Brinquedos demais, brincadeiras de menos

É fundamental que as crianças tenham mais experiências com brinquedos analógicos que digitais, que possam elas mesmas ser e/ou produzir as respostas dos desejos de suas brincadeiras

Fonte: www.tacodemulher.com.brAtualizado: sexta-feira, 17 de outubro de 2014 às 15:13
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brinquedosVou começar meu texto da semana com duas perguntas:

1) Quantos brinquedos seus filhos têm?
2) Quantos brinquedos você teve?

Provavelmente você não saberá responder a primeira pergunta, mas saberá, mesmo que de maneira aproximada, responder a segunda. E, nem preciso perguntar, creio que já sei a resposta: quem usou e abusou mais de seus brinquedos: você ou seus filhos?

O mundo girou, a Lusitana rodou, o tempo passou e muita coisa mudou, inclusive a capacidade das nossas crianças de focar em seus brinquedos e brincadeiras. E isso não é bom. A capacidade de concentração e cognição de nossas crianças está seriamente comprometida, piorando a cada dia, e defendo que a maior causa é o excesso de brinquedos e eletrônicos no seu dia a dia.

Os brinquedos precisam ser explorados, consumidos, devorados, decifrados, gastos e sugados até o fim. É essa a finalidade deles. Eles nos “ensinam” a cuidar deles, guardá-los pra podermos encontrá-los depois, observá-los, analisá-los e explorá-los em todas as suas possibilidades – inclusive quando quebram e passam a ter outras funções, descobertas ao longo de todo o tempo de uso dele.

Todos esses processos serão necessários por toda as suas vidas, e devem ser aprendidos na infância, como aliás deve ser quase tudo o que precisamos para sermos adultos ativos, atuantes, criativos e responsáveis.

No caso dos joguinhos de tablets e celulares, seu uso excessivo compromete, entre outras coisas, a capacidade de esperar: nos jogos, a resposta é imediata, qualquer comando é prontamente obedecido, as coisas aparecem como que por encanto para satisfazer o poço sem fundo de desejos que somos, desde crianças.

E na vida as coisas não são assim. Portanto, é fundamental que as crianças tenham mais experiências com brinquedos analógicos que digitais, que possam elas mesmas ser e/ou produzir as respostas dos desejos de suas brincadeiras: elas terão que desenvolver coordenação e aprender a colocar a roupinha na boneca, montar o carrinho ou o quebra cabeças, e não apenas depender do simples deslizar de seu dedo por uma tela para realizar seus desejos.

Refeições com tablets à mesa são outra coisa que prejudicam demais nossas crianças: elas não se concentram no que estão comendo, não aprendem a socializar ou se comportar à mesa, e, segundo sérios estudos disponíveis na internet, ficam com a digestão prejudicada. Esse hábito pode facilitar muito a vida dos pais em situações de emergência, mas recomendo que gastem um pouco mais de tempo e energia se impondo para que eles possam alimentar adequada e educadamente, porque isso faz parte de nossas funções, afinal – e é muito importante que as desempenhemos, é para isso que estamos aqui e é a nossa autoridade e o incansável desempenhar de nossas funções que fazem de nossos filhos crianças seguras e atuantes.

Agora vamos à questão prática: seus filhos já tem milhares de brinquedos. O que fazer?

Sugiro que a grande maioria seja guardada, que alguns sejam doados – e que seus filhos participem desse processo, selecionando os brinquedos a serem doados, e, se possível, entregando esses brinquedos e vendo a reação feliz das crianças que os receberam – e que você disponha apenas cinco ou seis de cada vez e se sente com eles um pouco para explorarem juntos cada um deles.

Brinque, sugira, pergunte como usar cada um, inventem juntos novas maneiras, criem nomes pra eles. Explorem. Isso será maravilhoso pra estreitar vínculos entre vocês e desenvolverá autonomia pra que as crianças fiquem por horas e horas concentrada, brincando, inventando maneiras de brincar, criando, e, sobretudo, entendendo que não é necessário ganhar coisas e mais coisas pra ser feliz e se divertir.

Aliás, recomendo que façamos isso também com os nossos brinquedos: roupas, sapatos, gadgets, cosméticos, acessórios. Que dependamos cada vez menos da proliferação deles em nossas vidas para sermos felizes e realizados. Lembrem- se: somos poço sem fundo de desejos, quanto mais tivermos, mais “necessitaremos”, e, portanto, mais insatisfeitos ficaremos.

Amor e gratidão.


- Fabiana Vajman
www.tacodemulher.com.br 

 

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