Os filhos da internet

Os filhos da internet

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:11

Os pais de Pedro, Isabela, Leonardo e dos gêmeos Bianca e Lucas se conheceram pela web e tiveram as primeiras gerações de "filhos da rede"

Foi-se o tempo em que conhecer pessoas pela internet era visto como falta de opção. As novas gerações já convivem naturalmente com a ideia, sem ver diferença entre paquerar em uma festa ou num site de relacionamentos. Isso tudo graças às gerações anteriores, que enfrentaram estranhamentos da família, desconfianças iniciais e distâncias físicas.

Surpreendendo muitas expectativas, relacionamentos nascidos na internet vão longe. Hoje, depois de 15 anos do início das operações comerciais da internet no Brasil, alguns casais que se conheceram pela rede não só já se casaram, como também tiveram filhos – produzindo as primeiras gerações de filhos da internet. A web é "madrinha" de crianças como Pedro, dos gêmeos Bianca e Lucas, e de Isabela e Leonardo. Conheça suas histórias.

Pedro: bebê jedi

Em 2004, a professora de português Cristiane Marques Crepaldi, 31 anos, e o técnico em eletrônica João Carlos Haidar da Silva, 42 anos, eram leitores de um site de textos sobre cultura pop e vida cotidiana, o Garotas que Dizem Ni, hoje fora do ar. Eles contam que o site logo reuniu uma legião de fãs "nerds", que criaram um fórum de discussão virtual.

A afinidade da turma online exigiu um contato na vida real. João Carlos ofereceu a casa noturna que tinha na época e foi ali que aconteceram os primeiros encontros do futuro casal. No começo, era só uma amizade pelo MSN. "Sempre fui tímida. Mesmo já gostando dele, não tinha coragem de me declarar", lembra Cris.

João já foi bem mais atirado: "Em uma das festas, percebi que um carinha estava com graça pra cima dela e a chamou para a pista de dança. Quando ela desceu, senti que naquele momento eu poderia fazer a melhor ou a pior coisa da minha vida. Desci as escadas correndo, entrei na frente do carinha, encostei a Cris na parede e falei que queria namorá-la".

O namoro durou dois anos. Em janeiro de 2007, Cris e João se casaram. Metade dos convidados e padrinhos eram amigos do fórum online e o enfeite do bolo era o noivo sendo puxado pela noiva de dentro do computador. Pedro nasceu no último 31 de julho e faz parte da grande família virtual que se formou. Uma dessas amigas, conhecida pela internet, foi responsável pelo enfeite da porta da maternidade: os personagens Darth Vader e Yoda em versões bebê.

"A Cris frustrou meus planos de chamar o Pedro de Luke Tiberius Jones. Mas não vai me impedir de criá-lo como um jedi", diz o pai, fascinado por "Guerra nas Estrelas". Por morarem em cidades diferentes, João e Cris provavelmente nem se encontrariam se não fosse a internet. "Não digo que usamos a internet para encontrar o amor, o amor é que usou a internet para nos encontrar", derrete-se a nova mamãe.

Lucas e Bianca: dose dupla

Era 1998, nos duros tempos da internet discada. O publicitário Márcio Alves de Oliveira, 38 anos, e a cake designer Leilane Alves Borges de Oliveira, 31, usavam as madrugadas para bater papo no chat criado pela igreja da qual eram membros.

Leilane e Márcio se interessaram virtualmente por outras pessoas, até que se decepcionaram no contato real, durante um encontro que reuniu o grupo do chat. "Naquela época, não eram comuns as câmeras digitais e os scanners. Por isso, nem foto a gente tinha visto antes de se conhecer", lembra Leilane. "Ela gostou de mim porque eu usava cavanhaque na época", conta Márcio.

Depois de mais alguns desses encontros em grupo, eles começaram a namorar. Contar para a família foi um desafio, pois antes eles precisavam explicar o que era internet. Seis meses depois, Leilane começou a viajar pelo Brasil com sua escola de teatro e música, colocando mais um obstáculo no relacionamento do casal: a distância. Para alguns, isso poderia significar o fim. Para eles foi o empurrãozinho para ficarem noivos. "Era um namoro por cartas e curtos momentos ao telefone. Naquela época, não dava para ela usar a internet nas cidades em que parava. Acho que isso fez com que sentíssemos vontade de casar o quanto antes", conta Márcio.

