida, uma hora ou outra, vai sujar os pés.
Seja com pensamentos impuros, com lábios maledicentes, com raivas explosivas…
Todos pecaram. Jesus não matou nossa carne na cruz. Ele salvou nossa alma. O nosso velho homem deve ser “morto” todos os dias.
E é aí que nos diferenciamos de muitas linhas de pensamento religioso. Não é o momento de pagar penitência, é o momento de voltar pra casa. É o momento de lavar os pés na bacia de Cristo, ao invés de ficarmos cegos pela culpa de uma sola suja.
A vida de constância em Deus é um repetitivo lava-pés.
Nós estamos lavados, mas hora ou outra nossos pés vão sujar. E isso é um fato, e não uma hipótese.
O que fazer na hora em que os pés sujarem é o que vai determinar a saúde da nossa vida espiritual. Ou vamos nos esconder dEle no Jardim, ou vamos mostrar as nossas solas.
Ou seremos constantes e entenderemos que mesmo limpos, precisamos da graça de Deus, ou nos afastaremos dEle por vergonha de mostrar nossas poeiras.
“Jesus respondeu: ― Quem já se banhou precisa apenas lavar os pés; todo o corpo está limpo.”
(João 13:10a NVI)
Melina Botteghin é estudante de teologia, esposa, mãe, pastora por vocação e publicitária de formação.
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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