"Isso é normal, casamento mata o romance [...] Vocês estão assim porque são namorados, estão apaixonados". Quantos casais já ouviram frases como essas antes de iniciar uma vida conjugal ou mesmo quando o cotidiano refreou as manifestações de carinho. O site Família e Graça, do Pr. Josué Gonçalves, conferencista na área familiar, fez uma enquete e propôs a seguinte questão aos internautas: "O que você acha que mais está faltando em seu casamento?". Das 773 pessoas que participaram, 23% respondeu "romantismo". Mas alguns casais provam que existe sim "romance após o casamento".
"O romantismo não é uma obrigação. Quando a gente ama, ele é uma coisa natural. Mantém vivo a chama do amor", afirma o engenheiro José Manoel Cunha. Casado com Emília Lúcia, o relacionamento do casal completa 27 anos neste mês. Pais de três filhas: Adriana, 25, Amanda, 20, e Jackeline, 14, eles contam que conseguem manter o romantismo procurando estar juntos em momentos da vida cotidiana, como assistir à TV ou estar na cozinha com o notebook ligado enquanto o outro lava louça. "Existe uma vontade de ficar junto. Estamos juntos porque gostamos. Porque nós somos como plantinhas. Se você deixa de regá-las com o passar do tempo, a não ser os cactos, a tendência é morrer", fala Emília, sorrindo.
A filha mais nova de Manoel e Emília conta que os enxerga como um casal maduro que namora. "Muitas vezes chamam-se por apelidos, lembram momentos juntos. Às vezes só um dá risada da piada do outro, mesmo que não tenha graça. Exigem um beijo antes de irem para qualquer lugar. Em uma conversa você está lá falando de um assunto e um ou outro está trocando elogios, cochicando, até mesmo em frente à TV", explica Jackeline.
O casal Fabio e Leonora Ciribelli também consideram-se namorados após 26 anos de casamento. Pais de João, 23, e Lia, 24, dizem um ao outro "eu te amo", trocam elogios, andam de mãos dadas, falam-se ao telefone durante o dia, enviam mensagens pelo celular, vão ao cinema, viajam e beijam-se na boca. "O diálogo é muito importante em um relacionamento. O fato é que só de estarmos um com o outro já é muito bom! Para nós estas atitudes são tão importantes como dormir, comer, tomar banho. Elas geram saúde, vida, fazem parte do nosso cotidiano. Quando deixamos de praticá-las há um incomodo, sentimos falta", comenta Leonora. Psicóloga, ao lado de seu esposo Fabio, pastor da Igreja Presbiteriana de São Vicente (SP), orienta casais e ministra curso para noivos.
Usando a criatividade Amanda Cunha lembra um momento difícil para a família. Por dois anos, seu pai residiu em cidades do Rio Grande do Norte a trabalho, o que entristecia os pais, apesar das longas ligações diárias. "Quando minha mãe ficava em casa, pois ela passava um período conosco no Guarujá (SP) e um outro período com ele, às vezes estava triste. Se perguntássemos o porquê, ela falava que eram saudades do meu pai", afirma Amanda. Para a filha do meio do casal é nítido como um preocupa-se com o outro: "Nas orações há a preocupação de pedir pelas causas do outro e o cuidado de pedir a proteção de Deus sobre o amado. O cuidado é tanto que é como se falassem ao Senhor: 'Olha, cuida dele(a), é o meu tesouro'. E a verdade é que meu pai chama minha mãe assim".
