Apostasia evangélica

Apostasia evangélica

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:26

No que realmente estamos acreditando? Qual a base da fé cristã na atualidade? A mensagem evangélica atual tem-se resumido em fazer com que pessoas creiam que estão neste mundo para cumprir o mandato de filho de Deus e usufruir os benefícios dele, em apenas buscar a Deus para ter os problemas de saúde sanados e para alcançar um estágio de paz e sossego financeiro. É uma busca frenética por curas, por leis e fórmulas de prosperidade, por alegria e por uma boa vida. Traz rituais miraculosos de como e quando se deve aplicar as regras, a fim de se conseguir o que se pede. Torna visível e palpável às pessoas aquilo que elas procuram.

O que pensa uma família que tem um filho envolvido com drogas? O que pensa um marido que tem a mulher doente? O que pensa uma esposa que apanha de seu marido habitualmente? Será que todos eles procuram ter os seus problemas resolvidos para parar de sofrer ou querem realmente servir a Deus? Quando coloco meus olhos na cura ou no meu sossego pessoal, certamente poderei entrar numa grande crise se não for curado ou se a situação não se reverter.

Jamais devemos abandonar Deus, mas isso não significa que não vamos fazer nada. Vamos orar e clamar, mas também vamos procurar os médicos e tomar os remédios, mas a última palavra sempre será de Deus e não minha. Essa teologia atual deixa as pessoas ansiosas, tensas, pois, se não acontece nada, ficam literalmente estressadas e ainda são acusadas de não ter fé o suficiente para receber as tais bênçãos. Deus quer que confiemos n’Ele e somente n’Ele; podemos não vencer em tudo, podemos ser impedidos e é preciso admitir que isso acontece conosco. Miserável Evangelho da Prosperidade.

A mensagem atual coloca os olhos das pessoas nas realizações pessoais e não fala nada sobre conhecer o plano de Deus, de saber qual é o desejo d’Ele, e muito menos permite que a vontade de Deus se cumpra. A palavra de Deus não pode ser usada para colocar Deus contra a parede, a fim de recebermos as vantagens celestiais prometidas e escritas. Não é possível tornar a palavra de Deus em algo genérico.

Princípios bíblicos são necessários, Deus está realmente interessado em que ouçamos a sua voz e que obedeçamos as suas ordens. Entretanto, o ruim é transformar tudo isso em método. Os homens de Deus na bíblia não saíram sozinhos com fundas contra seus inimigos após terem visto Davi fazer assim; não tornaram regra algo que foi genuíno e espontâneo. Porém, a pregação da igreja atual tenta enredar Deus em artifícios de palavras e textos bíblicos e usam isto para criar sistemas com o objetivo de prender pessoas na busca por resultados.

Palavras não resolvem; o que resolve é o poder de Deus. Conhecer Deus traz a verdade à tona e isso permite viver em humildade, oração e adoração ao Senhor. Qualquer artimanha ou estratégia humana que ordena, intima ou pressiona Deus está destinada a fracassar, produz crentes robôs, obras engessadas e mecânicas  que confiam em resultados através da repetição, criam liturgias e orações cansativas que não produzem nada. É um evangelho mágico e místico.

Elias derrotou os quatrocentos e cinqüenta profetas de Baal, mas teve medo de Jezabel, uma mulher. José foi vendido como escravo e Jesus não era um guerreiro, mas um homem simples. Essas comparações são inevitáveis e mostra que a pregação atual não fala sobre derrota e simplicidade, mas está voltada apenas ao triunfo e ao reconhecimento. Deixa muito claro que a função das organizações religiosas atuais é promover o prazer e o bem estar do ser humano, realizar seus desejos e ambições e, com bens materiais e coisas palpáveis, provar ao mundo que estão certos. É a teologia da exaltação do homem, ao invés do evangelho da cruz de Cristo.

