Dia dos pais, vale refletir

Dia dos pais, vale refletir

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:11

“Não retires a disciplina da criança, pois se a castigares com a vara, ela não morrerá. Castigando-a com a vara tu a livrarás da sepultura”. (Pv 23:13-14, AS21)

Li recentemente, na Revista Ultimato, uma frase do senador Álvaro Dias, a qual, transcrevo: “Sou contra o projeto da chamada Lei da Palmatória por considerá-lo uma ingerência indevida do Estado na administração da família brasileira. Entendo que o Estado não tem o direito de decidir a maneira como os pais desejam educar seus filhos. Contra eventuais abusos já existe a lei penal que se aplica a todo caso de violência seja contra quem for” (Maio-Junho de 2012, Edição 336, p. 12).

De fato, a lei é uma ingerência na vida familiar. Existem muitos abusos quando o assunto é correção de filhos, mas daí proibir e dizer que os pais não podem corrigi-los é demais. Se levarmos em conta a Palavra de Deus, não temos uma ordem direta para castigar os filhos fisicamente, do tipo: “Batei semanalmente em vossos filhos” ou “Bata no seu filho, pois, esta é a única forma de ele ser uma pessoa direita”; mas, ela não desabona este ato quando necessário. Isto, é óbvio, quando o mesmo estiver de acordo com o propósito bíblico da disciplina.

Para tentar deixar isto mais claro, gostaria de compartilhar com você um estudo que apresentei como requisito parcial de nota, numa das disciplinas da FTBSP (Faculdade Teológica). Desculpe os termos hebraicos que aparecem no artigo. Tentei tirar todos quantos foram possíveis. Só mantive os que julguei importante para compreensão correta do texto bíblico. Acompanhe-me até o final do texto. Estou certo de que, como foi para mim, pode ser que para você também seja edificador estudar este Provérbio. Vamos frase por frase.

“Nunca prive o menino da disciplina”

O que é a disciplina a que o texto se refere? A palavra hebraica traduzida por disciplina neste texto é Mûsar, que significa correção que resulta em educação. Este tipo de disciplina transmite a certeza de que realmente se é filho de quem disciplina, e que se é amado por quem disciplina. Como se ministrava a disciplina? Este Provérbio fala do uso da “vara”, todavia, na maioria das vezes mûsar está ligada à instrução oral. No verso anterior ao que estamos analisando, a palavra traduzida por “disciplina” foi traduzida por “instrução”. Temos a mesma palavra no original. Esta disciplina é treinamento para a vida. O mûsar como castigo sempre é o segundo passo. Para ser válido, o mûsar como instrução já deve ter sido feito. Quando a instrução é dada, mas não é observada, daí sim, temos o passo seguinte, que é a “instrução” com o castigo. Entender esta disciplina neste sentido é importante, porque ao colocá-la em prática, devemos nos lembrar de que não devemos descarregar nossas frustrações nem nossa ira sobre os filhos pelo que eles fizeram, mas corrigi-los com o fim de treiná-los. Qualquer correção que não é feita com este propósito não é disciplina bíblica.

Quem deve ser disciplinado? É muito interessante a palavra hebraica que é usada: ná‘ár. O dicionário Internacional de Teologia mostra que a palavra fala de alguém entre o desmame e a juventude. Refere-se não somente à criança, mas ao jovem que já está pronto para sair de casa e se casar. No início da juventude, etapa inicial da vida, somos imaturos, mas cheios de energia e abertos para receber treinamento. O pai deve treinar o filho para a vida, se preciso disciplinando-o, até nesta fase da vida, segundo este texto.  

“… pois se você o bater com a vara, não morrerá!”

Esta parte tem até uma dose de humor: “Ninguém vai morrer por levar algumas palmadas!”. E é importante esta frase porque já evidencia que não está na mente do autor o espancamento. Não é bater para machucar. A expressão “bater com a vara” é uma forma de mûsar, isto é, treinamento para vida. Se o bater com a vara é para treinar, então, já eliminamos o sentido de espancamento. Temos também a figura da “vara”, que em Provérbios simboliza a disciplina. Se, de fato, um pai bater com uma vara, não matará o filho. É difícil um pai ter uma vara em casa, guardada para bater no filho. Até porque com o tempo ela seca. Vara, você precisa colher. Este tempo de ir até o pé colher, é um tempo em que o pai reflete sobre o que vai fazer com o filho. Era pedagógico, pois os pais tinham tempo de refletir, e havia menos possibilidade de descarregar sua ira sobre o filho.

É bom que se diga que o castigo físico nem é o único meio de educar uma criança. Não adianta nada bater em uma criança se ela não for ensinada sobre o temor do Senhor, sobre sua justiça e amor. Este Provérbio não está dizendo simplesmente: “Bata no seu filho”. O grande ensino é “treine seu filho para vida!”. Não o prive do treinamento. Se precisar, utilize métodos que envolvam dor física. Mas, esta não é a única maneira de educar um filho. Para eles, no contexto em que o Provérbio foi escrito, era. Mas hoje, podemos utilizar outros métodos, antes de chegar a ter de disciplinar um filho fisicamente. A verdade é que muitos pais estão tão ocupados com a sua vida, que não querem “perder” tempo para educar os filhos para a vida. Quando fazem algo que não os agradam simplesmente “batem” nos mesmos, sem tê-los ensinado nada sobre aquilo. Bater por bater não treina ninguém para vida, só cria traumas!

“Você, com a vara, se o bater…”

A responsabilidade de “bater” num filho, ou aplicar uma disciplina séria, quando necessário, é dos pais. O “você” aponta neste sentido. Quando os pais negligenciam isso, estão fugindo de suas responsabilidades. E o mais grave: estão prejudicando o futuro do próprio filho. A continuação do provérbio diz:

“… pode sua vida da sepultura livrar”.

Deixar de usar a disciplina preventiva da repreensão verbal e a disciplina corretiva do castigo físico redundará na morte do filho. Obviamente não estamos falando de morte eterna e nem de salvação espiritual. Não é que, batendo, salvaremos a alma da criança, mas que, quando isto for feito com sabedoria, ela terá benefícios, inclusive a salvação de uma morte prematura. O menino pode viver de qualquer jeito e se tornar um insensato, se não for disciplinado. Se nossos filhos não forem treinados para a vida, se tornarão maus cidadãos. Se não forem treinados, pode ser que lá na frente escolherão caminhos perigosos.

Daí, com este objetivo em mente, poderíamos até perguntar: pelo que se deve castigar uma criança? Isto é, se a finalidade da disciplina é que lá na frente ela não se torne um rebelde indisciplinado, e destrua sua vida, devemos executar a disciplina para livrá-la deste caminho quando ela estiver se comportando com rebeldia. É a criança com o coração rebelde que deve ser disciplinada (Pv 22:15). Deixar um copo cair no chão e quebrá-lo não é indisciplina, nem rebeldia. Derramar suco no sofá de casa acidentalmente não é rebeldia. Precisamos levar issoem conta. Docontrário, ao invés de ajudarmos os nossos filhos, podemos criar neles traumas terríveis para seu futuro.

Por fim, coloco uma frase bem brasileira, que já ouvi algumas vezes, e que tem muito a ver com este provérbio que foi alvo de estudo neste artigo: “Eu prefiro bater no meu filho hoje, do que vê-lo apanhando da polícia amanhã”.

Que o Senhor nos ajude a criar filhos para a sua glória!


Pr. Eleilton William de S. Freitas

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