Como escolher os melhores programas de TV para seus filhos

Como escolher os melhores programas de TV para seus filhos

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:21

Quando o assunto é televisão e criança, logo vem à mente uma lista de mazelas que inclui de obesidade a consumismo, passando por erotização precoce e empobrecimento cultural. Motivos para essas associações existem, claro, mas, à medida que avançam as pesquisas sobre essa relação, conclui-se que ela pode ser benéfica. "Bem usada, a telinha já se provou capaz de contribuir para o desenvolvimento infantil, ampliando interesses e proporcionando descobertas", pondera a produtora Beth Carmona, presidente da ONG Midiativa, em São Paulo, que incentiva e promove programação televisiva de qualidade para crianças e jovens. Mas o que significa usá-la bem?

Um começo é riscar a frase "assistir televisão" do vocabulário familiar. Da mesma forma que ninguém diz vou ler" e sai por aí lendo o manual do microondas, não faz sentido ligar a TV para ver qualquer coisa. "O que é visto precisa ter valor e responder a uma motivação", afirma a socióloga Lourdes Atié, coordenadora do núcleo brasileiro do Centro de Estudos sobre Mudança na Cultura e na Educação da Universidade de Barcelona. A capacidade de escolher o que merece ser visto pela criança é um dos motes do recém-lançado livro A TV QUE SEU FILHO VÊ (PANDA BOOKS), de Bia Rosenberg, consultora de entretenimento educativo. "Ligar a TV é como abrir a porta para alguém entrar em sua casa e influenciar seu filho. Você precisa ao menos saber do que se trata", diz Bia. A farmacêutica Thais Maria Valadão de Freitas, 30 anos, mãe de Helena, 3 anos, de São Paulo, concorda. "Não permito programas para adultos para não correr o risco de um contato precoce com valores dos quais discordo", afirma Thais.

Com o controle na mão Uma das maiores autoridades mundiais sobre o tema, a psicóloga Dorothy Singer, pesquisadora sênior do Centro de Consultoria e Pesquisa sobre Família e Televisão da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, é taxativa ao afirmar que os pais não podem abrir mão do controle sobre a TV. "Por mais arbitrário que pareça, é o mesmo direito que você tem de proibir seu filho de brincar com uma faca", compara a especialista. Esse cuidado é particularmente importante na idade pré-escolar. "Até 5 ou 6 anos, a criança está formando hábitos e padrões, e alguns deles valem para a vida toda", constata Ana Mercês Bahia Bock, professora de psicologia social da PUCSP. "Além disso, é mais fácil colocar limites desde cedo, quando há menos probabilidade de conflitos."

Cronômetro ligado O abuso de televisão tem sido associado a passividade excessiva, baixa capacidade de reflexão e dificuldade de concentração. "Os cortes súbitos e o ritmo acelerado criam um padrão de estimulação ao qual o cérebro se adapta e que, por comparação, faz com que a vida real pareça lenta e desinteressante", explica a psicoterapeuta Ana Olmos, especialista em neuropsicologia. A educadora Paula Bacchi, orientadora da educação infantil do Colégio Santa Maria, em São Paulo, confirma: "As crianças que ficam na escola em meio período e vêem TV em casa são mais inquietas do que os colegas do período integral". Não há consenso sobre o limite seguro para essa exposição, mas a Academia Americana de Pediatria considera tolerável o máximo de duas horas por dia.   Cada coisa a seu tempo Quanto menor a criança, mais importante que o tempo diante da TV seja subdividido em períodos pequenos, para que ela possa digerir e processar o que assistiu. E nada de fazer lição, comer ou dormir diante da tela. "Oferecer uma rotina organizada e estável, em que as atividades não se sobreponham, favorece a percepção de que a vida contempla múltiplos interesses", ensina Ana Bock.

Selecionados a dedo Montar o mix de programas a que os pequenos vão ter acesso é tarefa dos pais. A criança deve ser consultada, mas cabe à família enriquecer essas escolhas com opções de qualidade. Dependendo da situação, vale bloquear a TV para canais e horários que a família considere inadequados. Foi o que fez o casal Renato Pereira Alves, empresário, 42 anos, e Joelma Gonçalves Marques Alves, consultora comercial, 36, pais de Pedro, 4 anos, de São Paulo. "Deixamos de fora os programas e canais que não acrescentam nada à formação do nosso filho", justifica Renato. Esse bloqueio pode ser feito em alguns pacotes de assinatura de TV a cabo ou por satélite.

