Crianças sintéticas

Crianças sintéticas

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:29

Moro em Piracicaba, uma cidade muito próspera. Como dizem os amigos que trabalham em bancos: "aqui é uma cidade rica onde tem muita gente com muitos zeros à direita em seus saldos”. Sei da grande dificuldade das famílias e o quanto é difícil educar uma criança, mas já paramos para pensar em como era nossa vida trinta anos atrás? Eu ia sozinho à escola, comprava geléia do Seu João, comia cocada feita pelo Seu Chico, o padeiro, brincava de jogar “terrão” nos amigos. Estudei num renomado colégio católico na etapa ginasial que hoje já nem existe mais, tive ótimos professores... Aliás, tenho saudades deles, pessoas talentosas, com chamado vocacional fortíssimo; sabiam onde, como e quando ensinar e, mais do que isso, sabiam avaliar e redirecionar. Estudei muito depois disso.

Ao conversar com uma amiga, que assim como eu, é proprietária de uma escola de educação infantil e berçário, ela me contou que recebeu em sua escola, localizada na cidade onde nasci e vivi a vida toda, pessoas de Piracicaba que foram visitar sua instituição para matricular os filhos. A pergunta dos pais à primeira vista foi: "para que tanta grama natural? Tem câmera aqui?"

Incrível pensar que nossos filhos estão cada dia mais fracos e definhando. Não os deixamos ter contato com a terra. Molhar-se com água de chuva, nem pensar! Temos uma geração de criancinhas que gripam por qualquer motivo, têm rinite crônica, são alérgicos, obesos, ficam doentes à toa e em nada conhecem o que é uma vida normal, viciados em chupeta, chocolate e televisão, chorões que por qualquer motivo correm para os braços de algum parente que cuida deles na ausência dos pais, geralmente os avós, que dizem: "Errei com os filhos, vou mimar os netos!" Medíocres produzindo crianças cheias de maus costumes e rebeldes. Intratáveis!

Não estou preocupado com o que eles pensam e falam, podem encher-se de justificativas e razões, mas nada pode me impedir de dizer que estão errados, equivocados, totalmente movidos pela insanidade, produzindo uma geração fraca e cheia de tecido adiposo, sem substância alguma do padrão original, chorões que serão massacrados e humilhados quando forem maiores. Viciados em proteção.

Essas crianças vão crescer, irão aos melhores médicos, vão tomar os melhores medicamentos e suplementos, irão ás melhores academias, farão aulas de ballet, inglês, yoga, acumpuntura, vão ficar fortes, conhecerão psicologia, farão os melhores cursos preparatórios para o vestibular, mas não serão nada resistentes ao que é naturalmente natural. Vento nas costas mata este tipo de pessoa. Poeira os trava, alérgicos a alface. Geração miojo, "cheese tapados". Precisarão de proteção o resto de suas vidas. Mimados e chorões sem identidade.

Horta, antigamente, era no quintal e não suspensas recebendo água tecnicamente transformada, brincava-se na grama tomando picadas de formigas, brincar era uma aventura e produzia anticorpos necessários. Não era “se sujar”, era “brincar de verdade”. Nossos padrões mudaram. O que é realmente importante para vocês, pai e mãe?

Este texto tem o intuito de lembrá-lo da sua infância, que pode ter sido difícil, mas te transformou, hoje, em alguém com muitos zeros à direita. Se a sociedade continuar a privar seus filhos de tudo o que é natural e normal (andar de bicicleta, cair e ralar o cotovelo), teremos uma geração de pessoas muito fracas (hoje já são fracas) que, sob qualquer tipo de intempérie, espirrarão, tossirão, chorarão, farão manha e ficarão livres da obrigação de se encontrar com a grama sintética da escola onde estudam.

Nada contra proteger os filhos, mas mudar o padrão convencional em função de mediocridades dos pais é o maior pecado que se tem cometido atualmente. Mediocridade significa ser médio, não experimentar o que de mais valor e sabor existe.

É um direito seu colocar seu filho para estudar em qualquer lugar, mas ainda creio no que é simples e fácil de entender. Relacionamento com base na verdade, amizade, longe de mentiras e palavrões, sem busca de reconhecimento imediato (de ambas as partes), mas com a vocação de formar gente saudável, forte e com bom caráter. Seu filho é assim? Você é assim? Não! Continue com a grama sintética!

Valdir Ávila S. Junior   é pastor, teólogo, músico e produtor musical. Participou com a Ruach Ministries International de viagem missionária à Finlândia com Asaph Borba e Donald Stoll, fundadores do Estúdio Life (RS). Gravou com Adhemar de Campos, Daniel Souza, Gerson Ortega, Gregório McNutt, Nívea Soares, Massao Suguihara, Sostenes Mendes e David Quinlan.

Proprietário da Escola de Educação Infantil e Berçário Cercado de amor, uma escola com princípios cristãos, que cuida de crianças entre zero e cinco ano de idade.   www.cercadodeamor.com.br . Foi pastor em Botucatu onde dirigiu grupos relacionados ao louvor congregacional, tais como: dança, libras, backing vocals, coral, músicos e técnicos de áudio. Implantou o Estúdio Voima que já produziu e gravou vários outros trabalhos pelo Brasil. Atualmente é Pastor da Igreja Bíblica Evangélica de Piracicaba, cidade onde reside e tem se dedicado ao ministério da palavra.É integrante do Conselho Editorial da Revista Impacto - Americana.   www.revistaimpacto.com   .

Site pessoal:   www.vidanaverdade.com.br - e.mail: [email protected]

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