Leonora Ciribelli entende que o cotidiano pode tornar-se um empecilho para um relacionamento romântico, mas é necessário aprender a lidar com isso: "A vida é dinâmica a todo tempo. Se não nos cuidarmos, deparamos-nos com atividades que nos 'seduzem', exigem tempo, desviam a atenção e produzem emoções, requerendo sempre mais de nós. Por isso, temos que estar em alerta! É preciso cuidar do bem amado, que vale a pena amar". Indo contra uma idéia comum de que o amor materno e paterno superam outros afetos, inclusive o que existe entre o casal, Leonora afirma que em sua família a prioridade é o cônjuge. "Amamos nossos filhos, mas não abrimos mão de sermos prioridade na vida um do outro. Filhos têm tempo determinado na casa dos pais. Já os cônjuges, depois que os filhos crescem, voltam a viver sozinhos em sua maioria. Temos esta consciência, por isso não abrimos mão de cultivarmos esse amor, para mais tarde não sermos dois estranhos por termos passado um longo periodo priorizando os filhos", aponta Leonora.
Quando a situação financeira não favorece grandes surpresas, o clima de romance pode ficar prejudicado, mas criatividade e algumas atitudes trazem calor ao relacionamento. Manoel e Emília entendem que não é necessário gastar muito dinheiro para sair do cotidiano. "Às vezes, saindo da rotina, vamos até um cafezinho no shopping. Antes de casar, quando estávamos noivos, saíamos de bicicleta, comíamos um x-burguer e voltávamos para casa. Isso era um passeio máximo (risos). Fazíamos isso para não gastar muito dinheiro, pois estávamos para casar", conta Emília. "Eu a levava de bicicleta para a casa dela e depois ía embora. Nada de deixá-la andar sozinha", completa Manoel. O marido aconselha: "É isso. Pega uma bicicleta e vai dar uma volta pela praia. Se você não tem carro, deve ter uma bicicleta, e se não tem, dá uma volta com o seu amado a pé, passeando pelas coisas interessantes da sua cidade, tomando um sorvete no verão e um chocolate no frio. Dê um cartão. Você nem precisa comprar um, pode pegar um envelope e escrever em uma folha sulfite".
Surpreendendo
Mas também existem momentos para grandes surpresas. Emília Cunha conta que inovou quando colocou em sua rua uma faixa com dizeres românticos e um apelido para seu esposo: "fofinho". "Um dia, naquela época, ele disse que havia engordado e eu falei: Não, você está fofinho", explica Emília em meio a risadas. "A primeira tele-mensagem quem mandou para ela fui eu. Logo que apareceu há uns anos atrás", fala Manoel, que para ilustrar sua surpresa cantou a canção de Roberto Carlos, que foi tema da mensagem: "'Quando nós nos conhecemos, num instante percebemos que o amor...'. O nome dessa música é "A primeira vez’, eu acho muito linda". Fábio Ciribelli, por amor, foi ousado já no namoro. Quando perguntado a respeito de uma grande surpresa que fez a esposa, respondeu: "O pedido de casamento quando tínhamos apenas três meses de namoro". Leonora também surpreendeu com uma faixa, só que esta ultrapassou fronteiras. "Fábio estava viajando para a Coréia do Sul e eu, do Brasil, consegui enviar uma faixa imensa (por um amigo, em total sigilo) com dizeres românticos para comemorar o 14º aniversário de casamento", conta Leonora.
Neste Dia dos Namorados, os dois casais pretendem descansar. Manoel e Emília, que residem no Guarujá, litoral paulista, contam que provavelmente irão passear no shopping e dar uma volta em Santos (SP).
"Vamos ficar 'morgando' (livre, sem obrigações) dentro de casa, só nós dois. Estamos viajando muito, pouco temos ficado em casa, então neste ano o melhor lugar para namorarmos será não sair de casa, não queremos planejar, ter compromissos, apenas estar juntos", explicam Leonora e Fábio, também moradores da Baixada Santista, na cidade de São Vicente. Os filhos também testemunham o amor A filha mais velha do casal Ciribelli, casada com Marcelo Honório há oito meses, vê em seus pais um casal que consegue estabelecer o papel de marido e mulher. Lia acredita que os pais estavam preparados para sua saída de casa, assim como a de seu irmão, que atualmente reside em São Paulo e em setembro casa-se em Fortaleza (CE). "Os dois se amam e se respeitam muito [...] Atualmente, os dois estão novamente 'sozinhos' e conseguem lidar bem com isso, sem provocar em mim a sensação de que os abandonei ou que eles não consguirão viver sem mim e meu irmão em casa. Claramente, eles sempre foram prioridade um para o outro", conta a filha. Lia credita a seus pais o exemplo de que um relacionamento pode tornar-se ainda melhor após o casamento, uma crença que vai contra a opinião comum. Para os pais, Leonora e Fabio Ciribelli, a forma do casal relacionar-se é única, mas os princípios de como cultivar o amor foram passados ao longo do casamento. O casal Manoel e Emília também crê que este aprendizado seja natural.
