Esporte: Pode tudo. Mas pegue leve

Esporte: Pode tudo. Mas pegue leve

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:28

É saudável preocupar-se com o físico - e os adolescentes estão levando isso a sério. Nunca antes as academias de ginástica foram freqüentadas por gente tão jovem. Do total de alunos de grandes academias, como Runner, Fórmula Academia e Bio Ritmo, 25% têm menos de 20 anos. "A garotada começa a procurar a musculação a partir dos 13 anos, porque seus exercícios trazem resultados estéticos muito rápidos", diz Manoel Carrano, diretor-presidente da Fórmula Academia. Isso é bom e ruim. O jovem pode praticar todas as modalidades esportivas sem prejuízo à saúde ou ao processo de crescimento. Mas isso deve ser feito com moderação. Ou seja, é preciso limitar o tempo da prática esportiva e o esforço exigido. "A quantidade ideal até os 18 anos é seis horas por semana", diz Ana Lúcia de Sá Pinto, médica do esporte e pediatra do Ambulatório de Medicina Esportiva do Hospital das Clínicas, em São Paulo. O que requer mais cuidado e precaução é a sobrecarga de esforços. Vale a regra geral de que o jovem pode suportar 60% da carga de um adulto.

Os esportes dividem-se em quatro categorias, cada uma delas com diferente grau de cuidados para o adolescente:

- Anaeróbios: são os exercícios em que o praticante corre e pára várias vezes. Exemplos: futebol, basquete, vôlei, tênis e handebol. Uma partida de futebol entre adolescentes não deveria ultrapassar os 60 minutos, contra os 90 do jogo oficial. É evidente que os jovens não levam isso em conta e jogam durante horas, se puderem. Mas é o que diz o manual médico. Em tese, os excessos praticados nesses jogos não têm conseqüências drásticas.

- Aeróbios: são as modalidades que trabalham os músculos usando a respiração na produção de energia. Exemplos: corrida, ciclismo, natação, dança e ginástica aeróbica. Não há problema algum em correr e andar de bicicleta livremente, mas para competições a idade mínima recomendada é 14 (ciclismo) e 16 anos (corrida).

- Exercícios de resistência: são os que trabalham principalmente a força muscular. Entram nessa categoria a musculação e a ginástica olímpica. A musculação já foi inteiramente proibida para jovens na idade do crescimento. Hoje é permitida para maiores de 15 anos, mas com a restrição de peso. O excesso de carga pode levar ao endurecimento das articulações e, dessa forma, causar a interrupção precoce do processo de crescimento.

- Exercícios de resistência de alto risco: o objetivo é trabalhar a força dos músculos de forma intensa para ganhar massa muscular. Exemplos: o fisiculturismo, o levantamento de peso e o boxe. São contra-indicados para adolescentes. "O ideal é esperar o fim da fase de crescimento para começar a se preocupar com o ganho de massa muscular", diz o ortopedista Francisco Vanor Cruz, especialista em medicina do esporte do Hospital Uniclinic, em Fortaleza. "Antes disso, o garoto não tem corpo de homem e os ossos não estão consolidados."

O perigo das bombas

Quem é mais obsessivo com a aparência do próprio peito, o homem ou a mulher? Uma pesquisa americana concluiu que há mais homens ansiosos para aumentar o volume peitoral do que mulheres que desejam seios maiores. Com muita dedicação, a maioria é capaz de turbinar a musculatura numa academia - mas há o momento certo para levantar peso, e não é na adolescência. Nesse período, toda a energia vai para o crescimento e pouca para o desenvolvimento da massa muscular. Quando mesmo assim o jovem insiste em ganhar músculos, está a um passo dos famigerados esteróides anabolizantes. Esses hormônios sintéticos aumentam o tamanho e a força dos músculos de forma muito rápida, o que não acontece com quem apenas pratica exercícios físicos. Também aumentam o fluxo sanguíneo no tecido muscular, melhorando a performance nos esportes. O problema são os devastadores efeitos colaterais: podem causar impotência, crescimento irreversível das mamas nos homens e, em casos mais graves, câncer hepático.

É burrice, mas muita gente está disposta a correr o risco. Um estudo do perfil dos usuários de anabolizantes realizado pela Universidade Federal de São Paulo concluiu que metade deles começou a usar os esteróides entre 15 e 16 anos. "Existe uma espécie de competição entre jovens que fazem musculação", diz a farmacêutica Solange Nappo, coordenadora da pesquisa. "Leva vantagem quem for mais forte", diz ela. A maioria dos garotos compra na própria academia, nunca leu o prospecto do medicamento e consome os produtos diariamente, em forma de comprimidos ou injeções. Quando a garotada começa a utilizar os hormônios sintéticos, dificilmente larga. Eles causam uma espécie de dependência psicológica, e a auto-estima do jovem passa a ser proporcional ao tamanho de seus músculos. Um dos sintomas desse excesso é a chamada bulimia reversa. O fortão se olha no espelho e se vê um fracote, quando, na verdade, está monstruoso.

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