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Estudo

A ancianidade cristã - Parte II

A ancianidade cristã - Parte II

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:09

2. VISLUMBRANDO A REALIDADE SENIL

2.1. A Sexualidade na Velhice

O sexo é muito importante na vida adulta, inclusive na velhice. "O desempenho sexual do adulto e do velho saudável é idêntico, fisiológica e psicologicamente. Difere apenas na intensidade " (CARMO, 1987).

Para a sociedade, os idosos são seres "assexuados" e muitos deles acabam adotando este estereótipo como verdadeiro, embora a experiência clínica prove que na maioria dos idosos saudáveis há uma perfeita sexualidade. É preciso enfatizar que sexualidade não diz respeito apenas ao que é sexual. Faz-se necessário realçar todo um contexto de afetividade a qual é essencial ao ser humano.

Por outro lado, as disfunções sexuais não são características da terceira idade; podem ocorrer em qualquer idade e gênero, decorrente de dificuldades psíquicas ou físicas, ou ainda, em função do abuso do alcoolismo e drogadição.

Sugere-se ao idoso que pretende manter a boa forma: andar em média três quilômetros por dia; uma boa refeição; ingerir no mínimo um litro de água diariamente; e, dormir seis horas por noite, em média.

Lamentavelmente, a cultura atual não admite a expressão sexual da velhice. Aos idosos que residem nos asilos e nas casas de repouso, deveriam conceder-lhes o direito à privacidade, tendo em vista a importância do sexo nesta fase da vida.

Quanto à menopausa, ou climatério, ele é um período de conflito? Sim e não.

Em seu aspecto fisiológico, a menopausa representa o encerramento da vida fértil da mulher, entre os quarenta e cinco e cinqüenta anos de idade. Obviamente, as mulheres, neste período, ficam mais sensíveis, e o choro e as crises podem surgir a qualquer momento.

Entre os homens de cinqüenta a sessenta anos de idade, começa a ocorrer a andropausa – o climatério masculino; este traz poucos problemas, uma vez que ele não está ligado diretamente ao fim da vida útil masculina, pois a produção de espermatozóides continua. O maior desafio é o aumento da próstata.

Com os filhos criados, a casa arrumada, o fim da preocupação em engravidar, e a experiência acumulada na vida amorosa, nada parece faltar aos casais idosos para uma vida de entrega e afetividade plenas, porém, isto depende muito, é claro, dos fatores emocionais e psicológicos bem como do grau de intimidade do casal.

O título deste capítulo "A Sexualidade na Velhice" merece uma breve homilia, se é que pode empregar este termo aqui. Primeiramente seria utilizada a expressão "A Sexualidade e a Velhice"; obviamente isto pontua muito mais um distanciamento entre ambos os termos; da forma em que foi posta, a expressão pressupõe uma realidade possível. Em segundo lugar, contrariamente do que muitos admitem, os "velhos" não pensam apenas em sexo; eles podem e devem continuar sendo "sexuados". Em terceiro lugar, merece atenção a proposta que o termo evoca, no sentido de ressaltar que, numa fase da vida tida como inerte e apática (o que não configura verdade) é possível experimentar a sexualidade com toda a sua beleza. Com outro ritmo, é claro; mas qual o problema. Principalmente, para quem tem "todo" o tempo disponível.

2.2. Envelhecimento Sociológico

O processo do envelhecimento pode ser analisado sociologicamente sob dois aspectos importantes: o do indivíduo e o da sociedade.

a) Socialização

A socialização (relações do indivíduo) pode ser desmembrada nos seguintes itens:

a) aceitação – interiorização de valores;

b) acomodação – maior grau de internalização e de ajustes conceituais;

c) adaptação – ajuste a realidades externas que exige mudança;

d) assimilação – incorporação dos valores à conduta;

e) integração – última etapa da socialização e implica a interiorização total dos valores do grupo social integrante.

b) Resposta Social

"A resposta social é constituída pelas diferentes reações que grupos e indivíduos adotam em face da velhice " (MORAGAS, 1997).

c) Atitudes

As atitudes implicam um posicionamento em face da idade, numa valorização da pessoa em relação ao fenômeno observado.

As principais atitudes podem ser assim agrupadas:

ANCIANISMO: Preconceito ativo, que não se baseia em fatos e, sim, no desconhecimento e ignorância. ROTULAGEM: Repetição de atitudes negativas, as quais conduzem ao estereótipo ou estigmatização. DISCRIMINAÇÃO: Falta de igualdade de oportunidades por alguma característica pessoal (sexo, idade, raça, classe social, etc). [Itálico meu]. O envelhecimento sociológico é melhor compreendido através do Anexo II, à página 33.

2.3. Alterações Psicológicas na Velhice

As mudanças biológicas – tanto as estruturais quanto as funcionais – que ocorrem como resultado do processo de envelhecimento causam um considerável impacto no psiquismo do indivíduo, podendo alterar-lhe a auto-imagem. Um dos obstáculos psicológicos mais sérios que o envelhecer apresenta, portanto, é o da preservação da própria identidade do indivíduo.