"Levarei para meu relacionamento o exemplo deles, que muitas vezes anulam-se para ver o outro feliz e acabam sendo felizes juntos; assim como sempre conversam quando acontece alguma coisa. O lance de nunca esconder nada um do outro é muito legal também, o jeito de se conhecerem só pelo olhar, sem falar absolutamente nada, e o jeito de dizer e provar que se amam, até nos mais simples gestos", declara Jackeline, a filha de 14 anos do casal Cunha. "É como meu pai diz: Amar é ser menos eu e mais a pessoa amada", completa Amanda, a filha do meio. "Só amor romântico não basta"
Para o pastor Josué Gonçalves só amor romântico não é suficiente. É necessário amor sacrificial. Em seu site, Família e Graça, o pastor relata no artigo "Só amor romântico não é suficiente!" a experiência que viveu em janeiro de 2006, quando sua esposa recebeu o diagnóstico de um tumor maligno. "Lembro-me como se fosse hoje, quando o médico começou a desenhar em um papel, mostrando-nos a gravidade e a dimensão do problema, foi difícil acreditar que tudo aquilo estava acontecendo conosco. Ele disse, será um ano onde tudo terá que ser alterado, por causa da cirurgia, da quimioterapia e da radioterapia etc. Após ouvirmos tudo aquilo, saímos da sala em silêncio. Ao chegar no carro, choramos intensamente sem saber o que dizer um para o outro. Quando me refiz emocionalmente, liguei o carro e sai em direção à nossa casa, na rodovia Fernão Dias, parei o carro debaixo de uma árvore para orarmos. Foi a oração mais difícil que já fiz, porque não estávamos orando para brigar com Deus, mas para reconhecer sua soberania e pedir graça para atravessarmos aquele deserto. Depois de orarmos, eu tinha diante de mim a oportunidade para declarar o meu amor sacrificial à minha esposa. Após a oração, eu segurei na mão dela e disse: 'Durante todo o tempo que for necessário para o tratamento, vou provar que o meu amor por você não é apenas romântico, mas sobre tudo, sacrifical'. Foram meses viajando para ministrar em eventos para casais, sem tê-la ao meu lado, deixando-a aos cuidados de pessoas amigas. A prova passou, hoje ela está curada [...] Após atravessar aquele deserto, saí do outro lado mais doce, mais sensível, mais compreensivo, mais maduro, mais casado, mais romântico! Hoje voltamos a viajar juntos, namorar, brincar e curtir os nossos filhos com muita alegria. Não basta se preocupar exageradamente com a decoração da casa, se não houve investimento significativo no alicerce", testemunha o pastor Josué.
"O amor romântico é apenas o ornamento, a decoração, a pintura, os vasos, as plantas, as flores, os quadros na parede, os tapetes etc. Tudo isso é necessário em uma casa, pelo contrário a casa fica sem graça, sem vida, sem alegria, sem beleza. Porém, se o amor romântico é a ornamentação que torna a construção mais bonita e alegre, o amor sacrificial é o alicerce, a fundação. Aonde você está agora, não é possível enxergar o alicerce desta construção, mas é o que sustenta e dá segurança", completa.
Fonte: Guiame
Por Adriana Amorim
Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia
O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições