As dores e as delícia de ser mãe depois dos 40

As dores e as delícia de ser mãe depois dos 40

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:17

O desejo de ter um bebê acontece para cada mulher em um momento da vida. E são muitos os motivos para que essa decisão seja, constantemente, adiada. Investir (e focar todos os seus esforços) na carreira, encontrar alguém com quem deseja ter um filho ou querer, primeiro, conquistar a tão sonhada estabilidade financeira. Essas e outras razões fazem com que a idade materna avance cada vez mais. Levantamentos no mundo todo mostram que o número de gestações depois dos 40 anos tem aumentado, e muito (veja destaques) . Apenas no Hospital Santa Catarina (SP), por exemplo, 1,3% dos partos feitos em 1996 eram em mulheres com mais de 40. No ano passado, eles representaram 6% - um aumento de 361,54%. Segundo dados do IBGE, 0,67% das mulheres tiveram o primeiro filho com essa idade em 1991. Dez anos depois, esse número subiu para 0,79% do total. E a expectativa dos médicos é que esse índice não pare de crescer nos próximos anos.

A produtora cultural Vera Camillo, 44 anos, é uma dessas mulheres para quem a gravidez chegou depois dos 40. Ela só começou a pensar em ter um bebê três anos atrás. "Nunca alguém tinha despertado o meu desejo de ser mãe". A situação mudou em 2004, quando se casou com Régis (o segundo marido). "Ele, que já tem um filho de 29 anos, começou a dizer que adoraria ter uma menina com a minha carinha." Como Vera sempre teve ovários policísticos e menstruação irregular, o que minimiza as chances de engravidar naturalmente, o casal procurou especialistas em reprodução assistida. Ela fez estimulação da produção de óvulos três vezes, entre 2006 e 2007, sem sucesso. O casal decidiu, então, parar de tentar.

No começo deste ano, Vera procurou um ginecologista porque começou a se desentender com a balança e a sentir fisgadas na lateral da barriga enquanto praticava ioga. Ele pediu um ultrassom. Vera levou um susto durante o exame. "De repente o técnico gritou: ‘Você está grávida, muito grávida, de 17 semanas!’", diz, hoje com sete meses de gestação. Passado o susto, voltou ao ginecologista, que alertou sobre os riscos da gestação tardia. Ele ainda recomendou que ela esperasse até o quinto mês para fazer ginástica e que mantivesse uma alimentação equilibrada para não aumentar as chances de ter diabetes nem pressão alta. E Vera garante não descuidar de nenhum detalhe.

A gravidez tardia pode ser tranquila e saudável. Mas ela requer cuidados diferenciados justamente por conta da idade. São maiores as chances de alguns problemas aparecerem, mas os médicos são categóricos ao afirmar que eles podem ser minimizados. Uma vantagem que você tem é a sua vontade de ser mãe. Aos 40 anos, afirmam os especialistas, a mulher é mais cuidadosa com tudo. Se por um lado a idade impõe algumas limitações físicas, por outro concede a maturidade para encarar as adversidades e superá-las. Veja nas próximas páginas os cuidados que você precisa ter para curtir sua gestação.

Fontes: Eduardo Motta, especialista em reprodução humana da clínica Hungtinton (SP); Eduardo Zlotnik, obstetra do Hospital Albert Einstein (SP); Fernanda Couto Fernandes, obstetra da Unifesp; Thomaz Rafael Gollop, especialista em medicina fetal do Hospital Pérola Byington e da USP (SP); Wagner Busato, ginecologista obstetra e médico especialista em reprodução humana 89,28% foi o aumento no número de partos de mulheres com  40 anos ou mais entre os anos de 1999 e 2009 na Inglaterra

PROBLEMAS DE SAÚDE

O que acontece: A possibilidade de ter diabetes, hipertensão e outras doenças crônicas com 40 anos é maior, e a gravidez pode acentuar doenças prévias ou provocar o surgimento de novas. Mas elas oferecem mais riscos quando não são tratadas. A hipertensão prévia ou a que surge após a 20ª semana pode causar pré-eclâmpsia, que aumenta as chances de parto prematuro. A falta de tratamento para diabetes pode gerar desde más formações até ganho excessivo de peso pelo bebê.

O que fazer: O ideal é fazer exames de rotina antes de engravidar, como medir a pressão arterial, o colesterol, a glicemia e checar a tireoide. Um dos cuidados básicos, que vale para qualquer grávida, é tomar ácido fólico, se possível, três meses antes da gestação e até o terceiro mês dela para prevenir alterações neurológicas. Também é importante estar vacinada, com o peso ideal e fazer todos os exames indicados pelo médico durante os nove meses.

Em 1990, 9% dos partos nos EUA eram de mulheres acima de 35 anos. Em 2008 a taxa subiu para 14%. Dessas, 40% são solteiras, frente a 11% em 1990

CHANCE DE ENGRAVIDAR

O que acontece: Toda mulher nasce com um determinado número de óvulos e, ao longo da vida, essa quantia diminui. É a chamada reserva ovariana. Além dela ser menor aos 40, a qualidade do óvulo também é prejudicada e a chance de uma mulher entrar na menopausa antes do tempo aos 40 é de 1 para 100, sendo que aos 30 anos esse número é de 1 para 1.000. Engravidar naturalmente fica mais difícil: antes dos 30 anos, a possibilidade é de 20% e, depois dos 40 anos, 5%.

