Manual do pai de primeira viagem

Manual do pai de primeira viagem

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 3:26

Aconteceu enquanto dormíamos. A cama ficou toda molhada. Primeiro, achamos que era xixi. Até percebermos que não, era a bolsa que havia estourado! É difícil descrever o que se passa na cabeça de um homem nessa hora. Lembro-me de tentar manter a calma. Uma tranqüilidade, obviamente, apenas de fachada. Enquanto minha esposa tomava banho, tentei ligar para os mais próximos para dar a notícia. Nunca foi tão difícil digitar oito números no teclado de um telefone de forma concatenada. Resultado: das sete ou oito ligações que pretendia fazer, devo ter conseguido realizar no máximo duas.

No hospital, ao sabermos que o parto seria naquele mesmo dia, o frenesi aumentou. Mal conseguia entender o que estava escrito nos papéis que me davam para assinar. Já na sala de espera, não sabia o que fazer para conter a inquietação. Os instantes que antecedem o parto parecem intermináveis. Uma tortura para qualquer pai, principalmente os de primeira viagem. O mais engraçado é que você não percebe o nervosismo até alguém o avisar. No meu caso, o alerta veio da enfermeira, certamente acostumada com aquela cena: "Assim o senhor vai furar o chão".

Tudo isso, porém, era só o prenúncio do que estava por vir. No momento do nascimento de João, respirei fundo e apertei a mão da minha mulher com força. O choro do recém-nascido provoca uma profunda e explosiva confusão sensorial. Nem sei como as fotografias que tirei do parto saíram. A única certeza que tive era a de que dali para a frente minha vida não seria mais a mesma. Afinal, tornara-me pai.

O primeiro filho, de fato, assusta. Gera uma mistura de alegria e medo. Mas é importante que o homem deixe fluir a emoção da paternidade e saiba que existem maneiras de vivenciá-la plenamente. O primeiro passo é saber como contribuir para o desenvolvimento do bebê em cada etapa, da gravidez aos primeiros meses de vida. A seguir, você confere as respostas para algumas perguntas que vão ajudá-lo a participar efetivamente dessa fase, que marca a estréia de qualquer homem num de seus papéis mais importantes: o de pai. Durante a gravidez

1) A atividade sexual durante a gestação pode prejudicar o bebê?

Em princípio, não. A penetração não prejudica o bebê, que está protegido pelo líquido da placenta. Alguns médicos chegam a não recomendar relações sexuais nos primeiros meses de gravidez para reduzir riscos de aborto. "Mas isso não é regra. Varia de caso a caso", explica a pediatra Ana Lúcia Martins Figueiredo, chefe do Departamento Neonatal do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Acredita-se, inclusive, que o sexo no final da gestação pode precipitar o parto. O mais importante nessa hora é saber respeitar o estado da mulher e, caso ela concorde em manter relações sexuais, procurar as posições mais confortáveis.

2) Como lidar com os enjôos e os desejos da mulher?

A futura mamãe passa por uma transformação hormonal importante durante a gravidez. É um período em que ela fica mais suscetível a enjôos. De uma hora para a outra, começa a rejeitar determinados odores e gostos. Mas isso é muito individual. Existem mulheres que não sentem absolutamente nada durante a gestação. Outras, no entanto, são acometidas por uma sensação de mal-estar freqüente. "Nesse momento, o importante é o suporte afetivo do homem, o que não significa atender a todos os pedidos da companheira nas horas mais impróprias. O bom senso sempre deve prevalecer", diz Ana Lúcia. Minha mulher, por exemplo, teve poucos enjôos na primeira gravidez e ficou mais sensível, mais dengosa. Trabalhou quase até a semana do parto. Acho que dei sorte.

3) Como encarar as mudanças de humor?

Além das reviravoltas hormonais, a mulher vivencia outras mudanças significativas no corpo, em especial nas mamas e na barriga. Isso tudo mexe com a gestante, e o parceiro precisa entender a situação. "Cada uma vai reagir de uma maneira e o homem tem de estar pronto para respeitar a individualidade dela", orienta a pediatra Ana Lúcia Figueiredo. Uma maneira eficiente de garantir o bom relacionamento ao longo dos nove meses é acompanhar as consultas pré-natais e fazer os cursos de gestantes juntos. Por falar em pré-natal, lembro-me até hoje de escutar pela primeira vez o coração do meu filho, uma experiência inesquecível.

Depois do nascimento

1) Como trocar a fralda?

O pai pode ter uma participação ativa nos cuidados do filho recém-nascido. Trocar a fralda é uma ótima maneira de estabelecer laços com o bebê. E, posso garantir, não é muito difícil. Confira: - Tenha em mãos água morna, maços de algodão e, se o pediatra indicar, pomada contra assaduras. - Deite o bebê de costas em um trocador (ou cama), solte a fralda sem retirá-la da criança e segure os pés do seu filho com uma das mãos. - Com a outra, molhe o algodão na água e comece a limpeza delicadamente, sempre da frente para trás, principalmente em meninas, para evitar que as bactérias do intestino migrem para a vagina. - Não deixe de passar o algodão em cada dobrinha. - Retire a fralda suja e seque bem a pele da criança para evitar assaduras. - Coloque a fralda nova por baixo do bebê, passe a pomada contra assaduras e depois feche (as fraldas descartáveis são anatômicas e, presas com fitas adesivas, não têm segredos). - Importante: nunca deixe o bebê sozinho no trocador, nem por um segundo, para evitar acidentes. - Ah, prepare-se para receber vez por outra jatos de xixi na cara: os meninos escolhem a hora certa de fazer isso...