Censurado Todos os especialistas ouvidos para esta reportagem concordam que crianças não devem ver programas para adultos, principalmente novelas e telejornais. No caso das novelas, os pequenos têm dificuldades em acompanhar as tramas, repletas de intrigas, traições e apelos eróticos. Para eles, fica apenas uma percepção alterada de como as pessoas se relacionam. O problema com os jornais é que os pequenos vêem aquela sucessão de crimes e desastres e não conseguem discernir o que pode ou não acontecer com eles. "Crianças com acesso ilimitado à TV costumam ter uma visão distorcida das pessoas e do mundo, que lhes parece essencialmente assustador", alerta Dorothy. O pequeno Bruno, 6 anos, é uma vítima desse estado de apreensão. Filho de pais separados, ele só passa alguns dias na casa do pai, que restringe a TV à programação infantil. "Mas, quando não está comigo, ele assiste a telejornal e noto que fica preocupado com a possibilidade de presenciar algum crime", conta o pai, o físico Leonardo, 29 anos, de São Paulo.

Participar sempre Mesmo com uma boa programação, os benefícios são mais visíveis se existe estímulo para o filho comentar o que viu. O contrário também é verdadeiro: uma programação que parece pobre, como os seriados e desenhos de lutas, pode se transformar em pretexto para bons papos sobre formas de resolver conflitos que não pela força. "Não precisa promover debates nem passar sermões: basta perguntar o que a criança achou. Se não deu para assistir junto, a conversa pode acontecer, por exemplo, durante o jantar, quando os adultos já costumam falar dos livros e filmes que viram. O pequeno se sentirá valorizado ao dar sua contribuição", sugere Ana Bock.   O melhor para cada idade

2 ANOS

A criança está consolidando a noção de individualidade, e o desenvolvimento da linguagem é seu maior desafio. Apresente a ela programas com quadros curtos e enredos bastante simples, com foco na nomeação e na descrição de objetos e ações. Prefira os de ritmo lento, com falas e narrações pausadas, para facilitar a assimilação das palavras.

3 OU 4 ANOS

A criança usa intensamente a imaginação para compreender e recriar a realidade. É a fase ideal para produções que usem técnicas de animação variadas, com muitas cores e músicas, e para enredos criativos que explorem a fantasia, como os programas que têm animais como protagonistas.

5 OU 6 ANOS

A criança começa a desenvolver sua capacidade de julgamento e está mais atenta aos vínculos interpessoais. Boa hora para os super-heróis entrarem em cena, ajudando a compreender as relações entre o bem e o mal; enredos com foco nos laços familiares e entre amigos; e ainda pequenos documentários.

Os programas que a gente ama Conheça algumas produções que contam com o aval dos nossos especialistas. A maioria delas está disponível nas TVs educativas. Verifique a programação no seu estado.

RÁ-TIM-BUM

Mescla conteúdos educativos e histórias divertidas, com quadros rápidos e produção bem-cuidada.

CASTELO RÁ-TIM-BUM

Sucesso desde o lançamento, explora questões de relacionamento e conteúdos educativos com criatividade.

JANELA, JANELINHA

Pequenas histórias com animação ou protagonizadas por crianças de diversos países.

CAILLOU

Desenho canadense que retrata o universo de um garoto de 4 anos.

COCORICÓ

Essa animação se passa em uma fazenda e traz histórias divertidas e boa música.

BARNEY E SEUS AMIGOS

Colorido, tem enredos simples e linguagem facilmente compreensível. O protagonista é um dinossauro lilás. Disponível no canal pago Discovery Kids.

SÍTIO DO PICAPAU AMARELO

Inspirado na obra de Monteiro Lobato, explora uma temática e uma estética bem brasileiras, com persona gens como o Saci, a Cuca e São Jorge e o Dragão. Disponível somente em DVD.

BEBÊ MAIS

Dedicado aos menores de 3 anos, estimula o conhecimento de formas geométricas, palavras, animais e objetos. Disponível somente em DVD.

Publicidade para crianças "Quem é publicitário sabe que criança acredita nos comerciais, embarca em qualquer fantasia e não se preocupa com a qualidade do que é anunciado", diz a psicóloga Maria Helena Masquetti, com a experiência de quem já transitou pelos dois lados da trincheira. Ex-redatora publicitária, ela diz que uma máxima da área é que fazer anúncio infantil "é mais fácil do que botar prego em sabonete". Hoje, integrante do Projeto Criança e Consumo, que tem o objetivo de combater a publicidade dirigida ao público mirim, Maria Helena é uma das defensoras da proposta de regulamentação do setor que a Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara aprovou em julho. Entre outros pontos, a futura lei, se aprovada, proibirá anúncios dirigidos a menores de 12 anos e a presença de crianças em peças publicitárias. O cientista político Guilherme Canela, coordenador de Relações Acadêmicas e Pesquisa da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), que participou da discussão do projeto, diz que a proposta brasileira tem princípios semelhantes aos da Suécia, primeiro país a adotar esse tipo de controle, ainda na década de 1990. "Ela foi um marco, por tratar do assunto também como questão de saúde pública, relacionando o aumento da obesidade infantil ao estímulo do consumo de guloseimas", ressalta Guilherme.    

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