Dá desespero pensar que tudo está errado! Pois então, qual é o plano de Deus para minha vida? Qual é a motivação do coração de Jesus que deve ser a minha motivação? A resposta é glorificar a Deus e sentir-se realizado em fazer isso todo tempo, é ter consciência de que não decido mais nada sem antes consultar os propósitos de Deus, pois Ele é quem decide. Não dou ordens esperando que Deus cumpra, mas só tenho olhos para agradar Ele e fazer sua vontade.

O evangelho deve colocar uma pessoa na vontade final de Deus. Isto faz com que eu sempre busque o modelo de Deus, e esse modelo é Jesus. A igreja atual não aceita que crentes passem por privação, sofram perseguição ou passem sede e fome.

Não é evangelho de substituição: “Jesus fez e eu não preciso fazer”; não é barganha. Jesus não morreu para que eu tivesse uma vida regalada. Se o próprio Jesus foi um homem humilde, nós também precisamos ser humildes. Muito é dito que é tolice jejuar e orar para que Deus avive sua igreja, que é bobagem interceder e se prostrar de rosto em terra diante de Deus, clamando por restauração. Na verdade, os grandes homens de Deus na atualidade estão dizendo para Jesus não voltar, pois querem desfrutar das regalias que estão vivendo. Gostam da vida que levam, do tamanho de suas organizações, dos grandes templos, da autoridade que possuem, do tanto que influenciam.

Jesus pregaria este evangelho atual? Imagine falar estas coisas aos missionários em Guiné Bissau ou na África, onde só tem pobreza e proliferação de doenças. Imagine falar de prosperidade e realização na igreja subterrânea da China ou no Oriente Médio!

A teologia atual não funciona em todos os lugares. Portanto, fica a pergunta: será que este evangelho triunfalista é verdadeiro? Será que não estamos limitando o agir de Deus? Será que o evangelho só funciona para alguns? Será que não existem pessoas achando que Deus gosta mais de uns do que de outros?

O que Deus falaria aos que sofrem ou que sofreram por causa do evangelho?

Ele tem uma palavra: a verdade é que Deus está no controle de tudo, sua mão está sobre o mal e o bem, Ele é quem dá o veredicto final e o faz cumprir. Crer nisso produz maturidade cristã, produz qualidade cristã, pois sou modelado à imagem de Cristo. Não dependo de um evangelho de resultados. Faz com que eu aceite as situações por que passo. Faz com que eu dê sem esperar em troca. Faz com que eu o ame de verdade.

Nosso maior exemplo é a cruz. Para os homens daquele tempo, a morte de Jesus pode ter parecido sua derrota, mas bem sabemos que Ele ressuscitou e isso é a nossa vitória. Se tivermos de passar por um caminho e o exemplo é a cruz, fica o alerta, pois o mundo olhará e pensará que estamos derrotados, mas, na verdade, sairemos vitoriosos. Qualquer coisa fora disso foge ao modelo da cruz e não podemos sair fora do padrão divino. Isso é apostasia.

Valdir Ávila S. Junior é pastor, teólogo, músico e produtor musical. Participou com a Ruach Ministries International de viagem missionária à Finlândia com Asaph Borba e Donald Stoll, fundadores do Estúdio Life (RS). Gravou com Adhemar de Campos, Daniel Souza, Gerson Ortega, Gregório McNutt, Nívea Soares, Massao Suguihara, Sostenes Mendes e David Quinlan.

Foi pastor em Botucatu onde dirigiu grupos relacionados ao louvor congregacional, tais como: dança, libras, backing vocals, coral, músicos e técnicos de áudio. Implantou o Estúdio Voima que já produziu e gravou vários outros trabalhos pelo Brasil. Atualmente é Pastor da Igreja Bíblica Evangélica de Piracicaba, cidade onde reside e tem se dedicado ao ministério da palavra.

É integrante do Conselho Editorial da Revista Impacto - Americana.- www.revistaimpacto.com

Site pessoal: www.vidanaverdade.com.br  - e.mail: [email protected]  

Proprietário da Escola de Educação Infantil e Berçário Cercado de amor, uma escola com princípios cristãos, que cuida de crianças entre zero e cinco ano de idade. www.cercadodeamor.com.br

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