2) Como preparar e dar banho?

Esse é outro momento de intimidade entre pai e filho. Em casa, na primeira semana, eu era o responsável oficial pelo banho do bebê. Não é difícil, mas existe uma técnica. Lembro-me de fotografar o passo-a-passo do banho do bebê na maternidade para não esquecer como deveria fazer em casa. Veja como é simples:

- Antes de começar o ritual: providencie álcool a 70%, maços de algodão, cotonete, uma banheira infantil com água morna, xampu ou sabonete próprio para bebê, toalha seca e limpa, fralda, pomada contra assadura e uma muda de roupa.

- A profundidade da água deve ser de até 15 cm, e a temperatura, pouco inferior a 30 ºC (use o cotovelo para verificar se não está muito quente).

- Veja se o ambiente está fechado e não há corrente de ar.

- Enrole o bebê na toalha, de roupa mesmo, como se fosse um charuto, e deixe só a cabeça de fora com uma sobra de pano para depois enxugar.

- Apóie o corpo da criança com o antebraço e segure a cabeça com a mão, tapando os ouvidinhos dela com o polegar e o dedo médio. - Limpe primeiro os olhinhos do bebê com o algodão encharcado de água morna, fazendo um movimento de fora para dentro, sempre no sentido dos dutos lacrimais.

- Molhe a cabeça do nenê com a mão livre, passe o xampu, enxágüe e depois seque bem com a toalha.

- Desenrole a criança e tire a roupa dela.

- Segure o bebê de barriga para cima, entrelaçando um dos ombros dele com os dedos de modo a apoiar a cabeça com o antebraço. É importante que ele esteja firme.

- Coloque-o dentro da água suavemente, sem molhar a cabeça.

- Use a mão livre para limpar a parte frontal (pescoço, peito, braços, barriga, genital e pernas), sempre jogando água no corpinho dele.

- Depois, use a mão livre para apoiar e virar o bebê de costas para cima (sugiro pedir orientações a uma enfermeira para aprender a fazer esse movimento com segurança e treinar em casa com um boneco. Funciona!).

- Limpe bem as costas e o bumbum do bebê, tomando cuidado para ele não engolir água. Divirta-se com as perninhas dele mexendo. Em geral, eles gostam mais dessa posição.

- Enxágüe o bebê, erga-o da água e envolva-o na toalha.

- Depois de secá-lo, acariciando bastante, use o cotonete e o álcool para limpar o umbigo, que ainda não caiu.

- Por fim, coloque a fralda na criança e vista-a.

3) Como posso participar da alimentação da criança?

Nos primeiros seis meses de vida, a criança deve se alimentar exclusivamente do leite materno. Ao pai, resta apenas apoiar a mulher - seja segurando o bebê para ela descansar um pouco, seja dando suporte emocional no começo da amamentação. "É comum o bebê ter dificuldade para pegar o peito, mas uma hora ele consegue e o marido pode ajudar a companheira a manter a tranqüilidade", diz a pediatra Ana Lúcia Figueiredo. "Deve ficar claro que não existe leite fraco e os bebês precisam mamar no peito pelo menos até os 2 anos." Após o primeiro semestre, é possível introduzir sucos e alimentos sólidos na alimentação da criança - a partir daí, o pai pode contribuir no preparo de papinhas e afins. Tome nota destas dicas:

- Os sucos devem ser naturais e sem gelo, sempre com frutas frescas.

- Além dos sucos, as papinhas de frutas amassadas são boas pedidas.

- As papinhas salgadas podem ser bastante variadas, com diversos tipos de verduras e legumes cozidos. Antes de irem para a panela, devem ser bem lavados e esterilizados.

- Vale a pena dar um tipo de alimento de cada vez para que o bebê reconheça os diferentes sabores e se acostume a eles.

- Evite usar muito sal: quanto menos, melhor. No começo, não usávamos o tempero na preparação das papinhas e o bebê comia bem. Mas uma pitada não faz mal.

- Tome cuidado também com a temperatura da comida. Sempre experimente antes de oferecer algo para a criança para verificar se não está muito quente.

4) Como decifrar o choro do bebê?

O choro é a única forma de comunicação oral que seu pequeno conhece. Procure não se irritar com os escândalos. Na verdade, a criança está querendo dizer alguma coisa. O desafio é tentar entender exatamente o quê. Com o tempo, dá para identificar os diferentes tipos de choro. Veja algumas das possibilidades:

- Fome e/ou sede: quem não chora não mama, isso ele aprende instintivamente desde que nasce.

- Fralda suja: o incômodo com a presença de cocô ou xixi vai fazer com que o bebê reclame em algum momento.

- Calor: muitos pais tendem a encapotar o filho com medo de o bebê pegar friagem, mas acabam sufocando a criança.

- Frio: é a situação inversa. Em geral, essa sensação pode vir à tona quando o nenê vomita e molha a roupa.

- Cólica: nos primeiros meses de vida, o sistema digestivo da criança precisa se adaptar a uma função que não desempenhava no útero

materno e isso pode gerar desconfortos.

- Dor: é facilmente perceptível e ocorre quando alguém, inadvertidamente, machuca o bebê.

Por Giuliano Agmont

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