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Falar ou não falar, eis a questão!

Falar ou não falar, eis a questão!

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:04

Imagine que você é dono de uma academia de ginástica, e um possível cliente, obeso, lhe pergunta se você pode ajudá-lo a perder peso somente através de exercícios de musculação, sem que o mesmo precise se sujeitar a um programa de reeducação alimentar. Você sabe muito bem que isso, além de não recomendável, é quase impossível. Para aumentar seu dilema, o cliente ainda propõe lhe pagar antecipadamente o equivalente a quatro anos de mensalidades, isento de reembolso caso o programa não dê certo. E agora, o que você diria a ele? Se disser a verdade (o ideal), você corre o risco de perdê-lo como cliente e, conseqüentemente, o polpudo cheque. Se ocultar a verdade (eufemismo para uma mentira descarada) você irá conquistá-lo, mesmo que isso signifique uma frustração futura. Mas pelo menos o dinheiro equivalente aos quatro anos você terá embolsado. E o melhor, sem o risco de ter que devolver o dinheiro.

Se você pensa que essa situação é surreal, é bom atentar que esse fato se repete a cada novo período eleitoral. Os clientes, no caso os eleitores, e os donos de academias, no papel de políticos. Infelizmente, a grande maioria do povo brasileiro quer os benefícios de um bom governo (perder peso, no exemplo acima), com o menor sacrifício possível (liberdade para comer o que quiser). Atraídos pelo sofisma, pela facilidade da promessa inconseqüente, e ainda com a garantia do pagamento antecipado por quatro anos, muitos políticos embarcam nesse autêntico canto de sereia. Saem prometendo, sem eira nem beira, preocupados exclusivamente na busca insana de conquistar seus clientes, ou vítimas - como queira. Não importa se para isso tem-se que inventar, mentir ou omitir. A lógica é simples: “em pouco tempo o povo esquece o que foi prometido”, devem pensar eles. Infelizmente, a grande maioria dos políticos não tem seus programas impressos em folders, bulas ou manual de instrução de suas idéias, que seriam muito úteis no caso de provar a quebra da promessa. É tudo dito de boca, se possível, não gravado. E mesmo que algo tenha sido registrado, ainda usam o estúpido recurso de pedir à população para esquecerem o que disseram no passado. É brincadeira!

O grande dilema do jogo político, diga-se de passagem, não só no Brasil, está entre dizer o que o eleitor precisa ouvir, e dizer o que o eleitor quer ouvir. Via de regra, opta-se por dizer o que é mais simpático e mais atraente ao público alvo. Onde está o problema, só nos políticos? Em parte sim. Mas o problema está também nos eleitores (clientes), que parecem gostar de procurar chifre em cabeça de cavalo, com o perdão da expressão. Querem emagrecer, sem fazer regime. Querem reviver um Brasil que não mais existe, num mundo que já desapareceu. Querem ouvir discursos estatizantes ou coorporativistas. E se o político não tiver compromisso com sua própria marca, certamente dirá o que seus clientes querem ouvir, e não o que precisam. É o afamado “me engana que eu gosto, eu gosto...”

O pagamento antecipado por quatro anos, sem direito a ressarcimento, que o sistema eleitoral proporciona, gera esses tipos de “produtos eleitoreiros” sem compromisso com a verdade ou com o futuro. Pode ser utopia, mas já imaginou, caro leitor e eleitor, se nossos governantes ou legisladores tivessem que se submeter a uma avaliação anual de seus clientes, podendo até mesmo ser reprovados pela opinião pública. Seria uma mudança sem igual nas posturas, e principalmente nos discursos de nossos políticos. Essa lógica já existe no mercado de produtos e serviços. Se eu vender meu produto com um discurso que não bate com a realidade, meu cliente simplesmente me “demite” da condição de seu fornecedor. Mas com o político, o que fazemos? Temos que esperar quatro anos até despachá-lo para o banco de reserva. Até porque o impeachment ou a cassação de mandato ainda são instrumentos muito frágeis de repressão aos maus produtos, ou maus políticos.

Enquanto isso, vale nossa luta incansável de alertar a população para os ludibriadores de carteirinha, que sempre surgem dos pântanos políticos em períodos eleitorais. Esses deveriam ser amordaçados.

Paulo Angelim

Paulo Angelim   é consultor, conferencista e palestrante nacional em Vendas e Motivação e autor dos livros "Desenvolvimento profissional: Alcance o sucesso sem vender a alma" e "Morra e Mude".

Contato:   www.pauloangelim.com.br

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