A preservação da identidade psicológica do homem é fundamentalmente importante uma vez que ela auxilia o homem a adaptar-se às demandas do mundo externo, bem como a enfrentar serenamente a perda progressiva de suas capacidades e as limitações inerentes ao processo de envelhecimento.

À medida que o indivíduo sofre alterações de ordem física e intelectual, as estruturas de sua personalidade tendem igualmente a se modificar.

Além disso, "a deteriorização gradual dos processos sensoriais decorrentes do envelhecimento reduzem os contatos da pessoa idosa com o mundo exterior " (MORAGAS, 1997). E mais, o idoso tem o seu contexto social cada vez mais reduzido. A dura realidade golpeia-o à medida que a maior parte dos seus amigos ou já faleceram ou se encontram limitados por doenças crônicas ou pelo próprio processo do envelhecimento. Em função disso, o idoso sempre se sente bastante solitário. E essa solidão quase invariavelmente prenuncia a depressão – que por sua vez, nos idosos quase sempre é acompanhada de alguma forma de comportamento regressivo.

Lamentavelmente, todos estes fatores contribuem para o aceleramento do processo de envelhecimento do homem.

2.4. Questões do Envelhecimento

Os especialistas acham que grande parte das dificuldades psicológicas dos idosos procede das frustrações e conflitos sem solução nas fases anteriores da vida. Aspirações não satisfeitas na juventude e na vida adulta, por exemplo, podem afetar psicologicamente a velhice. Por outro lado, os indivíduos que souberam adaptar-se nas fases que precederam a velhice, terão grande chance de atravessar a terceira idade com suas dificuldades sem grandes perturbações. A melancolia e a frustração surgem especialmente no momento em que o indivíduo toma consciência de estar caminhando em direção à curva descendente da existência.

Deve ser frisado, porém, que, se de um lado os idosos perdem em agilidade e destreza, por outro lado, ganham em tenacidade, estabilidade e maturidade de julgamento. Embora não há conhecimento de algum meio de deter a tendência ao enfraquecimento intelectual que aparece com a passagem dos anos, existe jeito de atenuá-lo ou de compensar-lhe os efeitos.

2.5. Tempo Livre e Aposentadoria

A duração do tempo livre varia do longo da vida. Ela é generosa durante a infância e a adolescência, reduz-se na idade adulta (população ativa) e torna a ampliar-se novamente na aposentadoria.

Tem-se verificado empiricamente que problemas surgem justamente na transposição da vida ativa à aposentadoria, especialmente em função da grande quantidade de tempo disponível que subitamente surge ao aposentado. "A psicologia afirma que os indivíduos se adaptam melhor às mudanças de vida se estas são progressivas, e com o apoio de informação e educação " (CARMO, 1987). O tempo é ambivalente: pode ser benéfico ou prejudicial, face as condições da pessoa e do meio no qual ela está inserida. Para a maioria da população ativa, a aposentadoria define legal e convencionalmente a entrada na ancianidade.

Socialmente, tem-se considerado o papel do aposentado como um "papel sem papel", uma vez que a sociedade hodierna não reconhece, para o aposentado, um papel social, assim como aconteceu em sociedades primitivas ou na medieval, nas quais o término da atividade guerreira ou artesanal não supunha a perda do status social. Naturalmente em tais épocas, era menor o número da população idoso, e sua própria excepcionalidade lhes proporcionava um prestígio difícil de encontrar nas sociedades ocidentais avançadas.

2.6. Mitos e Fatos da Ancianidade

No estudo da ancianidade, assim como em outros temas sociais, há muita confusão e equívocos entre fatos científicos e os mitos da opinião pública. Merecem destaque três aspectos conflitivos da terceira idade atualmente.

a) Definição

Mito: A velhice começa aos 65 anos.

Fato: A velhice não começa em uma idade cronológica uniforme, senão variável e individualizada.

"Atualmente, além da idade, consideram-se outras características pessoais como o estado físico, doenças, história pessoal e profissional, equilíbrio familiar e social, de tal maneira que é avaliada a pessoa, em sua complexidade, e não somente por uma variável histórica importante " (MORAGAS, 1997).

b) Aptidões

Mito: Os idosos estão muito limitados em suas aptidões.

Fato: Os idosos possuem muitas possibilidades.

As pessoas idosas ainda mantêm aptidões biológicas, aptidões psíquicas e aptidões sociais.

c) Etapa Final

Mito: A velhice é uma etapa totalmente negativa.

Fato: A velhice é uma etapa vital peculiar.

A psicologia do desenvolvimento humano considera a velhice como uma das etapas da experiência vital, como qualquer outra, com características tanto positivas quanto limitadoras.

Além destes mitos, existem outros notadamente preconceituosos quanto à possibilidade da inserção da mão-de-obra senil no contexto do mercado de trabalho. Os principais são: "a produtividade do trabalhador idoso é menor"; "o trabalhador idoso tem maior absenteísmo e se envolve mais com acidentes"; e "o trabalhador idoso está menos satisfeito do que os mais jovens".

Neir Moreira   é teólogo, pós-graduado em docência do Ensino Religioso pela Faculdade Batista, psicólogo formado pela UFPR e pós-graduando em Educação. www.neirmoreira.com

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