Madrasta e enteado: uma relação duradoura?

Madrasta e enteado: uma relação duradoura?

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:59

A assistente administrativa Carla Siccos é uma pessoa que passa longe do insistente (e antiquado) estereótipo da madrasta malvada. Em vez de atrapalhar e afastar os filhos do casamento anterior do marido, ela foi responsável pela maior aproximação da família. “Eu que decidi pegar os filhos do Wellington nos finais de semana e até ensinei o mais novo a chamá-lo de pai”. A facilidade que Carla sempre teve com crianças a ajudou a criar uma ótima relação com os três enteados, que na época da separação dela e de Wellington tinham 7, 4 e um ano. “A mais velha chorou demais quando demos a notícia, parecia que ela era nossa filha”, conta Carla.

Já faz quatro anos que ela e Wellington não estão mais juntos. Ambos já são casados com outras pessoas, mas a ex-madrasta não se afasta das crianças. “Eles me chamam de ‘tia’ e me consideram uma espécie de confidente. Falam sobre a nova mulher do pai, a mais velha me pede conselhos e perguntam sobre meu filho, que eu já tinha antes de me casar com o Wellington”.

É natural criar um vínculo afetivo com crianças que você muitas vezes ajudou a criar e viu crescendo. “Se houve tempo para a construção de um relacionamento significativo, o casal deve conversar para definir sua continuação, sempre lembrando que o principal é atender as necessidades afetivas das pessoas envolvidas”, aconselha a psicóloga Basia Sinenberg.

Quando o casal que está se separando tem filhos, a proximidade geralmente é até recomendada, para manter a união entre os irmãos. Mas, antes de mais nada, pergunte-se quais são os motivos que a levam a querer continuidade no relacionamento com os enteados. Muitas escondem nesta vontade uma necessidade de manter algum vínculo com o ex. E isto está fadado ao sofrimento de uma ou todas as partes.

Trabalho em grupo

Se a motivação principal é simplesmente o amor pela criança, siga em frente, mas não pense que o caminho será sempre tranquilo. A maior dificuldade das madrastas que querem manter uma relação com os ex-enteados são os novos integrantes da história: quando o pai se casa e as crianças ganham uma segunda madrasta, ou quando você mesma entra em um novo relacionamento. É difícil para ambos os parceiros entenderem o vínculo. “Imagine a nova namorada do pai que terá duas ex para se relacionar, sendo que uma nem mãe da criança é. Pouco provável viverem em paz dessa maneira”, alerta a terapeuta familiar Roberta Palermo, autora do livro “100% Madrasta – Quebrando as barreiras do preconceito” (Editora Integrare).

Isso aconteceu com a psicóloga Elizabeth Cerioni. Ela continuou próxima aos dois enteados mesmo depois da separação, há cinco anos, mas a nova mulher ainda hoje morre de ciúmes desta relação. “Ela não gosta nada, mas como a mãe deles e meu ex aprovam, mantive o contato”. É preciso também conversar muito com a criança para que ela não se torne arredia ao receber a nova madrasta, por preferir a anterior.

Roberta Palermo dá outras dicas para guiar esta relação entre ex-madrasta e enteados:

- Caso todos estejam de acordo, a família deve organizar os dias de convivência com cada um. Entre o final de semana da mãe e o do pai, a ex-madrasta pode pegar as crianças para um lanche no meio da semana, por exemplo.

- O ideal é que a ex-madrasta seja imparcial e não interfira. Ela deve ser aquela pessoa legal que ajuda, orienta, leva pra passear, assiste aos eventos da escola, presenteia nas datas festivas – a responsabilidade de limites e broncas é prioritariamente dos pais e da nova madrasta.

- A ex-madrasta tem que se proteger e lembrar sempre que não tem direito legal algum sobre a criança caso se separe, mesmo que ela tenha sido responsável por grande parte da criação dos enteados.

- Ao dar a notícia de que o relacionamento acabou, lembre-se que esta será, no mínimo, a segunda separação que a criança vai enfrentar. Contem que não estão mais juntos e que a ex-madrasta virá para vê-la e levá-la para passear. Mas tenha certeza de que quer manter este vínculo ao prometer: se na semana seguinte mudarem de ideia, a criança pode se sentir abandonada e tornar a perda algo bem pior.

- Se os enteados são adultos quando ocorre o rompimento, o vínculo pode se manter mais facilmente, pois não depende mais da participação dos pais para isso. Ex-madrasta e enteados podem se comunicar diretamente e marcar encontros se assim desejarem, afinal, se tornaram amigos. Nesse caso, os pais não devem interferir.

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