Assim que Leilane voltou, depois de um ano de viagens, começaram os preparativos para o casamento. O casal decidiu esperar a formatura dela na faculdade para encomendar um bebê, mas o processo foi um pouco mais demorado do que imaginavam: depois de tentar por dois anos, os médicos aconselharam a fertilização in vitro. "Dois meses depois, a Leilane estava grávida dos nossos gêmeos. Lógico que tínhamos que ter gêmeos. Afinal, nada do que é estabelecido como o processo 'normal’ e 'comum’, aconteceu conosco", comemora Márcio.

Assim que puderem entender, Bianca e Lucas, de um ano e 11 meses, ouvirão a história de amor de seus pais. "Eles vão rir com a gente de como o fato de os pais serem tão ligados em tecnologia fez com que encontrassem a cara-metade que estava perdida na rede", diz Leilane.

Isabela e Leonardo: tudo começou no chat

Era um solitário sábado à noite de 2002. A professora de línguas Úrsula Hummel, 36 anos, estava fazendo pesquisas pela internet quando apareceu uma janelinha anunciando o chat de encontros. Curiosa, ela entrou em uma sala com o nick "sedutora" e abordou o "romântico": "Ainda existem homens românticos?". "Sim, desde que a mulher saiba seduzir", veio a resposta.

Por trás do apelido estava o engenheiro Milton Hummel, hoje com 41 anos. Dez minutos de papo e eles já passaram o contato para o telefone. Úrsula jura que a ideia era apresentá-lo para sua comadre. O plano do encontro, um mês depois, era dar um jeito de Milton conhecer a pretendente. Mas, assim que Úrsula o viu, se apaixonou. "Foi amor a primeira vista", diz. No mesmo dia, Milton conheceu Isabela, filha de Úrsula de um casamento anterior. E, no mesmo dia, ele foi para a casa dela e não saiu mais de lá.

Os noivos assistiram a seu próprio casamento oficial por vídeo. Em 2004, estavam morando no Chile quando a cerimônia aconteceu por procuração no Brasil. Foi a forma de Úrsula obter o visto de acompanhante de Milton, que estava no país a trabalho. Voltando para o Brasil, a decisão natural foi Milton pedir em juízo a paternidade de Isabela, que ele já exercia na prática e de coração.

Foi nesta fase também que Úrsula começou tratamento para engravidar e, em sete dias, já estava esperando Leonardo, hoje com quatro anos. Apesar de ser um filho das novas tecnologias, Leonardo gosta mesmo é de uma história à moda antiga. "Conto uma história fantasiosa que ele adora: 'A mamãe era uma pessoa muito sozinha e queria uma filha. Fui na padaria, comprei um pãozinho, comi e veio a Isa. A família virou nós duas. Faltava um pai. Então encontrei um cachorro na rua, levei pra casa, escovei o pelo, dei comida, amor e o cachorro se transformou no papai. Mas faltava alguém. Então fui ao açougue, comi uma carne muito gostosa e veio você. E todos viveram felizes para sempre’. Nem sei se ele acredita, mas vive pedindo pra eu repetir", diz Úrsula.

Os pais de Pedro, Isabela, Leonardo e dos gêmeos Bianca e Lucas se conheceram pela web e tiveram as primeiras gerações de "filhos da rede"

Foi-se o tempo em que conhecer pessoas pela internet era visto como falta de opção. As novas gerações já convivem naturalmente com a ideia, sem ver diferença entre paquerar em uma festa ou num site de relacionamentos. Isso tudo graças às gerações anteriores, que enfrentaram estranhamentos da família, desconfianças iniciais e distâncias físicas.

Surpreendendo muitas expectativas, relacionamentos nascidos na internet vão longe. Hoje, depois de 15 anos do início das operações comerciais da internet no Brasil, alguns casais que se conheceram pela rede não só já se casaram, como também tiveram filhos – produzindo as primeiras gerações de filhos da internet. A web é "madrinha" de crianças como Pedro, dos gêmeos Bianca e Lucas, e de Isabela e Leonardo. Conheça suas histórias.

