Funções materna e paterna não são masculinas ou femininas

Funções materna e paterna não são masculinas ou femininas

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:20

Conversei com o psicólogo e psicanalista Rubens Maciel sobre a diferença entre papéis e funções desempenhados por pais e mães para o bom desenvolvimento da criança. Nem sempre, as funções materna e paterna são exercidas por homens e mulheres que geraram ou adotaram filhos. Essas funções podem ser assumidas por outras pessoas, que fazem a função de pai ou de mãe.

Infelizmente, na minha opinião, tem muita mãe desempenhando as duas. Alguns pais também, mas, é difícil, você conhece algum?

No entendimento de Rubens Maciel, não existem papéis e funções definidos para o homem e para a mulher, embora haja uma predominância de algumas características em cada um deles. "Uma pessoa saudável é uma pessoa bastante rica e sensível para desempenhar as várias funções", avalia.

Ele define os papéis de pai e de mãe como aqueles relacionados às expectativas sociais e legais em relação à paternidade. Na opinião dele, a saída da mulher para o mercado de trabalho levou os filhos para mais perto dos pais, que foram chamados a participar dos cuidados com a prole. Mas, essa não é a única explicação para as novas tarefas assumidas pelos homens.

O psicanalista acredita que a disseminação de informações sobre a importância da função do pai, para o bom desenvolvimento infantil, está contribuindo para uma nova organização familiar, onde o homem assume outros papéis e procura desempenhar bem a função paterna.

"Esse tipo de informação vai fazendo com que alguns pais tomem consciência disso e, por amor ao filho, desejem ter uma participação diferenciada. A afetividade é algo que vem sendo cultuado nos últimos anos. Você deseja ter uma família mais harmoniosa. Mas há também o contraponto, o individualismo, cada um vai fazer a sua carreira. São fenômenos concomitantes, às vezes, opostos, mas, acontecem", opinou.

Rubens Maciel disse que a função do pai começa ainda no primeiro ano, período no qual o bebê é muito misturado com mãe. "Quando sente que a mãe não está totalmente disponível para ela, que há um limite, mesmo sem saber da existência do pai, ela intui que existe alguma coisa que não é só ela, que a mãe a divide com alguma outra coisa que ela não sabe o que é", explicou.

Segundo o psicanalista, essa é uma função importante do pai: mostrar que a criança não é o centro do universo, sinalizar que um limite vai ocorrer desde cedo. "Um limite pra quê? Do desejo da criança de ter controle sobre a mãe, de ser a principal referência da mãe. Eu sou insaciável, e ela vai ficar horas e horas me dando carinho, me dando de mamar", traduziu.

Rubens Maciel disse que esse protótipo infantil perdura durante toda a vida. A diferença é que em algumas pessoas se apresenta de forma amadurecidamente, em outras, nem tanto. "Se você pegar uma pessoa extremamente ciumenta, vai ver que esses desejos infantis ainda vigoram, perduram, numa idade adulta, com muita intensidade", explicou.

A função paterna de estabelecer limites é fundamental para a necessária separação entre a mãe e o bebê. No processo de amadurecimento, a criança entende que a mãe é outra pessoa, que tem interesses, necessidades e afazeres que vão além dela. Se o pai está próximo, a criança percebe que ele está presente e desempenha uma função ali.

Segundo o psicanalista, é função paterna mostrar para a criança que ela não poderá ser suprida por outro ser humano durante toda a vida. "Ela vai ter que se virar sozinha, vai ficar sozinha. Ela que troque o peito pelo dedo, pela chupeta, depois, por um brinquedo, depois, por um amigo, depois, por uma namorada. Troque o seu tempo ocioso pelo trabalho. Ela vai ter que ser produtiva para ter um homem ou uma mulher, um companheiro. Então, ela vai sair dessa posição de dependência, passiva, se ela puder amadurecer. Vai sair para um papel ativo, de alguém que vai realizar essas coisas de uma forma adequada", ressaltou.

Para Rubens Maciel, uma atitude clara de pai que estabelece os limites necessários ao filho é colocá-lo para dormir no seu próprio berço. É ensinar que na cama da mamãe e do papai não tem lugar para ele. (Sobre esse assunto, veja o que disse a psicanalista Marcia Porto Ferreira)

"Essa é a função de um pai ou de um terceiro. Nem precisa ser um pai, uma mãe amadurecida pode cumprir a função do pai. E dizer, olha, meu filho, a mamãe vai assistir televisão, vou tomar banho, você se aguenta aí", afirmou.

Rubens Maciel é psicólogo e psicanalista , professor universitário e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ. Blog: Conversando com o Psicólogo.  

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