Entrevista: Marisa Mello Mendes, da Parábola - mãe de 30 filhos

Entrevista: Marisa Mello Mendes, da Parábola - mãe de 30 filhos

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:32

Por Myrian Rosário

Ela teve uma infância sofrida e saiu de casa aos 13 anos. Aos 16 tornou-se mãe. Aos, 19, já com os filhos Marcia Cristina e Marco Antônio, tentou o suicídio, teve um encontro com o Senhor e descobriu que poderia ser mãe de muitas outras crianças vítimas de violência familiar. A cura para elas estava em ter uma família de verdade. Assim, em março de 1994, nasceu a Instituição Filantrópica e Educacional Parábola , uma família de 30 filhos, 27 deles adotivos, todos amados e protegidos por Marisa Mello Mendes. Hoje a Instituição assiste a famílias que estejam em situação de risco e jovens que completaram sua maioridade na FEBEM. A Parábola possui trabalho evangelístico em presídios e de assistência em favelas, realiza palestras nacionais e internacionais e ainda fornece apoio psicológico e atendimento a muitas denúncias on-line.

Numa entrevista onde deixa transparecer sua paixão pelos filhos e por Jesus, Marisa apresenta sua visão muito particular sobre maternidade e adoção. Confira!

Guia-me: Como era a sua família? Qual era o seu referencial de mãe?

Marisa: Não tinha nenhuma referência de família. Meu pai era viciado em drogas e acoólatra e minha mãe estava envolvida com alcoolismo na época. Não tinha referências de lar, de conceitos, de vínculos. As únicas pessoas que me passavam alguma estabilidade era minha avó, líder do centro espírita que era a fonte de sustento de todos nós, e uma tia minha que não morava conosco na época. Não existiam referências, apenas um sentimento muito forte de que não deveria ser normal viver em baixo de violência e abusos.

Guia-me: Quando teve o desejo de adotar?

Marisa: Tentei ao suiciído aos 19 anos de idade, já tinha meus 2 filhos , uma pessoa me falou do amor de Deus em minha recuperação e então descobri que Deus me havia adotado como filha. Compreendi que minha recuperação passava pela minha compreensão de que eu pertenço à família de Deus e passar a assumir as referências desta paternidade. Deus tem sido para mim "Pai e Mãe". Sim, "Mãe". Poucas pessoas sabem que a palavra "Shadai", do Hebraico, é um ato feminino. Shadai é quando uma mãe toma a criança em seus braços e a amamenta. A segurança e o sustento, o carinho e o calor da mãe é traduzido por uma única palavra que é Shadai.. Deus é El-Shadai!!! E como eu sei disto em minha vida!!! Quando compreendi a importância de uma família para cura, compreendi que outras crianças precisavam do que eu havia recebido, uma família verdadeira.

Guia-me: Quem foi seu primeiro filho adotivo e qual a história dele?

Marisa: Eriston, hoje com 30 anos. Era um garoto das ruas, a mãe havia falecido e ele foi encaminhado a um orfanato aos 3 anos de idade. O pai, acoólatra, o retirou aos 12 anos, passando a espancá-lo ao ponto de meu filho desmaiar de um dia para outro. Ficava com um revólver apontado para ele com o pé sobre seu rosto por horas enquanto bebia. Meu filho foi para as ruas, envolveu-se com drogas, crack, furtos. Eu o encontrei em uma batida policial com mais 3 garotos, tive certeza de que ele era meu filho no momento que o vi.

Guia-me: Por que você escolheu crianças com histórico de violência familiar?

