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Estudo

Aprendizagem de uma língua estrangeira

Aprendizagem de uma língua estrangeira

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:09

Escrevo este texto tendo em mente aqueles que tem pela frente a tarefa de aprender com fluência uma língua local e faria bom uso de algumas orientações gerais bem como de uma proposta de prática de aprendizado.

Aprender uma língua é um processo complexo que envolve contato e trânsito cultural, centenas de horas de trabalho duro, estudo intencional e um claro alvo em mente. Ou seja, ninguém chega lá se não estiver motivado. Tire tempo para ver o valor e relevância da língua a ser aprendida em sua vida e ministério antes de dar o primeiro passo. Certifique-se que está disposto a investir parte dos seus próximos anos nesta jornada.

A relevância do aprendizado e uso da língua falada pelo povo alvo é acentuada, seja para uma boa interação com o mesmo ou para o desenvolvimento de um projeto ou ministério. Nenhuma pessoa poderá de fato comunicar uma mensagem relevante, profunda e complexa como o Evangelho senão na língua daquele que ouve. Qualquer outra tentativa, mesmo que pontualmente viável, virá com um certo grau de frustração.

Algumas considerações preliminares.

1. O método é importante mas não determinante

Alguns que aprendem bem uma segunda ou terceira língua, bem como aqueles que se frustram na tentativa, costumam atribuir o resultado ao método. Observo, porém, que o método (a técnica mais amiúde) é menos importante do que julgamos. Isto porquê todos nós nascemos com a capacidade de aprendizado de língua, o qual foi aplicado para nos dar fluência em nossa língua materna. Assim vemos pessoas que jamais estudaram ou aplicaram um método específico aprendendo bem uma segunda ou terceira língua, apenas com orientações gerais. Não me refiro aqui à análise de uma língua (ato mais técnico) mas sim ao aprendizado de uma língua (ato mais intuitivo).  O método é bem importante porém não determinante neste processo.

Lembre-se que o aprendizado de uma nova língua não é uma atividade puramente lingüística mas também cultural[1]. Assim, devemos ter em mente que o maior valor no processo de aprendizado está com o povo (que detém o conhecimento da língua) e não na metodologia de estudo da mesma.

2. Invista no método escolhido

O método tem a capacidade de lhe direcionar e não permitir que você perca o foco. O método escolhido (seja um método aprendido ou desenvolvido por você) deve ser claro, simples, objetivo e aplicável. Pense nestas quatro características.

Você deve ser capaz de explicá-lo de maneira objetiva e clara. Se tiver duvidas, simplifique o processo. Se você parte da coleta de termos, composição de idéias e prática, por exemplo, invista nisto durante um bom tempo. Se você utiliza a análise interativa como método não deixe para trás na primeira dificuldade. Cada pessoa tem um perfil. Adapte o método a você e não o contrário.

3. É mais fácil não aprender a língua

Após alguns meses de ânimo no estudo da nova língua é possível que você seja tentado a perder o foco. Se isto acontecer tudo ao seu redor lhe parecerá mais urgente do que o aprendizado da língua. Pelo fato do aprendizado ser algo contínuo de médio e longo prazo, será mais fácil desistir. É certo que há alguns apaixonados pelo aprendizado de línguas, mas a realidade é que para a maioria será necessária uma boa dose de disciplina. Após chegar ao nível 1, o mais fácil será jamais sair deste nível. Você já conhece as saudações, os termos chaves, já interage um pouco e não está mais perdido no meio de uma conversa. Mais de 80% dos que se propõe a aprender uma língua não chegam ao nível 3 (de 0 a 5) que é de fluência. Tenha um claro alvo em mente. Talvez seu alvo seja aprender uma língua no nível 1 apenas. Mas caso seja no nível 3, ou outro acima, mantenha este alvo claro, de forma constante, em sua mente e coração. De toda forma, seja qual for seu alvo, não desista!

Alguns métodos

O aprendizado de língua é um processo que se dá a partir do desejo de se comunicar com o outro que coexiste em um ambiente lingüístico e cultural distinto. Para tal é necessário haver iniciativa, motivação, técnica e perseverança.

Há diversos métodos de aprendizado de línguas como de Larson[2], Stone, Allison, Marshall[3], Thompson e outros.

Durante anos, na África, a WEC utilizou L.A.M.P[4] com o silogismo baseado em GLUE.

Get what you need (obtenha o que precisa)

Learn what you get (aprenda o que você obteve)

Use what you learn (use o que você aprendeu)

Evaluate what you use (avalie o que você usou)

Boa parte dos missionários da WEC e SIM aprenderam as línguas africanas utilizando este silogismo e há vasto material explicativo sobre o assunto passo a passo[5].

GET. (Obtenha)

A idéia é de você observar o que você precisa, ao seu redor, para sobreviver e interagir. As pessoas de sua localidade, por exemplo utilizam o rio para pesca, banho e transporte. A vida gira em torno da aldeia. A floresta é fonte de subsistência. Portanto aí estão alguns dos elementos que procura. Você precisa saber articular rio, igarapé, água, peixe, isca, anzol, canoa, remo, casa, aldeia, mata, caça, comida, fruta... .

Escreva em seu caderno, ao andar pela aldeia ou cidade, o que você (através da observação) percebe que precisa aprender. Use a comunidade (mais que o informante lingüístico) para obter o que você precisa. Neste caso a obtenção será um ato mais informal, diário, relacional.

LEARN. (Aprenda)

Estude e aprenda o que você obteve seja com o informante lingüístico ou com a comunidade. Separe os verbos, os substantivos, liste um vocabulário crescente, entenda o sistema lingüístico daquilo que você obteve. Ouça tudo o que gravou várias e várias vezes, em diferentes horários. Neste caso 20 minutos, três vezes ao dia, lhe renderá bem mais do que uma hora corrida. Seu cérebro absorverá mais, e com menos cansaço, as informações.

USE. (Use)

Para tal é necessário sair e estar com o povo. Use de forma intencional e também não intencional, informal. Use com crianças, conhecidos e também desconhecidos. Teste o quanto eles compreendem suas expressões. Peça para que lhe corrijam. Transite em meio à comunidade e, estando lá, evite utilizar sua própria língua. Procure selecionar e estar nos ambientes que precisa para aprender. Se naquele dia os termos são mandioca, farinha, beiju, forno, comida, transite pela casa de farinha ou cozinha das famílias mais próximas e use seu vocabulário. Neste momento o importante não é o quanto você analisa (sabe explicar) mas sim o quanto você comunica.

EVALUATE. (Avalie)

Avalie o caminho de seus estudos. Tanto a sua eficácia quanto sua facilidade. Use métodos simples e claros para você. Se necessário simplifique o processo. Avalie os termos aprendidos, a compreensão gramatical e também a prática. Estas áreas precisam estar em equilíbrio.

Ronaldo Lidório   é pastor, teólogo, missionário e escritor. Atuou quase dez anos na África com plantio de igrejas e tradução bíblica para a língua Limonkpeln de Gana. Atualmente, lidera uma equipe missionária na Amazônia. É autor de vários livros, dentre eles ''Com a mão no arado'', ''Unafraid of the sacred forest'' e ''Restaurando o ardor missionário''.

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