Divórcio antes dos 30

Divórcio antes dos 30

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:41

Os casais separados, assim como as famílias infelizes de "Anna Karenina", são sempre diferentes. A fase da vida em que acontece a separação é parte importante dos motivos e das consequências de um divórcio. E, embora a ideia de casamentos eternos não seja mais assim tão forte como já foi uma vez, pouca gente espera que o "para sempre" termine antes dos 30 anos.

Depois de 12 anos de namoro, Isabela Barros decidiu se casar. “A gente se dava super bem”, diz. “Mas não tínhamos os mesmos planos para a vida”. Ela queria se dedicar à carreira em São Paulo. Ele queria voltar para a cidade dos dois, Maceió, e ter quatro filhos. Eles só esqueceram de conversar sobre isso antes do namoro... Em dois anos e meio, se separaram. “Entre eu perceber que tinha algo errado e o fim, foram apenas três semanas”, conta Isabela, hoje com 33 anos.

Ao desabafar sobre o fim do casamento com uma amiga, tiveram a ideia de fazer um blog sobre relacionamentos. Junto com uma outra amiga em comum, criaram o 3x30, em que assinavam como Solteira. Casada e Divorciada. Nas idas e vindas, que incluíram a troca de uma das integrantes, todos os casamentos terminaram – cedo, antes dos 30. O que não desanimou Isabela, que em outubro vai casar de novo. “Eu gosto da companhia cotidiana. Sou uma casadoira”, brinca.

Aprender com o erro

A maior recomendação dos psicólogos para quem se separou ainda jovem é refletir sobre os motivos da separação. “Quem já foi casado tem mais chances de separar pela segunda vez”, afirma Ailton Amélio da Silva, doutor em psicologia e autor do livro “O Relacionamento Amoroso” (ed. Publifolha). “A pessoa não tem mais medo, já enfrentou o tabu”. Experiência, por si só, não ensina a não cometer os mesmos erros. Margareth dos Reis, psicóloga, terapeuta sexual e de casais do Instituto H. Ellis afirma que é preciso investir tempo e energia para aprender com os erros. “Casamentos desfeitos antes dos 30 normalmente são curtos, frenéticos. É preciso se recuperar e refletir para direcionar o próximo melhor.”

É a cartilha que o editor de vídeo David Donato, 28 anos, está seguindo. Há três anos, casou com festa, papel passado e lua-de-mel. Um ano e três meses depois, assinava os papeis do divórcio. “Foi um relacionamento bem ruim, nos separamos menos amigavelmente do que poderíamos”, diz. “Tivemos problemas de incompatibilidade”. Ficaram alguns traumas – quando percebe que uma mulher por quem se interessou tem traços de personalidade semelhantes aos da ex, David se afasta. “Fiquei mais criterioso. Foi um erro me casar com ela naquela época, mas a ideia é achar outra pessoa e formar família”, diz. Agora é levar a experiência e a maturidade para o próximo relacionamento.

Separada aos 21, a historiadora Talita Noguchi, 25 anos, curte agora os frutos do que aprendeu com o primeiro relacionamento. “Fui morar com minha namorada quando eu tinha 18 anos, no segundo ano de namoro”. Um dos motivos da mudança foi o clima tenso na casa de Talita, pouco depois de assumir para a família que é lésbica. “Na verdade eu nunca estive muito feliz com a situação, mas estava meio acomodada”, conta Talita. O relacionamento terminou depois de três anos sob o mesmo teto, de forma brusca, quando Talita descobriu que a ex já estava com outra pessoa. “Dessa vez, estou morando com minha namorada faz uns bons três anos, e foi muito mais calmo o processo. A primeira experiência me carimbou bastante, e transformei a situação negativa em algo que me deu referências para um relacionamento mais saudável”, afirma.

Facilidade de separar

Para Margareth, a forma com que os relacionamentos se dão na atual geração pode diminuir a tolerância. “Começam de forma muito intensa e, sobretudo entre jovens, acaba se tornando uma convivência muito próxima, que logo evolui à decisão de morar junto, sem a etapa da convivência no namoro, que é quando você identifica incompatibilidades”, afirma. “As consequências aparecem quando as pessoas estão sob o mesmo teto”.

Quem imagina que relacionamentos recentes estão mais protegidos contra o desgaste pode se surpreender de saber que o volume de divórcios é semelhante ao de outras faixas etárias, até a casa dos 70 anos. Só então os números caem de forma mais expressiva. Junte-se a esse fato a recente facilidade burocrática da legislação brasileira para o divórcio e o afrouxamento de cobranças sociais por um casamento “até que a morte os separe” e está montado o cenário para uma explosão de separações. Em São Paulo, o número de divórcios realizados em cartórios cresceu 109% em 2010 em comparação com o ano anterior, segundo dados do Colégio Notarial do Brasil, seção São Paulo (CNB-SP). “Havia uma demanda reprimida. A facilidade no processo impulsiona os números”, afirma Ailton Amélio. Quem se separa jovem tem mais chance, contudo, de “reincidir no crime”, brinca Amélio.

Tempo para começar de novo

A vantagem de se separar antes dos 30 é que há mais tempo para refazer a vida amorosa, sobretudo para as mulheres para quem o casamento faz parte do plano de realização pessoal e querem voltar a se casar. “O homem se recasa com mais facilidade, por um motivo simples: ele procura mulheres mais jovens. No primeiro casamento, a diferença do homem para a mulher é de cerca de 3 anos, no segundo, é de 9”, afirma o psicólogo.

Na casa dos 20 anos, Amélio afirma que os danos são mínimos para o futuro emocional das mulheres. Depois dos 30, as que desejam ter filhos podem ficar ansiosas. As que já têm filhos, por outro lado, precisam se equilibrar na rotina para encontrar tempo para sair, conhecer novas pessoas e paquerar. Amélio lembra que em 90% das separações, a guarda dos filhos fica com a mulher. “Recasar, para a mulher de 40 anos é mais difícil, porque os homens são mais escassos e olham para a mulher de 30”.

É muito difícil afirmar o que faz um relacionamento dar certo. “A idade média mais alta não resulta em casamentos mais longos e estáveis. São mais de 100 fatores que influenciam a durabilidade e qualidade do casamento”, afirma Amélio. “O que precisa para ele dar certo é investimento e tolerância”, diz Margareth. Além, claro, ser seletivo ao assumir o compromisso. “O relacionamento desperta seu melhor lado? Ele te energiza? É possível fazer planos juntos? Existe tolerância e flexibilidade? As diferenças são respeitadas? O casal sabe fazer e rever acordos? Estar num relacionamento só pelo amor não funciona, ele não dá conta de tudo”, orienta a terapeuta de casais. Tudo o mais certo, que venha então o amor.

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