A ciência explica o aborrecente

A ciência explica o aborrecente

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:28

A moçada briga, chuta a porta, bate boca com os pais e grita sem motivo? Tudo bem. A culpa é do cérebro deles, que ainda está em fase de formação

Sempre se pensou que a culpa era do vulcão de hormônios colocado em ebulição pelo processo de crescimento. Ou da angústia existencial própria de uma época de transição. Há agora uma nova explicação: o que se passa na cabeça dos adolescentes é, por assim dizer, conseqüência do que se passa na cabeça deles. A garotada nem se ajustou direito às mudanças causadas em seu corpo pela puberdade e o cérebro também começa a mudar. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que ao chegar à adolescência o cérebro já estivesse completamente formado. Pesquisas recentes revelam que, ao contrário, nessa fase se inicia um processo de rearranjo dos neurônios tão intenso como aquele que aconteceu nos primeiros anos da infância. As áreas onde ocorrem as maiores transformações são justamente aquelas ligadas às emoções, ao discernimento e ao autocontrole. Essa é uma boa explicação científica para o comportamento tão impulsivo e temperamental dos teens. "Algumas áreas da estrutura cerebral só vão estar inteiramente maduras depois dos 20 anos", diz o psiquiatra Fábio Barbirato, da Santa Casa do Rio de Janeiro.

Durante a adolescência, dois fenômenos acontecem no cérebro. Assim como nos bebês de 1 ano e meio, pipocam novas conexões entre os neurônios (as sinapses). Algumas áreas passam por grandes mudanças estruturais. A mais significativa acontece nos lobos frontais, área responsável pelo autocontrole e pelo senso de organização e de planejamento. Lá ocorre uma espécie de faxina nas sinapses feitas entre os neurônios durante toda a infância. No decorrer do processo, a região dá uma encolhida, num fenômeno conhecido entre os especialistas como "poda". "É como se o cérebro sentisse, por volta da puberdade, que as velhas conexões são inúteis e que há necessidade de abrir espaço para outras, muito mais importantes, a ser feitas na idade adulta", explica o psiquiatra Jorge Alberto da Costa e Silva, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Outras partes do cérebro estão a mil. Uma delas é o sistema límbico, centro de processamento das emoções, como a raiva, que trabalha de forma exuberante. No adulto, essa área funciona de forma mais comedida.

A imaturidade de certas áreas talvez explique por que as regiões do cérebro usadas pelos adolescentes são diferentes das utilizadas pelos adultos para as mesmas tarefas. Não se conhece muito bem o mecanismo, mas estudos mostram que os jovens podem interpretar certas coisas diversamente dos adultos – uma expressão facial de medo pode ser confundida com escárnio, por exemplo. Na adolescência, o cérebro desenvolve a capacidade de planejar, organizar, controlar as emoções, entender os outros, fazer julgamentos e até decifrar a lógica matemática. A parte boa é que a cabeça está completamente aberta a novos conhecimentos. Quem tirar proveito disso terá um cérebro mais esperto quando for adulto.

Certas atitudes birrentas e estranhas não são nada de mais. Mas algumas podem ser o sinal de que algo grave e muito ruim está ocorrendo

O QUE É NORMAL

Qualquer não que ele ouve virar motivo para protestos, brigas, palavrões e chutes na porta do quarto Matar aula, bagunçar na classe e chegar tarde da balada Ouvir o som no último volume e tocar bateria à noite para encher a paciência dos pais e daquele vizinho chato Destratar a empregada da casa, não cumprimentar as visitas e soltar um desaforo para a tia que critica seu cabelo Criticar a mãe porque a comida não está do jeito que ele gosta e o pai porque invoca com o jeito de o velho estacionar o carro Se acabar na balada de sábado e dormir o domingo inteiro em vez de ir ao almoço de aniversário da vovó Arrumar confusões com os colegas de escola ou nas festas Jogar games em que o objetivo é exterminar de forma sangrenta o maior número de adversários Estalar um beijo na testa da mãe meia hora depois de ter uma briga horrorosa com ela, como se nada tivesse acontecido

E O QUE NÃO É

Quebrar de propósito a mobília e as janelas da escola ou destruir as coisas dos outros por puro prazer Tirar dinheiro da carteira dos pais sem avisar Usar drogas ou encher a cara toda vez que sai com os amigos Sumir de casa por vários dias e só reaparecer para comer, largar a roupa suja e pedir mais dinheiro Chegar em casa cada vez com uma namorada ou namorado diferente e se trancarem juntos por horas no quarto Ameaçar se matar toda vez que é contrariado Deixar de tomar banho, usar roupas sujas e descuidar da aparência Deixar de fazer coisas de que gostava, como jogar futebol com a galera, ir ao cinema, ouvir música e sair com os amigos Começar a ir mal na escola de uma hora para outra, mesmo nas matérias em que costumava ir bem

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