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Estudo

O Brasil poderia estar melhor

O Brasil poderia estar melhor

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:16

Nos últimos anos o Brasil passou por uma transformação social e econômica visível, mas será que crescemos tudo o que tínhamos para crescer? Ou podemos melhorar o que temos?

A partir da implementação do Plano Real no início dos anos 90, o Brasil viu seu pior inimigo sendo domado: a inflação. O crescimento passou a ser mais evidente a partir de então. É claro que houve algumas iniciativas que ajudaram no processo, como a abertura do mercado interno para montadoras estrangeiras de carro, a privatização de setores estratégicos e os investimentos em conhecimento de alto nível para pesquisas, embora muito tímidos. Um outro dado que geralmente foge à atenção dos noticiários é que nesse período o mundo passava por uma transformação profunda: acabava a Guerra Fria.

Com o novo cenário mundial, os Estados Unidos passaram a olhar para a América do Sul com os olhos dos investidores, em especial, através de George Bush em 1990 priorizando a América Latina na política externa dos EUA e, em 1994, na Cúpula de Miami quando Clinton apresentou o projeto da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas).

Com este novo cenário, a América Latina deu uma guinada para governos civis, seguindo a linha neo-liberal, distanciando-se dos governos militares. O mesmo aconteceu com o Brasil através de Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso. Uma breve análise nos levará a entender como o Brasil cresceu.

Com Collor, o Brasil presenciou a enxurrada de novas empresas estrangeiras por conta da baixa absurda das taxas de importação. Houve quebradeira de empresas brasileiras, mas o mercado se adequou à nova realidade. A proposta inicial era interessante, a despeito da inexperiência diplomática da equipe de Collor. O Brasil vivia o atraso dos subsídios governamentais pela política de substituição de importados desde os anos 60. Os produtos eram caros e de baixa qualidade. Muitos devem se lembrar o que uma linha telefônica representava nos anos 70 e 80 no Brasil. Contudo, a corrupção impediu que Collor desse continuidade ao seu projeto. A sua ganância fez dele o inimigo público número um do Brasil e muitos ingênuos sentiram saudade do tempo dos Militares. Vale ressaltar que a corrupção no tempo do militarismo era institucionalizada.

Com a chegada de Fernando Henrique ao poder, o Brasil teve a chance de, não somente se organizar economicamente, mas de se projetar internacionalmente. O Plano Real foi o instrumento principal do controle da inflação e sua política de Privatização das Estatais geraria um acúmulo de capital que poderia alavancar o desenvolvimento. Mas isso não aconteceu da maneira esperada. Por um lado, Fernando Henrique achatou o salário dos funcionários públicos que alimentavam a Classe Média do Brasil e por outro, o dinheiro oriundo das Privatizações simplesmente sumiu! Nada de relevante foi feito com o dinheiro.

Ao mesmo tempo, o respeito ao direito de expressão vivido pela imprensa no Brasil dava oportunidade para que escândalos passassem a ser divulgados e acompanhados pela imprensa nacional. O Brasil inteiro ficou sabendo que Estatais como a Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) e a Sudene  (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) nada mais eram que distribuidoras de valores para políticos gananciosos que exigiam propinas gordas para dar suporte ao plano de governo de FHC. Os pedidos de instalação de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara dos Deputados e no Senado por parte da Oposição (PT) eram todos barrados por conta de uma aliança majoritária de FHC com partidos como o PMDB e PFL (atual DEM), além de outros partidos de menor expressão.

Quando o PT chegou ao poder, muitos imaginavam que os seus problemas seriam resolvidos. Luiz Inácio Lula da Silva, depois de vinte anos tentando, conseguiu chegar ao poder e ele era a imagem do brasileiro trabalhador, comedor de marmita, ganhador de salário mínimo e morador de favela. Até o empresariado apostou nele! E o Brasil cresceu! O Brasil cresceu com um programa de distribuição de renda mínima para brasileiros que viviam na miséria. O Brasil cresceu com o fortalecimento do mercado interno e gerou empregos com os investimentos estrangeiros que não paravam de chegar por conta dos altos juros pagos no Brasil.

Do ponto de vista político, o Brasil de Lula era muito parecido com o Brasil de FHC: Impostos altos, investimento na imagem além do conteúdo e desejo pela permanência no poder. Algo, porém, ficou evidente no governo Lula. O desejo pela permeabilização nas Autarquias e Estatais que restaram. O PT tinha muita gente esperando por tempo demais pelo poder e agora tinha que encontrar emprego para todos os "companheiros" de estrada.

Isso resultou em corrupção, muita corrupção. Mais uma vez, a mídia revelou esquemas grosseiros de roubo de dinheiro público em várias partes do Brasil e o PT era citado como parte integrante do esquema em quase todos. Impressionante é que a força capilar do PT conseguia blindar o Presidente da República de maneira que ele não era atingido pelas denúncias.

