Visão de si próprio

Visão de si próprio

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:28

Dentro do evangelho moderno não é necessário ser tão original ou verdadeiro. Basta que uma pessoa venha para uma igreja e participe das doutrinas, frequente algumas reuniões ou apenas se envolva com algumas obras e será o suficiente para acalmar a alma. Vivemos num meio carregado de mentiras; uma mentira puxa outra mentira e assim sucessivamente.

A pior coisa que tem acontecido nas igrejas são as conversões sem arrependimento. A igreja atual não tem visão do pecado, é permissiva. E assim como nos dias do Egito, quando Faraó disse a Moisés: "Interceda também por mim", se fosse nos dias atuais, ao ouvir isto, poderíamos dizer: "Olhe! Ele está falando para orar por ele, será que não está se convertendo?". E seríamos presos definitivamente no cativeiro.

O cerne do problema está na conversão sem arrependimento, páscoa sem sangue, pentecostes sem fogo. Falam em línguas, vão às igrejas, mas é falso; é idêntico ao produto original, mas é falsificado. Creio que nunca, em toda história, tivemos tantas coisas falsificadas como neste período. Para tudo existe uma cópia barata. A cópia é tão bem feita e tão mais barata que é melhor adquirir o falsificado, pois ninguém irá notar a diferença e não irá sequer "doer" nos nossos bolsos. A graça também ficou barata e quase parecida com a verdadeira, mas é cópia.

O compromisso com o real, com o original, com a verdade foi diluído em nossa sociedade. É melhor comprar um Rolex "pirata", pois, se o roubarem diremos: "Não era verdadeiro mesmo...". Acontece que se o Rolex não for roubado e o tempo passar, passamos a acreditar que aquele produto no nosso pulso possa ser verdadeiro. Esta é uma situação que enfrentamos dentro do evangelho, pois as pessoas fazem o mesmo, as Igrejas estão e são assim.

O coração do homem é enganoso, diz a Bíblia. O homem é a imagem de Deus. Ele não é Deus, é apenas a imagem, mas o tempo passa e ele acredita que pode ser Deus ou que pode disfarçar-se em Deus. As igrejas vivem julgando, segmentando, separando e dividindo não conseguem ver seu próprio pecado e essa questão é mencionada em Isaias 6. Ele viu a si mesmo, pois o encontro verdadeiro com Deus leva o homem a olhar para si mesmo. Muitas igrejas têm conversão, até caminham certo, mas ainda não tiveram uma visão de si mesmas. Isaías falava: "ai desse, ai daquele, ai daquele outro", mas somente após uma experiência com a revelação de si mesmo é que ele disse: "ai de mim".

Em virtude do pecado da mentira ou empolgados por um desejo insaciável de fazer acontecer aquilo que achavam ser verdade, homens fizeram o que era expressamente proibido por Deus. São os casos de Nadabe e Abiu, Corá e Uzias. Esses homens não apenas acenderam o fogo por conta própria, mas também ofereceram fogo estranho na presença do Senhor e, ainda por cima, prepararam seu próprio incenso e o misturaram ao incenso puro. Creio terem ficado demasiadamente acostumados com os privilégios sagrados e acharam que poderiam melhorar o plano divino e até imaginaram que não importava o que fizessem, bastaria apenas fazer. Os que desfrutam os mais altos privilégios são os que correm o maior perigo de transgredir a Deus.

A lepra do Rei Uzias também se relaciona com a oferta de incenso, pois da mesma forma como Corá e Nadabe e Abiu, Uzias queria oferecer incenso. Ele era da tribo de Judá, tribo da qual Moisés nada falou sobre o sacerdócio e da qual ninguém tinha permissão de servir diante do altar. Uzias desejava mais honrarias, queria proeminência, reconhecimento. Porém, o sumo sacerdote resistiu-lhe e disse: "Não será honrado por Deus, o Senhor." (2Cr 26:18). E na mesma hora, na presença deles, diante do altar de incenso no templo do Senhor, surgiu a lepra na sua testa. Expulsaram-no imediatamente do templo, mas isso não seria necessário, pois, totalmente envergonhado, ele mesmo ficou ansioso para sair e permaneceu leproso até o dia da sua morte.

Este relato sobre o Rei Uzias nos ensina e alerta para não chegarmos diante de Deus com atitude leviana; é preciso ser verdadeiro. O Senhor não permitirá que os homens se aproximem com presunção. Não devemos nos apresentar por outro caminho senão aquele que Ele ordenou. Deus abomina nossas falsas verdades, pois a única verdade que existe é a divina.