Marisa: Não escolhi estas crianças, elas me escolheram. É muito importante compreender que Deus ama a todos nós, seres humanos, sejamos bons ou maus. Nós é quem escolhemos se desejamos ou não andar na companhia dEle. Comigo não foi diferente. A visão brasileira em adoção é de bebezinho, branco e menina.... Um bebê que quando cresce e descobre que é adotado quer resgatar sua história e tudo mais. Não passei por isto. Todos os meus filhos adodivos, com exceção de dois que faziam parte de grupo de irmãos, vieram para mim com mais de 8 anos de idade. Meus filhos manifestaram o desejo de me ter como mãe. Meus filhos não têm a convesa de querer saber de onde vieram e nada disto. Eles sabem bem de onde vieram e me afirmam categoricamente que para lá não querem mais voltar!!! Os casos chegaram para nós como denúncia, mas a adoção partiu primeiro de meus filhos me chamarem de mãe e posteriormente o vínculo e o amor intenso que Deus colocou em nossos corações .

Guia-me: Que cuidados especiais essas crianças requerem?

Marisa: Tudo é um pouco diferente, alguns de meus filhos sofreram mutilações, outros as drogas destruiram muito de suas habilidades. Cada sofrimento tem um tipo de tratamento especial, mas são crianças e jovens maravilhosos. Deus nos tem feito bem! Meus filhos estudam, trabalham. Tenho hoje 9 netos, eles constituíram famílias. Isto é maravilhoso

Guia-me: Qual é a importância da família na formação do caráter de um ser humano?

Marisa: Família é o plano de Deus para o desenvolvimento humano. Ele colocou Jesus em uma família e Lhe deu um pai adotivo. Este pai adotivo educou este filho em sua profissão. Nenhum dos irmãos tornaram-se carpinteiro, mas Jesus seguiu a profissão deste pai e ainda assumiu a responsabilidade desta família socialmente, com a morte do pai, assumindo o sustento de todos. Família foi o instrumento que Deus usou para a formação do Filho DEle. Imagine o que penso sobre a importância dela em nossa sociedade! A importância é que esta família seja realmente uma família, com vínculos de amor, laços de respeito e, sobre todas as coisas, com base nos princípios de Deus e de Sua Palavra .

Guia-me: A que você atribui a "degeneração" dos laços familiares?

Marisa: Falta de Amor. O complexo é que vemos Amor como uma coisa, porém é uma Pessoa. Deus é Amor, as pessoas deixaram de amar, deixaram de deixar Deus usar as vidas delas para expressar-se em outras vidas. Não é uma explicação simplista, é o que tenho observado de norte à sul em nossa nação e em outros países onde temos visitado.

Guia-me: O que leva uma mãe a rejeitar e a violentar um filho?

Marisa: O inimigo está pronto para marcar a vida de cada pessoa. Acho interessante quando as pessoas dizem que existe uma bíblia satanista. A bíblia do inimigo é a mesma que a nossa, vemos isto quando ele fala com nosso Senhor Jesus. A diferença é que ele pratica. Ele deseja "ensinar a criança nos caminhos dele para quando crescer não se desviar dele" e nós, como filhos de Deus, é quem temos o direito de usar esta palavra de um modo correto para que nossa herança seja forte na terra como é prometido na Palavra de Deus. Se deixarmos o inimigo agir em nossas vidas, certamente agiremos de modo contrário à Palavra de Deus. Lembre-se "Desobediência é Obediencia", digo sempre isto aos meus filhos, se desobedecermos à Deus estamos obedecendo ao inimigo, não tem como obedecermos à nós mesmos , ou somos inspirados por um ou por outro . Purgatório não existe !

Guia-me: Para você, qual é a importância de ser mãe? O que isso representa?

Marisa: A Palavra diz que é motivo de benção recebermos a possibilidade de cuidar de outros como filhos . Muitas vezes, como cristã, questiono o posicionamento de nós, como cristãos, ao criarmos nossos filhos de qualquer modo, acreditando que isto não nos levaria a prestar contas diante de Deus. Sei que somos salvos pela fé e não pelas obras, estou certa de que as obras não podem nos salvar, mas certamente elas "podem nos levar para o inferno". Receber um dom de Deus, como uma vida, é uma imensa responsabilidade, mas ao mesmo tempo uma imensa honra dada a nós pelo Deus tremendo de Quem somos e a Quem servimos .