Agora, encerrando o seu segundo mandato, Lula é o presidente mais querido que o Brasil já teve em décadas. Seu nível de aprovação é impressionante de maneira que até José Serra, candidato da oposição, tenta 'colar' a imagem de Lula na sua campanha.

Como foi dito no início, o Brasil melhorou, mas o que esse artigo mostrou é que, se não fosse a ação contínua de atores corruptos, o Brasil estaria muito melhor.

A Economia estaria melhor

A corrupção pode não impedir o crescimento econômico, mas cobra um preço muito alto para isso. Com altos níveis de corrupção, o mercado precisa absorver o impacto da corrupção antes de crescer. Além disso, altos impostos e burocracia favorecem a informalidade o que prejudica o crescimento real da economia e facilitam ações corruptas.

O Desenvolvimento Humano estaria melhor

Apesar de ver mais pessoas com celulares nas mãos, o Brasil ainda sofre com problemas da era medieval. Crianças ainda morrem por desnutrição e há muita gente analfabeta. Isso é prova de que o dinheiro desviado nas prefeituras devia estar combatendo esses males. Dinheiro tem, o que não parece ter é a integridade para aplicar o dinheiro onde é necessário. O mesmo pode ser dito da infra-estrutura rodoviária e sanitária. O Brasil paga caro pelo desvio de verbas para esses setores.

A proteção da nossa Biodiversidade estaria melhor

É desanimador ver que a maior parte do desmatamento é ilegal e ocorre com a anuência de fiscais do Ibama, da Polícia e de Fiscais da Prefeitura de cidades atingidas por gangues. Tudo é muito visível, mas parece impossível de ser impedido. A Amazônia está sendo devastada por Grileiros de terra e Carvoarias clandestinas. O mesmo acontece em outros biomas no Brasil.

O Combate à Violência estaria melhor

O crescimento das Milícias nas grandes cidades mostra que a Polícia não se contenta com o seu salário e que o crime organizado absorve muitos dos defensores da população para suas atividades criminosas. A lentidão da Justiça favorece a prática do crime gerando um sentimento de impunidade na sociedade. Afinal, por que não praticar um crime se é sabido que ninguém é condenado de fato no Brasil?

Os serviços prestados pelo setor público estariam melhores

O governo insiste em mostrar a cara de um Brasil ágil, atencioso com o povo e desenvolvido nas suas conquistas, mas o serviço público pouco mudou nos últimos anos, apesar do inchaço no quadro de funcionários públicos. Enquanto Brasília está superlotada de servidores, faltam médicos nos postos de saúde, policiais nas ruas e professores nas escolas. Além disso, ainda se vê hospitais inacabados, instrumentos não utilizados, falta de medicamento para distribuição e uma longa lista de espera para tratamento de urgência. O dinheiro da saúde é pouco aplicado na saúde do Brasil.

A Política estaria melhor

A insistência de mantermos no poder pessoas corruptas só irá perpetuar o sistema vigente. A corrupção é o principal problema que o povo brasileiro tem com a política. Ninguém discute diferenças ideológicas ou mesmo programáticas nas campanhas. Todos os candidatos falam a mesma coisa. Contudo, no momento em que um candidato é empossado, parece que há um rito de iniciação à verdadeira política. É uma apresentação de privilégios e abusos que faz com que o recém-chegado se esqueça das suas mais profundas convicções de justiça social e profissionalismo político.

Conclusão

Se não fosse a corrupção o Brasil estaria melhor. Agora temos a chance de arguir e exigir dos nossos candidatos uma postura em relação a esse mal que está barrando o nosso desenvolvimento. Ou podemos continuar sobrevivendo nesse mundo de corrupção e desvios. Mas até quando? Nossa economia não suportará outros predadores! A recessão e a guerra civil é o resultado em uma sociedade que não trata da corrupção com seriedade. E o Brasil não leva a sério a corrupção. Nenhum candidato se apresenta com um Plano Nacional de Combate à Corrupção. É como se eles achassem que a corrupção é algo natural, ou inevitável ou mesmo invencível. Bom, o povo deve dar a sua opinião com relação à corrupção. Há evidências de que a corrupção não é natural. Ela é criação de mentes perversas. Ela não é inevitável. Nós podemos viver sem ela e ter uma distribuição de renda mais justa no nosso país. Ela não é invencível. Basta que o povo decida pressionar o poder público a gerar mais que palavras. Precisamos de ações que produzam um fim esperado em um dado tempo. Ou seja, é com planejamento e com data marcada que a corrupção será vencida. Assim, o Brasil será melhor.

Robson Pereira é pastor, mestre em Ciência Política pela UnB e Bacharel em Divindade pela Universidade de Gales/Spurgeon's College - R.U.

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