Lemos em Isaías 6 que foi no ano em que o rei Uzias morreu que a visão maravilhosa foi concedida para Isaias. Parece que a referência tem a intenção de enfatizar o contraste. Isaías viu o Senhor assentado num alto e sublime trono e a aba de suas vestes enchiam o templo. Viu os Serafins, ouviu a voz deles e, lembrando-se do juízo que caíra sobre Uzias, sentiu também que ele era leproso diante de Deus e disse: "Sou um homem de lábios impuros", exclamou, comparando-se com o leproso que cobre os lábios, e grita: "Impuro, impuro." (Lv 13:45). Isaías teve a visão de si mesmo, viu quem ele era realmente e acordou.

Esta é a sensação da revelação dos nossos pecados, revelação de si mesmo, o sentimento que tomou conta do coração do profeta foi tão real e verdadeiro ao ponto dele próprio ver o quanto era indigno. Esta atitude trouxe a visão de Deus a ele e, no mesmo lugar onde Uzias foi ferido da lepra, Isaías recebeu purificação mediante uma brasa viva tirada do altar. Recebeu vida.

Quando uma pessoa julga alguém, ela está brigando por seus direitos, defendendo seus limites e ainda não teve a visão de si mesma como Isaías teve. Nossa tendência é olhar os pecados dos outros e apontar seus erros. Eles têm determinados erros que eu não possuo e acho que isto me dá direito de condená-los, porém tenho erros que me condenam e que os outros não tem, mas mesmo assim, eu os condeno, julgo-os, pois estou cego. Quando se tem a visão de si mesmo é possível enxergar que a graça nos alcançou e que o Senhor tem misericórdia de todos nós.

Há certas confissões que fazemos servem apenas para aliviar a alma e não para um arrependimento verdadeiro. Pode ser e é um artificio da alma para que eu me sinta bem, para me aliviar; é possível usar minha alma a fim de mentir a mim mesmo no intuito de ficar aparentemente de bem com Deus. Enganamos a nós mesmos. A alma é enganosa e precisamos constantemente duvidar daquilo que fazemos, é preciso descobrir a intenção, a motivação real, é preciso vasculhar o coração e descobrir a realidade do sentimento.

Temos o poder de fazer as coisas acontecerem até o ponto de nos sentirmos satisfeitos. Um líder que quiser ser forte vai conseguir seu feito, mas está muito mais propenso a cair, pois a alma é muito poderosa e pode enganar-nos e ainda nos convencer de que não está enganando. É por isso que ainda há muito barulho e pouca adoração a Deus; é por isso que há muita atividade e pouco fruto do Espírito; é por isso que há muita força humana e pouca presença de Deus.

É melhor viver em crise do que numa falsa paz, porque aquele que é falso engana a todo mundo e também engana a si próprio. É possível fazer uma porção de coisas aparentemente corretas, mas devemos fazer uma pergunta: Será que é para Deus que estou fazendo isso? Será mesmo? Por que entrego palavras a pessoas? Será que é porque Deus mandou ou foi porque eu quis fazer?

O lado mais certo é o lado do Espírito Santo agindo em mim. Um dos sinais de que faço parte do mundo real é quando minto e fico mal com Deus. Essa sensação de mal-estar pode ser a ponta do iceberg da ação do Espírito Santo em todos nós. Se vivermos constantemente nos justificando e nos defendendo ou defendendo nossas teologias e doutrinas, ainda há muita chance de erro em nós. Se não sou capaz de receber instrução de outros, ainda sou passivo de muitos erros. É preciso pedir a Deus para trazer luz, pois o Espírito Santo traz a luz e é através dessa luz que ainda temos esperança.

Valdir Ávila S. Junior é pastor, teólogo, músico e produtor musical. Participou com a Ruach Ministries International de viagem missionária à Finlândia com Asaph Borba e Donald Stoll, fundadores do Estúdio Life (RS). Gravou com Adhemar de Campos, Daniel Souza, Gerson Ortega, Gregório McNutt, Nívea Soares, Massao Suguihara, Sostenes Mendes e David Quinlan.

Foi pastor em Botucatu onde dirigiu grupos relacionados ao louvor congregacional, tais como: dança, libras, backing vocals, coral, músicos e técnicos de áudio. Implantou o Estúdio Voima que já produziu e gravou vários outros trabalhos pelo Brasil. Atualmente é Pastor da Igreja Bíblica Evangélica de Piracicaba, cidade onde reside e tem se dedicado ao ministério da palavra.

É integrante do Conselho Editorial da Revista Impacto - Americana.- www.revistaimpacto.com

Site pessoal: www.vidanaverdade.com.br - e.mail:[email protected]

Proprietário da Escola de Educação Infantil e Berçário Cercado de amor, uma escola com princípios cristãos, que cuida de crianças entre zero e cinco ano de idade. www.cercadodeamor.com.br

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