Guia-me: Adotar vale a pena? Quais os prós e os contras?

Marisa: Adoção é um ato de amor , existe um preço a ser pago por todas decisões. Não existem coisas favoráveis ou desfavoráveis no caso da adoção, podemos dizer isto em relação ao casamento, mas não em relação à adoção. É complexa minha posição, porém compreendo que não existe divórcio entre pais e filhos. Não sei como seria minha vida sem meus filhos. Eles são um presente de Deus para minha vida. Abrir nosso coração para uma vida somente é possível por meio da inspiração de Deus. Precisamos saber que Ele nos envia para aquela vida e que Ele nos confia aquela vida. Fico pensando como no meio de mais de 10 mil crianças e jovens Deus me presenteou com meus 30 filhos. Poderiam ter sido outros, mas foram estes. Lembro-me de um caso de um menino de nome Leandro que me pergunto, aos 10 anos de vida, se eu não o adotava porque ele era "negro". Tive de levar meus filhos de mesma etinia para que ele conhecesse para que se convencesse que nada tinha a ver com a cor da pele dele o fato de eu não ter recebido o chamado de Deus para ser mãe dele. No meu coração eu desejava ter aquele menino como filho, mas eu não recebi esta motivação da parte de Deus e por isto não teria o apoio dEle se decidisse por mim mesma. Adoção não pode ser motivacional, mas sim inspirada e a inspiração tem de ser do Alto!

Guia-me: Que conselhos você daria a uma mulher que não pode ter filhos naturais?

Marisa: Nestes anos de atendimento deparo-me com incontáveis casais que querem adotar porque não podem ter filhos. Este não pode ser o motivo da adoção. Não podemos adotar porque "temos falta", mas sim "porque temos o que dar". A motivação da adoção consiste em podermos nos doar em prol de outra vida e receber esta vida como filho real. Encontrei casais que desejavam adotar porque o casamento ia mal por não poderem ter filhos, por angústia de não poderem ter filhos e tantas outras coisas assim. Acompanhei adoções assim e posso assegurar que não foram bem sucedidas. Infelizmente quando pais adotam por eles e não pelas crianças, qualquer motivo é motivo para rejeição.

Guia-me: Ter muito filhos é uma missão? 

Marisa: No meu caso é um chamado. Não creio que Deus me chame para adotar mais crianças e jovens, neste momento Ele tem ministrado muito em minha vida em treinar pessoas para isto , ajudar aos que tomaram a decisão de adotar. Sei, porém, que se o Senhor me chamar para outras crianças e jovens a resposta que tenho para Ele é a mesma de quando Ele me chamou há 22 anos atrás: " eis-me aqui".

Guia-me: Como as pessoas podem contribuir com a Parábola?

Marisa: Precisamos de tudo que pode imaginar , gostaríamos de colocar à disposição nosso site para que as pessoas que desejem nos ajudar possam entrar em contato conosco diretamente pelo www.parabola.com.br

Guia-me: Que diferença Jesus fez na sua vida?

Marisa: J esus faz toda diferença em minha vida à cada dia, tenho um caledário ocidental só que em minha vida pessoal, tenho uma vida "antes de Cristo" e outra vida "depois de Cristo". Porém temos, alguma vezes, de aprender com José e Maria. Eles conviviam com o Senhor por 12 anos e o "perderam" por 4 dias . Eles o procuraram entre amigos e parentes , voltaram para Jerusalém e procuraram o Senhor em todos os lugares, porque embora convivessem com Ele não O conheciam realmente. Não conheciam o que Ele gostava de fazer e onde gostava de estar. Não basta apenas andarmos com Jesus, precisamos conhecê-LO. Assim deixo a mensagem tão bem aprendida por José e Maria, que também possamos transferir isto para nossos filhos, de não apenas andarmos com eles, mas sabermos quem eles realmente são .

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