Inversão de valores: O acúmulo de bens materiais resulta em ilusão de poder

Inversão de valores: O acúmulo de bens materiais resulta em ilusão de poder

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:28

Jaime Kemp

Vivemos em uma sociedade que está sendo sufocada pela paixão e pela obsessão do possuir. É meio incoerente, mas esta característica torna-se mais evidente nas datas comemorativas; quando a emoção e a afetividade deveriam aflorar é o material que comanda. Dia das mães, dos pais, dos namorados e até o Natal têm sido celebrações do material e não da sensibilidade. Prova disso são os abarrotados estacionamentos dos Shopping Centers, que se tornam palco até de brigas por uma vaga.

Fazer compras tornou-se uma atividade corriqueira, um programa semanal para muitos. Há uma falácia reinante de que a "boa vida" é encontrada no acúmulo de bens e posses e que "quanto mais, melhor!". Quando menos se espera já estamos aceitando esta idéia sem qualquer questionamento, e como conseqüência vemos a cobiça penetrando cada vez mais em nossa cultura, criando um mundo cada vez mais superficial e alienado da realidade.

A luta para possuir desencadeia e acentua fraturas em nossos relacionamentos. Ficamos estressados, irritados e ofegantes. A obrigação de conseguir os meios para nossas aquisições nos leva ao desgaste mental e emocional. A complexidade da competição torna-se uma ameaça cada vez mais constante nos esmagando contra nossos limites, que chegam a gritar: "Pára, mundo, que eu quero descer!"

Por vezes nos sentimos presos na armadilha da correria, não somente para satisfazer nossos sonhos de consumo, mas também para atingir as expectativas da família, da igreja e da sociedade.

Arquejamos entre inúmeros compromissos, prazos e obrigações.

Mas... como podemos colocar os bens materiais na perspectiva correta, quando vivemos em um mundo dominado por um espírito competitivo, por prioridades invertidas? Como achar equilíbrio em meio a propagandas e promoções oriundas de um marketing declaradamente manipulador?

Nossas aquisições contem a implícita mensagem de que o acúmulo de bens nos darão alegria e realização. Pode ser que haja em meio a toda esta mistura de sentimentos, uma ponta de percepção que denuncie o lado negativo do excesso, causando, assim, desconforto interior e por conta disso, não nos julgamos materialistas. No entanto, garanto, sem sombra de dúvida, que João Batista com suas vestes de pele e dieta alimentar com mel silvestre, não é o modelo que gostaríamos de seguir!

Como podemos adquirir equilíbrio e uma perspectiva correta no que diz respeito às coisas materiais? Gostaria de sugerir duas palavras encontradas na Palavra de Deus: simplicidade e contentamento.

Simplicidade - No estilo de vida simples o cristão pode encontrar a liberdade da obsessão pelo material. A simplicidade oferece sanidade à nossa extravagância compulsiva e paz a nosso frenético espírito. Ela nos ajuda a ver as coisas materiais como realmente são: meios para facilitar e melhorar nossa vida e não para complicá-la e oprimi-la.

A simplicidade cristã não é somente uma tentativa de responder ao holocausto ecológico que ameaça nos tragar. É um chamado a todo cristão. A simplicidade tem raízes profundas na Bíblia, "materializou-se" na vida de Jesus Cristo e é uma das disciplinas da vida cristã.

O apóstolo Paulo aconselhou que os cristãos vivessem livres da ansiedade. Jesus nos exortou a viver livres da avareza e João advertiu que nos livrássemos dos ídolos.

Contentamento - Foram escritos vários livros sobre contentamento: "Como ser feliz..." e vendidos aos milhões. Não é espantoso que precisemos de um livro para implementar algo que deveria ocorrer naturalmente? Na verdade, não! E isso se deve ao fato de termos sido programados para competir, realizar, aumentar, brigar e nos preocupar em galgar a escada do sucesso.

Pare e raciocine comigo: Imaginemos um rapaz jovem com grandes habilidades mecânicas e artesanais. Com certeza ele será pressionado a fazer uma faculdade e a seguir uma profissão mais acadêmica. Vejamos também, uma professora competente, didática, realizada por dar aula. Quanto melhor ela for, maior alvo será de movimentos na escola para que se torne diretora. Alguém que trabalhe na área de suporte de uma companhia ou de uma igreja, ficará se sentindo infeliz até que seja promovido para um cargo de maior destaque. Enfim, nossa sociedade, em sua maioria, é composta de pessoas descontentes, frustradas, manipuladas e manipuladoras.

O que Jesus tem a nos dizer? Em Lucas 3.14b vemos: "... contentem-se com o seu salário". Paulo também diz: "... regozijo-me nas fraquezas..." (2 Coríntios 12.10a), e "por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos" (1 Timóteo 6.8). E na mesma linha, nos fala o autor de Hebreus: "Conservem-se livres do amor ao dinheiro e contentem-se com o que vocês têm..." (Hebreus 13.5a).

Paulo disse que havia aprendido a estar feliz, independente da situação em que estivesse - Filipenses 4.11.

Tenho aprendido que simplicidade e contentamento são adquiridos através de um processo, nem sempre muito rápido. Conforme formos vislumbrando além do material, passaremos a descobrir que aumentar a qualidade de vida de nossa família significa diminuir o apego às coisas materiais e não o inverso.

A paz de espírito decorrente de se colocar nossa segurança em Deus, e não nos bens materiais, é indescritível!

Não estou, com isso, desestimulando o progresso, o desenvolvimento. Creio que haja o lugar certo para esforço, para suor, para garra. A diferença é onde colocamos esse nosso empenho: na areia ou na rocha? O importante é estar dentro da vontade de Deus, e não andando obsessivamente de degrau em degrau na escalada do sucesso que não conduz a lugar nenhum!

Qual tem sido o objetivo maior de sua vida e de sua família? Agradar o Senhor Deus de todo o coração, de toda alma e de todo entendimento? Que a resposta a esta pergunta traga conscientização e percepção, para que o alvo focalizado seja uma vida que valha a pena viver, com contentamento e simplicidade.

Jaime Kemp é doutor em ministério familiar e diretor da Sociedade Religiosa Lar Cristão. Foi missionário da Sepal por 31 anos e fundador da missão Vencedores por Cristo. É palestrante internacional e autor de 40 livros. Casado com Judith, é pai de três filhas e avô de dois meninos.

Sugestão de leitura: Planejamento estratégico, Josué Campanhã - Editora Vida

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