Coluna - Marilene Ayalla: E por falar de saudade...

Coluna - Marilene Ayalla: E por falar de saudade...

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:32

Coluna - Marilene Ayalla  

E por falar de saudade...

Temos ouvido e visto muito sobre mortes. De qualquer pessoa, com qualquer idade, de qualquer lugar. "Para morrer, basta estar vivo", dizem. E somam-se as notícias de mortes! Mas, por que falar deste assunto? Porque seres humanos, em todo o mundo, não importa que linguagem tenhamos, gravamos na memória cenas e sentimentos vividos e entre eles um especial, o da SAUDADE.

Que recebe outras denominações como em espanhol onde dizem "Soledad", ou no inglês onde dizem "I miss you", mas que só para nós, brasileiros, tem um significado profundo de...DOR E LUTO...

No meu cotidiano, oriento pessoas das mais variadas idades na lida com essa dor e esse luto. É doloroso, a princípio, vê-las tão tristes e inconformadas, diante de algo que não esperavam. Não importa se perderam um cãozinho, um anel, emprego, amigo com o qual se desentenderam, mudança para longe, grande negócio ou mesmo um ser amado que morreu após longa agonia ou repentinamente, violentamente.

Perda traz Luto e isso DÓI, INTIMAMENTE, PROFUNDAMENTE E PARECE NÃO CURAR.

Na maioria das vezes, sou o único ouvido que as ouve, que lhes permite falar do assunto, do que sentem, a única pessoa que as deixa chorar e repetidamente contar as mesmas histórias, oferecendo-lhe paciência e compreensão. Permitindo-lhes SENTIR SAUDADE livremente, elaborando assim o sofrimento. É nessa hora que é comum ouvi-las dizer: "será que vou esquecer a experiência vivida ?" ou mesmo o mais terrível dos medos: "o de esquecerem os rostos amados". Confesso que na maioria das vezes a pessoa se vai confortada e mais forte, mas ao fechar-se a porta, eu choro. Sim, o choro que diante da dor alheia aprendi a conter, para poder compreender e auxiliar, ser solidária. Mas esse sentir faz parte das minhas emoções, e sim, eu sinto!

E aconteceu que se encontraram certa feita, frente-a-frente, a terapeuta com sua jovem cliente falando de saudade. Esta, inconformada com a perda de seu pai. Homem de menos de 50 anos, vítima de um enfarte fulminante, vendo um jogo de seu time preferido de futebol, cabeça no colo dessa filha querida. Entre tantas palavras e lágrimas nasce do desespero a frase: "Tenho medo de esquecer o rosto do meu pai...Dizem que o tempo cura tudo, mas faz tão pouco tempo e eu estou esquecendo o rosto dele, tento lembrar, mas não consigo, só choro...".

Dentro de mim havia tanto amor fraterno, mas externamente envolvi-a em compreensão e orientação. Até que se equilibrasse e quando se foi, estava fortificada e muito mais tranqüila. Conscientizei-me de que, por Ética, eu não pudera dizer-lhe o quanto eu me solidarizava e empatizava com ela, pois meu pai morrera, também muito moço e de repente. Naquele dia mesmo fazia 38 anos de sua morte; e me lembrava até das pequenas rugas que se formavam ao redor dos seus olhos quando ele sorria para mim.

Quanto mais o tempo passa, a dor empalidece, fica suportável, mas a SAUDADE, NÃO.

E é ELA, que fixa as faces dos nossos amados e não as apaga. Pelo contrário, elas ganham as cores da lembrança, os traços do amor que nos uniu, a música de nossas risadas e o trovão de nossas rusgas. A face dos nossos amados não se perde de nós jamais.

Restou-me a esperança de que ela leia estas linhas, quem sabe... E eu digo-lhe com toda minha emoção: "Bendita saudade que nos marca como ferro em gado, é ela que reaviva os sentimentos, a memória do que vivemos. A face de quem amamos... Ela é o alicerce do Amor que nos une sempre.

E só o Amor, vale a pena. Viva-o. Intensamente"

Marilene Ayalla é psicóloga clínica com larga experiência em atendimento individual e em instituições e empresas, acredita que a Psicoterapia é instrumento valioso de reformulação do ser humano, com suas próprias emoções e comportamentos.  

*Marilene Ayalla atende em clínica particular com hora marcada pelos telefones 11 - 5536-0764/9982-8408.

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