Férias escolares são sinônimo de festa, bagunça e muita risada. Mas nem sempre tudo ocorre conforme o planejado pelos pais, uma vez que as crianças são imprevisíveis na hora de usar a criatividade para brincar. Resultado? Acidentes. Samir Salim Daher, traumatologista e Secretário da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, diz que o tempo livre permite que as crianças estejam mais expostas a quedas, tombos e traumas. O aumento do índice de acidentes acontece pelo fato das crianças ficarem mais tempo em casa, sem uma programação de atividades. Isso sem contar a ausência de disponibilidade dos pais para programas de lazer, conta.
O profissional ainda acrescenta: É uma época em que primos e amigos se reúnem para fazer o que mais gostam, que é brincar. E como criança não tem limite e muitas vezes não reconhece o perigo, o tempo livre vira um catalisador de possíveis arranhões, fraturas e até mesmo acidentes mais graves. A boa notícia é que 90% dos acidentes com crianças podem ser evitados pela simples adoção de uma cultura de prevenção.
Alessandra Françoia, coordenadora nacional da ONG Criança Segura, reforça a importância de adaptar a casa e os espaços em que a criança vive, adotando dispositivos de segurança nos ambientes da casa, como escadas, quinas de móveis e piscinas. Não se pode pensar que o mal só acontece com os outros. Temos que entender que acidentes com nossos filhos são uma realidade, ainda mais nas férias, enfatiza. Mais de 5 mil crianças morrem por causa de lesões não-intencionais ou acidentes acontecidos em casa, e cerca de 140 mil são hospitalizadas anualmente, conforme pesquisa do Ministério da Saúde.
Para proteger o seu filho, aprenda as principais medidas de prevenção contra cada um dos perigos das férias.
Afogamento
O afogamento é a principal causa de morte infantil. Somente no ano de 2007, no último levantamento feito pelo Ministério da Saúde, 1382 menores morreram afogados. A maioria dos casos acontece em locais de água doce, como rios, lagos, cachoeiras e piscinas, explica Alessandra. É possível evitar este tipo de acidente desde que haja muita atenção nos clubes, praias e cachoeiras onde você está com seu filho. Outro ponto importante é deixar baldes e banheiras vazias e sempre longe do alcance daqueles que estão aprendendo a andar. A curiosidade pode ser fatal.
Um estudo apresentado pelo ONG Criança Segura mostra que o tempo de deixar a criança na banheira para pegar uma toalha cerca de 10 segundos é suficiente para que ela fique submersa. Alessandra dá uma dica para evitar acidentes na piscina: colocar um sonorizador no local. Assim, todos saberão quando tiver alguém dentro da água. E não pense que apenas um minutinho ausente nada por acontecer. Esteja sempre por perto e atenta.
Queda da laje
Engana-se que só caem de lugares altos crianças que são empurradas propositalmente. Pelo contrário: crianças morrem ou ficam gravemente feridas ao cair, por distração, de locais altos que não são resguardados com a devida segurança, como lajes muitas vezes, mesmo que estejam acompanhados dos pais. Segundo pesquisas feitas por estudantes da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, 45 % desses acidentes acontecem em casa com crianças que brincam com pipa ou acompanham os adultos em eventos, como churrascos. A falta de espaço nas casas de famílias menos privilegiadas financeiramente torna a parte superior da residência a única área disponível para o lazer, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, Cláudio Santili. A prevenção pode ser feita com proteção de portas de ferro em cada entrada das escadas, além de redes de proteções nas janelas e batentes.
Mas o que fazer se houver uma queda? O traumatologista Samir Salim Daher ressalta a importância de se manter a calma e levar imediatamente a criança para o pronto socorro mais próximo ou de confiança da família. É importante que os pais conversem com a criança para ver se ela pode falar o que sente e o que feriu. Caso haja uma fratura muito grande, é melhor chamar o serviço de resgate, afirma.
Dente quebrado
Não se pode colocar as crianças dentro de uma redoma, muito menos proibi-las, em plenas férias, de brincar com bicicletas, skates e patins. Mas dá para minimizar as possibilidades de traumas dentários, comuns nestas brincadeiras. Itens de segurança como joelheira, cotoveleira e capacete não podem falar na hora da bagunça.
Se houver uma queda, o cirurgião-dentista Hugo Lewgoy tranquiliza os pais: Não se impressione com sangramento na região da boca, pois é comum em casos de batidas. É importante manter a calma e lavar a região com água. Deve-se estancar a hemorragia com gaze ou tecido limpo. Se não melhorar, procure um pronto-socorro imediatamente, alerta o cirurgião-dentista.
Alergia a picadas
A combinação de chuva e calor resulta em insetos por todos os lados, principalmente em regiões litorâneas e serranas. Com isso, as crianças são as principais vítimas de picadas e alergias. O ideal é começar repelindo os insetos: o uso de aromas de eucalipto e limão podem ajudar a afastar esses intrusos do ambiente e garantir a comodidade, principalmente de crianças menores de seis meses que ainda não podem usar repelentes (leia 7 respostas sobre o uso de repelentes em crianças).
Para evitar o transtorno, a dermatologista Cristiane Braga sugere caprichar na alimentação. A ingestão de vitaminas do complexo B também são uma forma segura de afastar os insetos, garante a dermatologista. Para isso, basta comer alimentos como arroz integral, aveia, amendoim e ovos semanas antes da exposição ao ambiente. Se houver picadas, a dica é lavar o local com água misturada a algumas colheres de amido de milho. A receita permite a secagem das feridas e alivia a coceira.
Insolação
Protetor solar, chapéu, camiseta e água, muita água, não podem faltar nos itens que acompanham o passeio de verão. A ordem máxima é evitar exposição direta ao sol entre as 10 e as 16 horas. A insolação apresenta sintomas incômodos e perigosos, como vermelhidão, assaduras, bolhas, sonolência, falta de apetite e tontura. Dependendo do grau da queimadura, a pele pode ficar com marcas e cicatrizes, diz Cristiane. A criança que apresentar o diagnóstico deve procurar imediatamente um hospital para receber os devidos cuidados.
Crianças perdidas
Curiosas e cheias de energia para explorar novos ambientes, crianças podem acabar se perdendo facilmente dos pais, especialmente em uma praia lotada. O jeito é mesmo os pais se precaverem, instruindo os filhos a procurar um lugar seguro como um restaurante, quiosque ou posto policial caso perceba estar perdida.
De acordo com Rui Silva, criador do projeto Anjos do Verão (que desde 2006 ajudou a reencontrar 705 crianças perdidas nas praias de Guarujá e Praia Grande), um dos grandes erros dos responsáveis é não orientar os menores a como agir no caso de se perderem. É importante conversar bastante para que eles não entrem em pânico e procurem pessoas que possam ajudar, conta. Identificar as crianças com peças de cores chamativas e pulseiras com nome e telefone também é uma forma de minimizar o perigo.
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