Pedro: bebê jedi

Em 2004, a professora de português Cristiane Marques Crepaldi, 31 anos, e o técnico em eletrônica João Carlos Haidar da Silva, 42 anos, eram leitores de um site de textos sobre cultura pop e vida cotidiana, o Garotas que Dizem Ni, hoje fora do ar. Eles contam que o site logo reuniu uma legião de fãs "nerds", que criaram um fórum de discussão virtual.

A afinidade da turma online exigiu um contato na vida real. João Carlos ofereceu a casa noturna que tinha na época e foi ali que aconteceram os primeiros encontros do futuro casal. No começo, era só uma amizade pelo MSN. "Sempre fui tímida. Mesmo já gostando dele, não tinha coragem de me declarar", lembra Cris.

João já foi bem mais atirado: "Em uma das festas, percebi que um carinha estava com graça pra cima dela e a chamou para a pista de dança. Quando ela desceu, senti que naquele momento eu poderia fazer a melhor ou a pior coisa da minha vida. Desci as escadas correndo, entrei na frente do carinha, encostei a Cris na parede e falei que queria namorá-la".

O namoro durou dois anos. Em janeiro de 2007, Cris e João se casaram. Metade dos convidados e padrinhos eram amigos do fórum online e o enfeite do bolo era o noivo sendo puxado pela noiva de dentro do computador. Pedro nasceu no último 31 de julho e faz parte da grande família virtual que se formou. Uma dessas amigas, conhecida pela internet, foi responsável pelo enfeite da porta da maternidade: os personagens Darth Vader e Yoda em versões bebê.

"A Cris frustrou meus planos de chamar o Pedro de Luke Tiberius Jones. Mas não vai me impedir de criá-lo como um jedi", diz o pai, fascinado por "Guerra nas Estrelas". Por morarem em cidades diferentes, João e Cris provavelmente nem se encontrariam se não fosse a internet. "Não digo que usamos a internet para encontrar o amor, o amor é que usou a internet para nos encontrar", derrete-se a nova mamãe.

Lucas e Bianca: dose dupla

Era 1998, nos duros tempos da internet discada. O publicitário Márcio Alves de Oliveira, 38 anos, e a cake designer Leilane Alves Borges de Oliveira, 31, usavam as madrugadas para bater papo no chat criado pela igreja da qual eram membros.

Leilane e Márcio se interessaram virtualmente por outras pessoas, até que se decepcionaram no contato real, durante um encontro que reuniu o grupo do chat. "Naquela época, não eram comuns as câmeras digitais e os scanners. Por isso, nem foto a gente tinha visto antes de se conhecer", lembra Leilane. "Ela gostou de mim porque eu usava cavanhaque na época", conta Márcio.

Depois de mais alguns desses encontros em grupo, eles começaram a namorar. Contar para a família foi um desafio, pois antes eles precisavam explicar o que era internet. Seis meses depois, Leilane começou a viajar pelo Brasil com sua escola de teatro e música, colocando mais um obstáculo no relacionamento do casal: a distância. Para alguns, isso poderia significar o fim. Para eles foi o empurrãozinho para ficarem noivos. "Era um namoro por cartas e curtos momentos ao telefone. Naquela época, não dava para ela usar a internet nas cidades em que parava. Acho que isso fez com que sentíssemos vontade de casar o quanto antes", conta Márcio.

Assim que Leilane voltou, depois de um ano de viagens, começaram os preparativos para o casamento. O casal decidiu esperar a formatura dela na faculdade para encomendar um bebê, mas o processo foi um pouco mais demorado do que imaginavam: depois de tentar por dois anos, os médicos aconselharam a fertilização in vitro. "Dois meses depois, a Leilane estava grávida dos nossos gêmeos. Lógico que tínhamos que ter gêmeos. Afinal, nada do que é estabelecido como o processo 'normal’ e 'comum’, aconteceu conosco", comemora Márcio.

Assim que puderem entender, Bianca e Lucas, de um ano e 11 meses, ouvirão a história de amor de seus pais. "Eles vão rir com a gente de como o fato de os pais serem tão ligados em tecnologia fez com que encontrassem a cara-metade que estava perdida na rede", diz Leilane.

Isabela e Leonardo: tudo começou no chat

Era um solitário sábado à noite de 2002. A professora de línguas Úrsula Hummel, 36 anos, estava fazendo pesquisas pela internet quando apareceu uma janelinha anunciando o chat de encontros. Curiosa, ela entrou em uma sala com o nick "sedutora" e abordou o "romântico": "Ainda existem homens românticos?". "Sim, desde que a mulher saiba seduzir", veio a resposta.

Por trás do apelido estava o engenheiro Milton Hummel, hoje com 41 anos. Dez minutos de papo e eles já passaram o contato para o telefone. Úrsula jura que a ideia era apresentá-lo para sua comadre. O plano do encontro, um mês depois, era dar um jeito de Milton conhecer a pretendente. Mas, assim que Úrsula o viu, se apaixonou. "Foi amor a primeira vista", diz. No mesmo dia, Milton conheceu Isabela, filha de Úrsula de um casamento anterior. E, no mesmo dia, ele foi para a casa dela e não saiu mais de lá.

Os noivos assistiram a seu próprio casamento oficial por vídeo. Em 2004, estavam morando no Chile quando a cerimônia aconteceu por procuração no Brasil. Foi a forma de Úrsula obter o visto de acompanhante de Milton, que estava no país a trabalho. Voltando para o Brasil, a decisão natural foi Milton pedir em juízo a paternidade de Isabela, que ele já exercia na prática e de coração.

Foi nesta fase também que Úrsula começou tratamento para engravidar e, em sete dias, já estava esperando Leonardo, hoje com quatro anos. Apesar de ser um filho das novas tecnologias, Leonardo gosta mesmo é de uma história à moda antiga. "Conto uma história fantasiosa que ele adora: 'A mamãe era uma pessoa muito sozinha e queria uma filha. Fui na padaria, comprei um pãozinho, comi e veio a Isa. A família virou nós duas. Faltava um pai. Então encontrei um cachorro na rua, levei pra casa, escovei o pelo, dei comida, amor e o cachorro se transformou no papai. Mas faltava alguém. Então fui ao açougue, comi uma carne muito gostosa e veio você. E todos viveram felizes para sempre’. Nem sei se ele acredita, mas vive pedindo pra eu repetir", diz Úrsula.

Os pais de Pedro, Isabela, Leonardo e dos gêmeos Bianca e Lucas se conheceram pela web e tiveram as primeiras gerações de "filhos da rede"

Foi-se o tempo em que conhecer pessoas pela internet era visto como falta de opção. As novas gerações já convivem naturalmente com a ideia, sem ver diferença entre paquerar em uma festa ou num site de relacionamentos. Isso tudo graças às gerações anteriores, que enfrentaram estranhamentos da família, desconfianças iniciais e distâncias físicas.

Surpreendendo muitas expectativas, relacionamentos nascidos na internet vão longe. Hoje, depois de 15 anos do início das operações comerciais da internet no Brasil, alguns casais que se conheceram pela rede não só já se casaram, como também tiveram filhos – produzindo as primeiras gerações de filhos da internet. A web é "madrinha" de crianças como Pedro, dos gêmeos Bianca e Lucas, e de Isabela e Leonardo. Conheça suas histórias.

Pedro: bebê jedi

Em 2004, a professora de português Cristiane Marques Crepaldi, 31 anos, e o técnico em eletrônica João Carlos Haidar da Silva, 42 anos, eram leitores de um site de textos sobre cultura pop e vida cotidiana, o Garotas que Dizem Ni, hoje fora do ar. Eles contam que o site logo reuniu uma legião de fãs "nerds", que criaram um fórum de discussão virtual.

A afinidade da turma online exigiu um contato na vida real. João Carlos ofereceu a casa noturna que tinha na época e foi ali que aconteceram os primeiros encontros do futuro casal. No começo, era só uma amizade pelo MSN. "Sempre fui tímida. Mesmo já gostando dele, não tinha coragem de me declarar", lembra Cris.

João já foi bem mais atirado: "Em uma das festas, percebi que um carinha estava com graça pra cima dela e a chamou para a pista de dança. Quando ela desceu, senti que naquele momento eu poderia fazer a melhor ou a pior coisa da minha vida. Desci as escadas correndo, entrei na frente do carinha, encostei a Cris na parede e falei que queria namorá-la".

O namoro durou dois anos. Em janeiro de 2007, Cris e João se casaram. Metade dos convidados e padrinhos eram amigos do fórum online e o enfeite do bolo era o noivo sendo puxado pela noiva de dentro do computador. Pedro nasceu no último 31 de julho e faz parte da grande família virtual que se formou. Uma dessas amigas, conhecida pela internet, foi responsável pelo enfeite da porta da maternidade: os personagens Darth Vader e Yoda em versões bebê.

"A Cris frustrou meus planos de chamar o Pedro de Luke Tiberius Jones. Mas não vai me impedir de criá-lo como um jedi", diz o pai, fascinado por "Guerra nas Estrelas". Por morarem em cidades diferentes, João e Cris provavelmente nem se encontrariam se não fosse a internet. "Não digo que usamos a internet para encontrar o amor, o amor é que usou a internet para nos encontrar", derrete-se a nova mamãe.

Lucas e Bianca: dose dupla

Era 1998, nos duros tempos da internet discada. O publicitário Márcio Alves de Oliveira, 38 anos, e a cake designer Leilane Alves Borges de Oliveira, 31, usavam as madrugadas para bater papo no chat criado pela igreja da qual eram membros.

Leilane e Márcio se interessaram virtualmente por outras pessoas, até que se decepcionaram no contato real, durante um encontro que reuniu o grupo do chat. "Naquela época, não eram comuns as câmeras digitais e os scanners. Por isso, nem foto a gente tinha visto antes de se conhecer", lembra Leilane. "Ela gostou de mim porque eu usava cavanhaque na época", conta Márcio.

Depois de mais alguns desses encontros em grupo, eles começaram a namorar. Contar para a família foi um desafio, pois antes eles precisavam explicar o que era internet. Seis meses depois, Leilane começou a viajar pelo Brasil com sua escola de teatro e música, colocando mais um obstáculo no relacionamento do casal: a distância. Para alguns, isso poderia significar o fim. Para eles foi o empurrãozinho para ficarem noivos. "Era um namoro por cartas e curtos momentos ao telefone. Naquela época, não dava para ela usar a internet nas cidades em que parava. Acho que isso fez com que sentíssemos vontade de casar o quanto antes", conta Márcio.

Assim que Leilane voltou, depois de um ano de viagens, começaram os preparativos para o casamento. O casal decidiu esperar a formatura dela na faculdade para encomendar um bebê, mas o processo foi um pouco mais demorado do que imaginavam: depois de tentar por dois anos, os médicos aconselharam a fertilização in vitro. "Dois meses depois, a Leilane estava grávida dos nossos gêmeos. Lógico que tínhamos que ter gêmeos. Afinal, nada do que é estabelecido como o processo 'normal’ e 'comum’, aconteceu conosco", comemora Márcio.

Assim que puderem entender, Bianca e Lucas, de um ano e 11 meses, ouvirão a história de amor de seus pais. "Eles vão rir com a gente de como o fato de os pais serem tão ligados em tecnologia fez com que encontrassem a cara-metade que estava perdida na rede", diz Leilane.

Isabela e Leonardo: tudo começou no chat

Era um solitário sábado à noite de 2002. A professora de línguas Úrsula Hummel, 36 anos, estava fazendo pesquisas pela internet quando apareceu uma janelinha anunciando o chat de encontros. Curiosa, ela entrou em uma sala com o nick "sedutora" e abordou o "romântico": "Ainda existem homens românticos?". "Sim, desde que a mulher saiba seduzir", veio a resposta.

Por trás do apelido estava o engenheiro Milton Hummel, hoje com 41 anos. Dez minutos de papo e eles já passaram o contato para o telefone. Úrsula jura que a ideia era apresentá-lo para sua comadre. O plano do encontro, um mês depois, era dar um jeito de Milton conhecer a pretendente. Mas, assim que Úrsula o viu, se apaixonou. "Foi amor a primeira vista", diz. No mesmo dia, Milton conheceu Isabela, filha de Úrsula de um casamento anterior. E, no mesmo dia, ele foi para a casa dela e não saiu mais de lá.

Os noivos assistiram a seu próprio casamento oficial por vídeo. Em 2004, estavam morando no Chile quando a cerimônia aconteceu por procuração no Brasil. Foi a forma de Úrsula obter o visto de acompanhante de Milton, que estava no país a trabalho. Voltando para o Brasil, a decisão natural foi Milton pedir em juízo a paternidade de Isabela, que ele já exercia na prática e de coração.

Foi nesta fase também que Úrsula começou tratamento para engravidar e, em sete dias, já estava esperando Leonardo, hoje com quatro anos. Apesar de ser um filho das novas tecnologias, Leonardo gosta mesmo é de uma história à moda antiga. "Conto uma história fantasiosa que ele adora: 'A mamãe era uma pessoa muito sozinha e queria uma filha. Fui na padaria, comprei um pãozinho, comi e veio a Isa. A família virou nós duas. Faltava um pai. Então encontrei um cachorro na rua, levei pra casa, escovei o pelo, dei comida, amor e o cachorro se transformou no papai. Mas faltava alguém. Então fui ao açougue, comi uma carne muito gostosa e veio você. E todos viveram felizes para sempre’. Nem sei se ele acredita, mas vive pedindo pra eu repetir", diz Úrsula.

Os pais de Pedro, Isabela, Leonardo e dos gêmeos Bianca e Lucas se conheceram pela web e tiveram as primeiras gerações de "filhos da rede"

Foi-se o tempo em que conhecer pessoas pela internet era visto como falta de opção. As novas gerações já convivem naturalmente com a ideia, sem ver diferença entre paquerar em uma festa ou num site de relacionamentos. Isso tudo graças às gerações anteriores, que enfrentaram estranhamentos da família, desconfianças iniciais e distâncias físicas.

Surpreendendo muitas expectativas, relacionamentos nascidos na internet vão longe. Hoje, depois de 15 anos do início das operações comerciais da internet no Brasil, alguns casais que se conheceram pela rede não só já se casaram, como também tiveram filhos – produzindo as primeiras gerações de filhos da internet. A web é "madrinha" de crianças como Pedro, dos gêmeos Bianca e Lucas, e de Isabela e Leonardo. Conheça suas histórias.

Pedro: bebê jedi

Em 2004, a professora de português Cristiane Marques Crepaldi, 31 anos, e o técnico em eletrônica João Carlos Haidar da Silva, 42 anos, eram leitores de um site de textos sobre cultura pop e vida cotidiana, o Garotas que Dizem Ni, hoje fora do ar. Eles contam que o site logo reuniu uma legião de fãs "nerds", que criaram um fórum de discussão virtual.

A afinidade da turma online exigiu um contato na vida real. João Carlos ofereceu a casa noturna que tinha na época e foi ali que aconteceram os primeiros encontros do futuro casal. No começo, era só uma amizade pelo MSN. "Sempre fui tímida. Mesmo já gostando dele, não tinha coragem de me declarar", lembra Cris.

João já foi bem mais atirado: "Em uma das festas, percebi que um carinha estava com graça pra cima dela e a chamou para a pista de dança. Quando ela desceu, senti que naquele momento eu poderia fazer a melhor ou a pior coisa da minha vida. Desci as escadas correndo, entrei na frente do carinha, encostei a Cris na parede e falei que queria namorá-la".

O namoro durou dois anos. Em janeiro de 2007, Cris e João se casaram. Metade dos convidados e padrinhos eram amigos do fórum online e o enfeite do bolo era o noivo sendo puxado pela noiva de dentro do computador. Pedro nasceu no último 31 de julho e faz parte da grande família virtual que se formou. Uma dessas amigas, conhecida pela internet, foi responsável pelo enfeite da porta da maternidade: os personagens Darth Vader e Yoda em versões bebê.

"A Cris frustrou meus planos de chamar o Pedro de Luke Tiberius Jones. Mas não vai me impedir de criá-lo como um jedi", diz o pai, fascinado por "Guerra nas Estrelas". Por morarem em cidades diferentes, João e Cris provavelmente nem se encontrariam se não fosse a internet. "Não digo que usamos a internet para encontrar o amor, o amor é que usou a internet para nos encontrar", derrete-se a nova mamãe.

Lucas e Bianca: dose dupla

Era 1998, nos duros tempos da internet discada. O publicitário Márcio Alves de Oliveira, 38 anos, e a cake designer Leilane Alves Borges de Oliveira, 31, usavam as madrugadas para bater papo no chat criado pela igreja da qual eram membros.

Leilane e Márcio se interessaram virtualmente por outras pessoas, até que se decepcionaram no contato real, durante um encontro que reuniu o grupo do chat. "Naquela época, não eram comuns as câmeras digitais e os scanners. Por isso, nem foto a gente tinha visto antes de se conhecer", lembra Leilane. "Ela gostou de mim porque eu usava cavanhaque na época", conta Márcio.

Depois de mais alguns desses encontros em grupo, eles começaram a namorar. Contar para a família foi um desafio, pois antes eles precisavam explicar o que era internet. Seis meses depois, Leilane começou a viajar pelo Brasil com sua escola de teatro e música, colocando mais um obstáculo no relacionamento do casal: a distância. Para alguns, isso poderia significar o fim. Para eles foi o empurrãozinho para ficarem noivos. "Era um namoro por cartas e curtos momentos ao telefone. Naquela época, não dava para ela usar a internet nas cidades em que parava. Acho que isso fez com que sentíssemos vontade de casar o quanto antes", conta Márcio.

Assim que Leilane voltou, depois de um ano de viagens, começaram os preparativos para o casamento. O casal decidiu esperar a formatura dela na faculdade para encomendar um bebê, mas o processo foi um pouco mais demorado do que imaginavam: depois de tentar por dois anos, os médicos aconselharam a fertilização in vitro. "Dois meses depois, a Leilane estava grávida dos nossos gêmeos. Lógico que tínhamos que ter gêmeos. Afinal, nada do que é estabelecido como o processo 'normal’ e 'comum’, aconteceu conosco", comemora Márcio.

Assim que puderem entender, Bianca e Lucas, de um ano e 11 meses, ouvirão a história de amor de seus pais. "Eles vão rir com a gente de como o fato de os pais serem tão ligados em tecnologia fez com que encontrassem a cara-metade que estava perdida na rede", diz Leilane.

Isabela e Leonardo: tudo começou no chat

Era um solitário sábado à noite de 2002. A professora de línguas Úrsula Hummel, 36 anos, estava fazendo pesquisas pela internet quando apareceu uma janelinha anunciando o chat de encontros. Curiosa, ela entrou em uma sala com o nick "sedutora" e abordou o "romântico": "Ainda existem homens românticos?". "Sim, desde que a mulher saiba seduzir", veio a resposta.

Por trás do apelido estava o engenheiro Milton Hummel, hoje com 41 anos. Dez minutos de papo e eles já passaram o contato para o telefone. Úrsula jura que a ideia era apresentá-lo para sua comadre. O plano do encontro, um mês depois, era dar um jeito de Milton conhecer a pretendente. Mas, assim que Úrsula o viu, se apaixonou. "Foi amor a primeira vista", diz. No mesmo dia, Milton conheceu Isabela, filha de Úrsula de um casamento anterior. E, no mesmo dia, ele foi para a casa dela e não saiu mais de lá.

Os noivos assistiram a seu próprio casamento oficial por vídeo. Em 2004, estavam morando no Chile quando a cerimônia aconteceu por procuração no Brasil. Foi a forma de Úrsula obter o visto de acompanhante de Milton, que estava no país a trabalho. Voltando para o Brasil, a decisão natural foi Milton pedir em juízo a paternidade de Isabela, que ele já exercia na prática e de coração.

Foi nesta fase também que Úrsula começou tratamento para engravidar e, em sete dias, já estava esperando Leonardo, hoje com quatro anos. Apesar de ser um filho das novas tecnologias, Leonardo gosta mesmo é de uma história à moda antiga. "Conto uma história fantasiosa que ele adora: 'A mamãe era uma pessoa muito sozinha e queria uma filha. Fui na padaria, comprei um pãozinho, comi e veio a Isa. A família virou nós duas. Faltava um pai. Então encontrei um cachorro na rua, levei pra casa, escovei o pelo, dei comida, amor e o cachorro se transformou no papai. Mas faltava alguém. Então fui ao açougue, comi uma carne muito gostosa e veio você. E todos viveram felizes para sempre’. Nem sei se ele acredita, mas vive pedindo pra eu repetir", diz Úrsula.

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