A importância da rotina para as crianças

A importância da rotina para as crianças

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:24

Há alguns dias eu participava como coordenadora de uma dinâmica em grupo para pais, numa escola tradicional de São Paulo, e ouvia queixas do seguinte porte: “meu filho, embora não seja mais bebê, ainda troca a noite pelo dia”; “o meu fica até alta madrugada conversando pelo computador, depois não consigo que levante para ir à escola"; “e as lições de casa, o meu nem toma conhecimento”; “tenho sentido dificuldades para fazer meus filhos terem uma alimentação mais saudável, estão engordando muito, só comem o que querem”; “eu tenho uma filha que quer brincar o dia todo e na escola faz a mesma coisa, tenho recebido reclamações”...  E por aí seguiram comentando sobre a falta de rotina de seus filhos, seja em relação aos horários não estabelecidos, aos hábitos não internalizados, às regras não colocadas ou não obedecidas.

Fiquei pensando que estava vivendo eu uma rotina das queixas que ouço no consultório e mesmo no convívio social: a falta de regras, de disciplina, de organização, ou seja, a falta de rotina da geração dos "filhos da democracia, da ruptura da família tradicional e da era digital" (parafraseando a jornalista Rita Loiola). Parece que estes filhos estão sendo educados com o conceito errôneo de que rotina é algo nefasto e enjoativo a ser evitado a todo custo, quando na verdade ela é o sustentáculo da própria liberdade, é com sede na rotina que se pode utilizar a atenção e criatividade para as demais atividades; ela tem uma função importante na organização da vida de cada ser, é o eixo estruturante por onde nos desenvolvemos, por onde nos configuramos como personalidade integrativa e como ser social gregário que somos.

Se tomarmos o termo rotina como a mera repetição mecânica de atos sem consciência, realmente não teremos ações mais adequadas das crianças, assim, tomemos rotina como atos introjetados através de experiências de vida, de erro e acertos vivenciados, de descobertas e principalmente dos modelos que teremos de nossos pais e que com certeza repetiremos. A rotina é uma organização consciente que a criança vai aprendendo em sua casa desde o nascimento e se inicia com a constância repetitiva de ações que os pais vão pacientemente ensinando, fazendo junto e cobrando, como os horários estipulados para dormir/acordar, os hábitos alimentares e de higiene, os horários que vão sendo estabelecidos para brincar e estudar, a seleção dos programas de tevê mais adequados, assim como os jogos de computador, arrumar seus brinquedos e objetos pessoais depois de utilizados, auxiliá-los com estratégias organizacionais como uso de agenda, quarto e armários que são arrumados juntos, visando estabelecer um ordem. Lembrando que os valores vão sendo desde sempre não somente ensinados, mas principalmente vividos pela família.

É preciso ter muita paciência, nenhum filho vai receber bem a introdução de novo hábito sem resistir, sem questionar, ou mesmo que não questione não sairá seguindo o que ficou estabelecido. A rotina é uma história cotidiana, é uma constância repetitiva. As regras devem ser colocadas de forma firme e segura  e devem ser cobradas. A criança aprende observando e fazendo, se pertencente a uma casa organizada, com regras claras e determinadas com carinho e segurança por seus pais – que ainda são os verdadeiros responsáveis pela educação dos filhos.

É sabido que o corpo precisa da rotina para um bom funcionamento metabólico. Sem ela ficamos doentes. A mente precisa de rotina para se organizar e desenvolver um pensamento dedutível, que levanta hipóteses, avalia e toma decisões. O processo acadêmico se faz com base na organização e na disciplina para o trabalho e estudo. Sem isso as crianças se desorientam, acabam por apresentar dificuldades em sua vida afetivo-social, bem como no processo de aprendizagem. Devemos ter em mente que um mundo totalmente imprevisível, uma vida sem rotina é ficarmos sem chão, é vivermos sem fronteiras. É o caos.

* Tânia Maria de Campos Freitas é psicopedagoga clínica, professora especialista em distúrbios de leitura, escrita e dislexia e diretora da Associação Brasileira de Dislexia – ABD

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