Como a criança entende o luto

Como a criança entende o luto

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:31

Quando se fala de luto infantil, é possível compará-lo ao do adulto no que tange ao processo de reconstrução – e até de organização – diante da morte. "Durante um certo tempo, a pessoa fica anestesiada com a situação, e nesse momento ela deve reorganizar os sentimentos e os pensamentos, partindo de um desafio", conta. Segundo psicóloga Márcia Ferreira, a elaboração do luto requer a organização dos "aspectos cognitivos" (reconhecimento), pelo qual temos de acessar "mecanismos intrapsíquicos" (apoio e aceitação, por exemplo) para lidar com a situação. Também é preciso trabalhar bem os aspectos afetivos e vinculares da criança com a pessoa que faleceu.

Os chamados "recursos cognitivos para compreender a morte" só vão ser usados pela criança a partir de uma certa idade, geralmente dos 4 aos 6 anos. "Até então", explica, "a criança ainda não internaliza o que é dela ou o que é do outro. Ela ainda está mais voltada para si mesma e só vai lidar com a morte a partir da fala do adulto. Para ela, os rituais de passagem, como o velório e o enterro, ainda não fazem sentido, mas ela vai elaborar seu luto quando perceber diferentes atitudes da família: movimento maior na rotina da casa, ausência de um ser querido, pessoas diferentes (avó, vizinha, tios) aparecem para ajudar". Ao sentir e perceber, então, a falta de alguém, ela começa a deduzir e fantasiar que algo sério possa ter acontecido.

"Até 4 anos ela não entende a irreversibilidade, embora reconheça a perda. Com 5 ou 6 ela já reconhece essa perda como definitiva, pois já não é mais egocêntrica e observa o mundo e a realidade com mais propriedade", conta a psicóloga. "Antes disso, ela se sente confusa e triste, mas mantém a idéia de que essa pessoa ainda volte", observa. O período de assimilação da morte é chamado "operação de pensamento afetiva", em que ela se dá conta da situação a partir da informação que o adulto passa para ela. Depois dos cinco anos, a criança já teve, de uma forma ou de outra, contato com a idéia de morte: "Ela vê isso em desenhos animados, em filmes, em noticiários, e passa a entender o distanciamento e a saudade".

O que fazer quando ela parece não aceitar?

Existem alguns sinais em que ela demonstra não assimilar a situação. O primeiro é denominado Recusa ou Negação: se ela tiver perdido o pai, por exemplo, vai dizer à mãe ou a um irmão que "o pai disse que você não pode mexer nas minhas coisas". Nota-se aí que ela não tem noção do aqui e agora e que usará como mecanismo de defesa o fato de não diferenciar o real do imaginário. Numa segunda hipótese, ela não cita mais o nome do ser ausente, como se não quisesse pensar na pessoa morta. "Nesses casos, ela não gosta nem sequer que os adultos falem".

Atitudes como essas podem ser verificadas normalmente quando se trata do processo de elaboração do luto. Quando a morte já aconteceu há muito tempo e a criança não se "desliga" do assunto, trazendo o ente querido para o presente, é que se pode pensar que houve da parte do adulto medo ou o receio de ferir a criança ou ainda dificuldade para falar desde assunto. "A morte não é algo encarado com naturalidade, mas faz parte da vida de todos nós, por mais que não queiramos. Sendo assim, é preciso conversar com carinho com a criança, mostrando a ela que não está desamparada, apesar da ausência daquele que ela ama", pondera.

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