Davi era filho de Jessé com uma mulher chamada Naás. Segundo pesquisas, Naás não era a primeira esposa de Jessé, de forma que os filhos que ela teve, incluindo Davi, eram considerados “bastardos”.
A questão é tão séria nesse relacionamento que Jessé precisou fazer uma “choupana”, distante, no meio do nada e colocou Naás, com Davi e mais duas filhas para morarem lá. (II Samuel 17:25 e Salmo 51:5)
Imagina Davi como se sentiu?
Para complicar mais a situação, Davi tinha bom relacionamento somente com sua irmã Abigail e com suas sobrinhas. E só.
Que “caso de família”, hein?
Diante desse quadro trivial, é que encontramos a história de Davi ousado ao matar um urso e um leão. Veja bem: não que ele fosse valente, mas o fato de não ser amado, deixado de lado, fez a vida dele sem sentindo. Portanto, matar um urso, um leão, caso não os conseguisse matá-los, a morte seria certa, e a sua vida estaria resolvida, porque afinal, ele não tinha nada a perder.
O seu trabalho de pastoreio, naquela época era considerado “trabalho sujo”. Pois é. Foi isso que seu pai Jessé mandou ele fazer, cuidar de ovelhas; e mais, como filho bastardo não tinha direito de sentar-se à mesa, pois não fazia parte “da família”, era um “bastardo”.
Nesse contexto familiar, é que é possível entender o Salmo 23. Quando seu pai o rejeitou, Davi via em Deus o seu Pastor, e por isso nada o faltaria.
Davi provavelmente nunca deitou numa boa cama, porque vivia num lugar muito humilde, mas em Deus ele sabia que o Deus, Todo-Poderoso faria o deitar e em verdes pastos, que o guiaria mansamente às águas tranquilas, apesar de viver numa “tempestade familiar”.
Diante da sua dor de alma, Deus iria refrigerar a alma, e certamente, em todo o seu drama familiar, Deus o guiaria pelas veredas da Justiça, por amor ao nome do próprio Deus. Porque Deus vela por sua palavra.
Davi ao lutar com o urso e com o leão, passou bem rente à morte, por isso ele escreve que “ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mau algum porque Tu estás comigo”.
Davi reconheceu que a sua vida foi preservada nesses dois fortes episódios porque Deus cuidou dele e o salvou.
Davi encontrava consolo na vara e no cajado de Deus o bom Pastor, porque ele via em Deus o pai que ele não tinha.
Quando ele escreveu “preparas-me uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos”, foi aquele fatídico episódio quando Samuel vai à casa de Jessé para ungir o rei que Deus havia de escolher.
Jessé deve ter ficado muito feliz com a notícia de que receberia Samuel, mas até então não sabia o porquê da visita.
Imagine comigo a cena: Jessé manda fazer um jantar especial, avisa a família da “1ª linha” para se aprontar. Todos tomados banho, com roupas engomadinhas, cabelos penteados e, então, um a um dos filhos de Jessé se apresenta a Samuel. Deus vai dizendo: “não”, “esse não”, “também não”, acabam-se os filhos, então Samuel olha para Jessé e diz não tem mais nenhum mancebo?
Samuel não disse: Não tem mais nenhum filho? Penso que provavelmente Deus falou ao coração de Samuel que tinha “algo errado” nessa família.
Diante da pergunta do profeta, não restou alternativa senão Jessé dizer: Ah, tem um mais moço! Triste, não é? Mais uma vez se vê o desprezo de Jessé, pois ele não responde: Ah, tenho um filho caçula! Não de forma alguma, ele simplesmente entra na onda da pergunta do profeta e diz: Ah, tem um mais moço.
Então Samuel diz: Chama-o porque não nos sentaremos para jantar enquanto ele não chegar.
Conclusão: lá vem Davi, cheirando ovelha, com roupas sujas, cabelo despenteado entrando no “tapete vermelho de Deus”, recebendo as “honras da casa”.
Quando ele chega, Deus diz para Samuel: É este! Então aquele rapaz, “o bastardinho” recebe a unção sobre sua cabeça que desceu até as orlas de suas vestes. Jessé teve de engolir seco ao saber que o filho que ele mais desprezou, seria então o famoso “Rei de Israel”.
Por isso que Davi escreveu: “Prepara-me uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unja-me a cabeça com óleo, meu cálice transborda”.
Agora, naquela noite, foi sua primeira noite que se assentou à mesa daqueles que os menosprezaram, e pode fazer sua primeira refeição em família.
Por fim, Davi encerra seu “diário”, o Salmos 23, dizendo o seguinte:
“Não importa o que eu passei, não importa o que eu senti, a única coisa que eu sei que certamente que a bondade e a misericórdia do Senhor me seguirão todos os dias da minha vida e habitarei na Casa do Senhor para todo sempre” Amém.
Quantos casos de família vemos hoje em nossa sociedade como esse, não é? Esse é um bom “caso de família” que foi resolvido pela graça de Deus. Que assim seja na sua vida!
Por Patrícia Regina Alonso é mãe, advogada há 20 anos, teóloga, musicista formada pelo Conservatório Musical Ernesto Nazareth. Foi capelã do Hospital das Clínicas de São Paulo. É membro da ADVEC. Escritora do Livro “Alienação Parental o Lado obscuro da Justiça Brasileira” e colaborou no livro “A invisibilidade de crianças e mulheres vítimas da perversidade da Lei da Alienação Parental”.
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