Gêmeos: vestir a mesma roupa pode ser tentador... mas pode?

Gêmeos: vestir a mesma roupa pode ser tentador... mas pode?

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:19

Minhas filhas gêmeas nunca se vestiram iguais, mas adoram, em algumas situações "brincar de gêmeas" - como elas mesmas dizem. Nestas ocasiões vestem-se com roupas iguais, ou muito semelhantes, para que as pessoas percebam que são irmãs gêmeas. Sâmara Jorge, mãe de Julia e Isadora

A roupa diz muito sobre uma pessoa. A roupa personaliza, atua, mostra quem somos e como pretendemos ser vistos. Vestimos aquilo que consideramos a "nossa cara", e isso tem um valor subjetivo de fundamental importância, uma vez que é a forma como nos apresentamos para o mundo.

As roupas podem ser consideradas uma necessidade física, pois esquentam, protegem e enfeitam. Porém, em cada sociedade e cultura elas se apresentam de modo peculiar e representam muito mais do que isso. Imprimem identidade, e por meio delas é possível refletir sobre os valores socioculturais de determinados grupos. Elas traçam uma diversidade bem significativa de perfis: despojado, tradicional, conservador, artístico, radical, discreto... Enfim, nossa roupa pode falar por nós.

Em nossas entrevistas com pais de múltiplos, uma mãe nos respondeu: "Quando eram bebezinhas tinham muitas roupinhas idênticas, mesmo porque tudo o que ganhavam era igual. Embora comprasse coisas diferentes, não nego a tentação de vesti-las iguais de vez em quando e não havia quem não falasse como estavam lindas! Quando cresceram um pouco, já começaram a colocar roupas diferentes e, com o passar do tempo, cada vez mais."

Lendo o depoimento dessa mãe podemos concluir que a roupa como enfeite (artigo de beleza) é quase uma unanimidade, quando se trata de usar um critério de escolha. Contudo, podemos perceber uma preocupação em diferenciar as crianças por meio das roupas.

No caso de filhos múltiplos, vestir roupas iguais ou misturá-las indiscriminadamente pode ser muito prático e mais fácil. Porém, isso é o mesmo que tratar os filhos como um "bloco".

Mesmo os bem pequenos, embora não percebam que tipo de roupa estão vestindo, e se estão iguais ou não aos seus irmãos, devem ter sua individualidade tratada com cuidado e respeito.

É importante não esquecer que o olhar de um adulto, particularmente dos pais, deixa uma impressão, como uma marca viva sobre a criança.

Em outras palavras, podemos afirmar que o olhar dos outros pode interferir na autoimagem de uma criança de qualquer idade, uma vez que ela é capaz de detectá-lo e interpretá-lo.

Contudo, não é preciso adotar uma postura radical e decidir nunca mais vesti-las iguais. O essencial é que isso não se torne um hábito e, caso ocorra, que cada criança continue sendo vista e tratada como um indivíduo. Mesmo porque às vezes elas querem e pedem roupas, sapatos e até acessórios idênticos, e não há nenhum problema nisso, quando acontece esporadicamente.

Outra mãe entrevistada nos disse: "Muitas vezes eu os vestia iguais e achava uma graça! A partir dos 4 anos não quiseram mais o mesmo modelo, nem a mesma cor...Cada um tinha suas preferências. Nunca mais comprei nada igual. "

A postura dessa mãe foi respeitosa e sensível, e talvez por essa razão também os filhos tenham tido a liberdade de tomar a decisão de não mais aceitar uma situação de diferenciação.

É possível concluir, então, que as roupas têm um papel importante na apresentação e na relação das pessoas com o mundo, traduzindo seu modo de ser, pensar, etc. E no caso de múltiplos, favorecendo a formação de uma auto imagem singularizada. Porém, não é o único fator relevante para o aparecimento da individualidade. Assim como em outras questões, é necessário ficar atento às necessidades de nossos filhos, de modo a nos possibilitar uma atitude cuidadosa para com as particularidades de cada um deles.

Sâmara é psicoterapeuta e Cláudia é psicanalista e psicopedagoga. Elas coordenam um grupo de pais sobre a criação de gêmeos

Por: Claudia Arbex e Sâmara Jorge

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