A síndrome da eterna vítima

A síndrome da eterna vítima

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:49

Você conhece alguém que se acha vítima de tudo e de todos? Uma pessoa que em qualquer situação exerce o papel de coitadinha? Se no trabalho estão falando baixo, é porque ela é o tema da conversa; se fizeram algo sem a sua presença, é porque não é amada ou é vítima de conspiração.

Embora o problema não seja considerado uma doença, esse tipo de comportamento mantém a pessoa prisioneira de suas emoções e afeta a qualidade de vida, dela e de quem está a sua volta, segundo a psicóloga clínica Cássia Franco, especialista em comportamento humano. “As pessoas que se vitimizam, se sentem perseguidas a maior parte do tempo. Têm uma espécie de pensamento viciado na sua forma de interpretar os eventos do dia a dia. Vivem movidas por seus sentimentos. Isto não é uma doença, mas pode vir a se tornar um jeito patológico de viver, que provoca muita dor e dificulta a convivência,” esclarece a psicóloga.

A culpa não é minha

Outro sintoma bastante peculiar de quem age dessa forma é sempre colocar a culpa nos outros. “Assumir a responsabilidade por si próprio significa apropriar-se de suas emoções. Pode ser muito tentador colocar a culpa nos outros, ou acreditar que não se sentiria daquele jeito se não fosse pela ação da outra pessoa ou circunstância. Por mais que outras pessoas ou situações desafortunadas tenham nos causado dor, somos nós os únicos responsáveis por determinar se a dor vai ou não continuar”, diz Cássia.   Gangorra de emoções

A vendedora que vamos chamar de Márcia, pois prefere não se identificar, tem 36 anos de idade e mania de perseguição. “Sou do tipo pavio curto e já arrumei muitas encrencas por achar que os outros estavam falando de mim. Não paro em emprego e sempre levo as coisas pelo lado pessoal. Já houve situações em que, ao presenciar qualquer tipo de cochicho no trabalho, ou se alguma colega não me dava atenção, passavam mil coisas pela minha cabeça. Tudo me deixa insegura e perco até o sono imaginando diálogos, ou seja, o que as pessoas podem estar falando a meu respeito, e mudo totalmente com elas. Sempre falo o que me vem à cabeça. Depois paro pra pensar e vejo que poderia ter agido de outra forma. Mas a qualquer sinal diferente lá estou eu influenciada pelas minhas emoções novamente. Sinto que sou injustiçada e que as pessoas fazem de tudo para me prejudicar. Quando me arrependo de algumas atitudes, sempre digo que vou tentar mudar, mas o que sinto e vejo é muito mais forte do que eu”, relata.

Na concepção da psicóloga, o relato de Márcia vai de acordo com o que acha a medicina: “Quem tende a levar tudo para o lado pessoal gasta muita energia procurando possíveis problemas e se martirizando por ofensas que foram ou não cometidas. Esses erros de interpretação e julgamento provocam emoções dolorosas, que por sua vez nos levam a tomar determinadas iniciativas, das quais mais tarde acabamos nos arrependendo. Ou, pior ainda, nos impedem de tomar medidas capazes de melhorar nossas vidas. A mania de perseguição reduz as oportunidades, pode desencadear sentimentos de culpa e prejudica a capacidade de ter outros pontos de vista. Sendo assim, será de grande ajuda criar alternativas de pensamento que ampliem a visão. Nosso jeito de pensar pode contribuir muito para aliviar ou piorar o sofrimento emocional.”

Visualizando saídas

De acordo com Cássia, se colocar no lugar do outro é fundamental para visualizar mudanças: “Quando não pensamos direito, criamos e aprofundamos sentimentos de ansiedade, tristeza, culpa, raiva, estresse e acabamos respondendo com ações inadequadas. Colocar-se no lugar do outro e se perguntar se podem existir outras interpretações para um fato, qual o grau de responsabilidade na situação, se há alternativas de ação e que resultado se quer alcançar para todos os envolvidos pode ser o início de um novo ciclo de relacionamentos mais amorosos e perspectivas de vida mais produtivas.”

Uma nova vida

A gerente de loja Ana Silva, de 39 anos, também tinha o mesmo pensamento vicioso de Márcia. “Eu tirava conclusões precipitadas de tudo e depois sentia tristeza, remorso, me achando o último ser da face da terra e me perguntando por que as pessoas não gostavam de mim. Conheci uma moça que estava estudando psicologia e a forma dela ver a vida me ajudou muito. Passei a ler livros sobre conhecimento emocional e a me colocar sempre no lugar dos outros, para ver como me enxergavam. Vi que o problema estava em mim. Mudei de atitude e de vida. Essa mudança não aconteceu da noite para o dia, mas a cada passo que eu dava era uma vitória. Tudo começou a fluir em vários setores de minha vida. Posso dizer que deixei de ser vítima das circunstâncias e estou escrevendo uma nova história, reavaliando posturas, hábitos e buscando crescer em todos os sentidos. Nesse processo, recebi uma promoção profissional e acredito que isso só aconteceu por causa da minha mudança de atitude”, relata.  

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições