Divórcio e Novo Casamento: Família e Propósito de Deus

Divórcio e Novo Casamento: Família e Propósito de Deus

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:57

É com relativa facilidade que ainda se aceita que constituir e manter a família seja o propósito de Deus. No entanto há dificuldade em entender a finalidade para a qual a família existe.

Muitos imaginam que é suficiente ter um lar composto por um marido e pai provedor, uma esposa e mãe dedicada e filhos obedientes que estudam, desviam-se das drogas e estão bem encaminhados para uma boa profissão e um bom casamento. Seria o máximo que se possa esperar e, portanto, ao alcançá-lo, os pais dariam como cumprida a missão que Deus lhes confiou.

Muito embora isso pareça ser uma conquista muito bonita, temos que admitir que ainda está longe do alvo de Deus; afinal de contas, não fará diferença alguma se o inferno estiver povoado de ex-drogados, ladrões, assassinos, corruptos e estupradores – ou de profissionais bem-sucedidos e de moral elevada.

Desviando o Foco

A primeira consideração é que a família foi concebida por Deus, o que deve determinar a fonte legítima e absoluta de toda e qualquer informação ou direcionamento a seu respeito. Tudo que estiver em desconformidade com essa fonte não pode ser considerado em condições de igualdade, por melhor que nos pareça, com os conceitos da sociologia, psicologia, filosofia ou de outro ramo qualquer do conhecimento humano.

Sabemos que, desde o princípio, a família era o meio que Deus elegera para dar continuidade à criação da humanidade, com o objetivo de que homens sem pecado e vivendo em plena comunhão viessem a governar sobre toda a criação, redimindo-a da vaidade a que estava sujeita. A importância primordial da família na estratégia de Deus também pode ser reconhecida na encarnação de Jesus, que se fez através da família.

No entanto Satanás tenta tirar o verdadeiro foco do reino de Deus, que é a família, para, como nas demais coisas, centralizá-lo no homem, alimentando o egoísmo deste último. Uma de suas estratégias é inteligentemente engendrar no homem uma visão de sexo totalmente distorcida da finalidade que Deus a ele destinou, degradando-o, como forma de encobrir e boicotar seu propósito original. O homem passou a considerar a busca da felicidade como a razão suficiente para a constituição da família, quer seja a felicidade própria (de forma mais imediata), quer seja a felicidade do cônjuge e dos filhos (de forma mais indireta). Contudo, ainda que ambos os objetivos pareçam ser nobres, excluem a razão primeira do casamento que é uma ação a favor do reino de Deus. Somente isso pode, de fato, garantir a felicidade do casal, pois a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita.

Quanto ao sexo, uma vez relegado exclusivamente à finalidade do prazer, impõe que a procriação seja tratada como um empecilho a ser superado na busca desse objetivo, mesmo num ambiente sadio da fidelidade conjugal. Fora do casamento, nada deveria ser cogitado sobre sexo, pois, do contrário, o caminho é sempre o da degradação do ser humano feito à imagem e semelhança de Deus. Ao propor o sexo como uma fonte de prazer, Deus jamais pretendeu reduzi-lo a isso, pois esse relacionamento, em última instância, serviria como comparação ao relacionamento espiritual entre o homem e Deus.

No final das contas, para a sociedade enganada que exala o hálito do fruto do conhecimento do bem e do mal, Deus, a fonte genuína de toda a felicidade, passou a ser considerado o maior obstáculo para a felicidade do homem. Nem mesmo em nossa presunçosa cultura ocidental, em que os casamentos são feitos a partir de uma livre escolha do casal, podemos nos orgulhar de que tais uniões sejam mais perfeitas que as dos orientais, em que os pais escolhem os cônjuges para os filhos. Não há romantismo que baste se a finalidade do casamento não for o reino de Deus em primeiro lugar, confiando que as outras coisas serão acrescentadas, como ensinou Jesus.

Em razão de o casamento ter como objetivo primeiro a felicidade humana, os pais de família já se sentem satisfeitos por conseguir evitar um mal maior de terem seus filhos envolvidos com drogas ou delinqüência em geral e, por isso, são por demais permissivos em outras áreas, chegando até mesmo a consentir que freqüentem as baladas e pratiquem sexo “seguro”, dentro da própria casa, com seus pares. Essas atitudes soam como um agradecimento a Satanás por poupar a família de coisas piores. Com efeito, são, de fato, concessões ao inimigo: barganha-se com ele felicidade e tranqüilidade imediatas em troca do inferno a longo prazo.

Na maioria das vezes, entre famílias cristãs modelares, a submissão da esposa ao marido é vista como uma atitude passiva de conformismo, o mesmo ocorrendo com a obediência praticada pelos filhos. O marido, por sua vez, pretende sujeitar a esposa e submeter os filhos agindo de maneira tal como se a autoridade que possui fosse absoluta. Falta a todos uma compreensão do reino de Deus que norteie a atitude de cada um. Diante dessa compreensão, não cabe passividade nem absolutismo, pois todos devem agir em obediência à vontade de Deus, de quem recebemos toda graça e autoridade. Principalmente o pai deve saber que sua autoridade não é imposta, mas, a exemplo de Jesus, se conquista através de servir com amor e de se esvaziar de si mesmo. Isso proporciona entusiasmo e não sentimento de frustração.

Perguntas da Terra e Respostas do Céu

A conhecida passagem de Mateus 19 sobre casamento e divórcio tem gerado as mais diversas interpretações, até do que nela não é tratado. Há que se levar em conta a presença de dois pontos de vista no debate: o da terra e o do céu; o dos homens e o de Deus; o do egoísmo e o do amor. Se não considerarmos que as perguntas partem da terra e as respostas vêm dos céus, não compreenderemos o diálogo, ainda que recorramos aos melhores eruditos da linguagem original. Com as perguntas, não se pretendia apenas receber informações ou aprender com sinceridade, mas, acima de tudo, maliciosamente justificar e legitimar as próprias atitudes egoístas. Por isso as respostas sinceras não fizeram concessões às pretensões dos inquiridores.

Primeiramente, os fariseus julgavam que tinham em Moisés um aliado incontestável e, por isso, se prepararam baseados na lei irrefutável. Jesus, no entanto, volta ao princípio, valendo-se dele em dois aspectos, como origem e como intenção de Deus para o casamento. Partindo daí, deixou claro que o homem não deveria separar quem Deus uniu e que o divórcio era responsabilidade unicamente deles, pois fora a sua dureza de coração que levou Moisés a permiti-lo legalmente, embora sob restrição. Enquanto eles ficaram no raso do texto, Jesus aplicou o espírito da lei.

No segundo momento, como sempre acontece, Jesus aprofunda a questão a partir da inquirição de seus discípulos (Mt 19.10-12). Sempre que uma questão é tratada em dois momentos – um público e outro privado –, é no segundo que Jesus se torna mais explícito e mais íntimo, como que ocultando aos sábios e entendidos, mas revelando aos pequeninos. Estranhamente, esse princípio tem sido desprezado nessa passagem, pois a maioria, como fariseus modernos, tem se debruçado no primeiro diálogo, desconsiderando o que virá a seguir: a explicação particular aos discípulos.

Outro fator que devemos considerar é que se Jesus tivesse se mostrado tolerante, como muitos pretendem interpretar, naquela discussão com os fariseus, não haveria motivo para os discípulos prosseguirem o assunto. Contudo, como podemos observar, eles ali se mostraram tão chocados quanto mais tarde ficaram diante de outra afirmação de Jesus de que seria “mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mt 19.24). Se prosseguiram na questão, foi porque, com certeza, também estavam inconformados com as respostas ouvidas até então.

Os discípulos são mais contundentes que os próprios fariseus, pois propõem o debate não acostados na lei de Moisés, mas nos mesmos argumentos de princípios utilizados por Jesus, ao afirmarem que diante de um critério tão severo para se desfazer o casamento, seria melhor não se casar. Ora, com isso estavam provocando Jesus no sentido de que sem casamento não há como cumprir adequadamente o propósito original de Deus: “sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e dominai sobre ela”. Assim eles propunham o seguinte dilema a Jesus: “Ou se abrandam essas condições para o divórcio, ou todos se tornam celibatários, e aí não haverá população para viver na terra, o que nos parece que não é o desejo de Deus”.

Quando parecia não haver solução, Jesus mostra-lhes a pérola: “Nem todos são aptos para receber este conceito (palavra), mas apenas aqueles a quem é dado” (v.11). Em seguida, falando dos eunucos (celibatários), destaca os que voluntariamente assim procedem por causa do reino de Deus. Encontramos aqui duas informações importantes: Tanto o casamento como o celibato são dons de Deus e, por isso, devem ser recebidos e exercidos tendo em vista o reino de Deus.

Definitivamente, as respostas de Jesus vinham dos céus para perguntas da terra, tão radicais como amar o inimigo, andar a segunda milha, perdoar setenta vezes sete ao dia à mesma pessoa. Se raciocinarmos com pensamento humano, vamos continuar com a série infindável de perguntas, que geram cada vez mais confusão, pois estaremos sempre tentando justificar o homem, para o que somos incompetentes.

Quando idealizamos um casamento com o propósito de ser feliz, produzindo famílias semelhantes às das propagandas de margarina, apenas para o bem-estar do homem, estamos pensando com a mentalidade deste mundo, construindo o reino aqui da terra.

Porém, quando estamos interessados em que nossa família sirva de instrumento ao reino de Deus, pensamentos de divórcio (diga-se de passagem, odiados por Deus) não passarão por nossa cabeça, pois não estamos decidindo o que é melhor para nossa felicidade. Esta não virá como fruto de buscá-la em primeiro lugar, mas como conseqüência da prática da vontade de Deus.

Portanto para a família, como para todos os projetos de Deus, há um único modelo determinado. Quem acredita ter a liberdade para adotar um modelo diferente jamais pode atribuí-lo como sendo de Deus ou que sirva para ser reproduzido. Tentando explicar um pouco melhor: matar é pecado e, por isso, o assassino está destinado ao inferno. Contudo, se ele confessar seu pecado e se arrepender, será perdoado por Deus e poderá, então, desfrutar da vida eterna assim como outro que nunca assassinou. No entanto isso não significa que Deus esteja abrindo concessão para matar e permitindo um outro modelo, contrário à sua ordem original de não matar. O assassino perdoado, mesmo depois de pagar a sua pena perante a sociedade, vai ouvir e vai falar a vida inteira que matar é pecado. Aplica-se o mesmo raciocínio a quem desprezou o casamento e separou-se. A capacidade de uma pessoa conviver com outra é inversamente proporcional ao seu grau de egoísmo.

Por fim, o casamento está no início do plano, citado sob o ministério do Pai Criador: “Por isso deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Essa mesma citação é feita pelo Filho, que tem o ministério da Redenção, e é ratificada pelo ministério da consolação e da comunhão do Espírito Santo, através de Paulo aos Efésios, quando este acrescenta: “Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à Igreja”. O casamento humano é um ícone do plano de Deus com o homem, estando no começo, no meio e no fim dele. É instituído por Deus, portanto como podemos arrogar-nos o direito de revogá-lo?

por Pedro Arruda

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