O que fazer: Existe uma escala de tratamentos para esses problemas. Se os exames não mostrarem nada anormal, a primeira opção é estimular a ovulação com medicamentos. Se não der certo, o próximo passo é procurar uma clínica de reprodução assistida para avaliar outras possibilidades.

ÂNIMO

O que acontece: Quem não se lembra do fôlego que tinha quando criança? Na adolescência ainda estava em alta, mas o pique é abalado pela idade. Os médicos sentem que as gestantes tardias ficam mais cansadas durante a gestação do que mulheres mais novas, mas isso depende do preparo físico de cada uma.

O que fazer: Como você imagina, exercícios aumentam a disposição. Se tiver autorização médica, comece a praticar esportes antes de engravidar e, durante os nove meses, não fique parada (com recomendação do seu médico). Isso vai melhorar a condição cardiovascular, diminuir as dores lombares e fortalecer a musculatura do períneo (que fica entre a vulva e o ânus). Você pode fazer caminhada e hidroginástica. Os esportes vão ajudar a manter o peso, já que, aos 40, controlá-lo é (ainda) mais difícil.

DISTÚRBIOS GENÉTICOS

O que acontece: Como os óvulos também envelhecem, é maior a probabilidade de aparecer complicações genéticas. Se com 20 anos a mulher tem uma chance em mil de ter um filho com Síndrome de Down, por exemplo, com 40 a estimativa sobe para um em cada 100.

O que fazer: Se você planeja engravidar com 35 anos ou mais, pode optar pelo congelamento dos óvulos até essa faixa etária porque a qualidade deles é melhor. Isso pode ser feito em clínicas de reprodução a um custo aproximado de R$ 7 mil, mais R$ 5 mil de medicamentos e cerca de R$ 1 mil por ano para manutenção. Outra opção é fazer uma fertilização in vitro e realizar a biópsia dos embriões para saber quais são os mais saudáveis, ou seja, aqueles com mais chances de sucesso numa provável gravidez.

PARTO

O que acontece: A necessidade de intervenção cirúrgica durante o parto vai depender da condição da grávida, mas a perda da elasticidade e outros riscos são mais comuns em gestações tardias, assim como a existência de doenças crônicas e o ganho de peso excessivo do bebê. Esses problemas podem inviabilizar o parto normal.

O que fazer: A avaliação do médico é fundamental para definir se a mulher terá mesmo de fazer uma cesárea. Vale lembrar que não há relação direta entre a idade materna e o tempo de trabalho de parto ou a forma mais indicada para fazê-lo. A melhor opção será a que oferecer menos riscos para a mãe e o bebê, levando em conta as condições da gestante no momento do parto.

EXAMES INDICADOS

O que acontece: Como o risco de doenças prévias e adquiridas é maior, assim como os casos de intercorrências, é necessário ter cuidado redobrado com exames antes e durante a gravidez para diagnosticar e tratar doenças crônicas e avaliar o desenvolvimento do bebê.

O que fazer: Antes de engravidar, é indicado que a mulher faça mamografia, teste ergométrico e os que mostrem o aparecimento de doenças crônicas. Não há consenso entre os médicos sobre a frequência com que os exames de ultrassom devem ser realizados em gestações tardias e alguns especialistas afirmam que o número de ultrassons e de exames vai depender da evolução da gravidez, da existência de doenças prévias ou associadas à gestação que possam oferecer risco para saúde do bebê. Pelo ultrassom e com mais alguns testes específicos, como rastreamento bioquímino, é possível realizar um cálculo de risco para Síndrome de Down e outras cromossomopatias. Esses são exames de triagem, e não de diagnóstico. Significa que não há 100% de certeza. Mas, se o resultado indicar que algum problema possa existir, a mulher deve fazer testes invasivos para ter um diagnóstico mais preciso. São eles: a biópsia do vilo corial (no primeiro trimestre) e a amniocentese (após 16 semanas), que colhem o líquido amniótico da placenta, ou a cordocentese (a partir de 26 ou 27 semanas), que faz a punção do sangue do cordão umbilical. É preciso discutir os riscos da realização desses exames com seu médico.

Das brasileiras que engravidam pela primeira vez entre os 40 e 49 anos...

...59,1% têm oito anos ou mais de estudo

...25,7% têm rendimento mensal familiar de mais de 10 salários mínimos

PÓS-PARTO

O que acontece: A recuperação vai depender da condição física, mas em geral é mais demorada porque a cicatrização não é tão rápida. Varizes aparecem com mais facilidade por conta de uma sobrecarga no sistema circulatório de cerca de 30% durante a gestação.

O que fazer: Mais uma vez, o ideal é investir no preparo físico antes de engravidar para ter uma recuperação mais rápida. Também podem ajudar seções de fisioterapia especializada antes e após o parto para fortalecer a musculatura, desde que haja liberação do médico, claro.

BOAS-NOVAS

Sabia que, quem se torna mãe com 40 anos ou mais tem quatro vezes mais chance de chegar aos 100? Estudo norte-americano sugere que o ritmo do envelhecimento diminuiria por conta da explosão de hormônios da gravidez em um período da vida no qual a mulher está com a concentração de hormônios em declínio. A liberação de mediadores neuroquímicos durante a amamentação preveniria possíveis deficiências cognitivas da menopausa e protegeriam o cérebro da mãe.

Por: Fernanda Carpegiani

Fonte : Revista Crescer

Postado por Juliana Simioni

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