Os idosos no horário nobre

Os idosos no horário nobre

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:24

Analisando os últimos capítulos de uma novela do horário nobre da teledramaturgia, pude perceber alguns pontos interessantes, os quais merecem ser discutidos aqui.

Primeiramente foi possível observar um relevante número de atores altamente qualificados, com faixa etária igual ou superior aos sessenta anos, representando papéis de destaque. Algo importante, visto que em muitas novelas mais antigas eram vistos menos idosos, e os papéis que os mesmos dramatizavam eram bem menos visíveis.

Dois temas muito interessantes abordados nesta novela foram a afetividade e a sexualidade na terceira idade. Idosos relacionaram-se sexualmente (inclusive foi abordada a questão da traição nesta faixa etária) e tiveram a possibilidade de se relacionarem amorosamente com os seus parceiros. Inclusive desfrutando da possibilidade de se separarem e ingressarem num novo relacionamento, seja com antigos amores ou mesmo enfatizando a escolha amorosa feminina nesta etapa da vida.

Importante também destacar o idoso que continua inserido no mercado de trabalho. Motorista, empresários, feirante, jardineiro, sapateiro, dentre outras profissões foram mostradas. Espero que sirva como incentivo aos empregadores para contratar idosos que desejam e tenham condições e trabalhar.

Em algumas situações, também foram exibidas cenas que sugeririam os primeiros sinais de demência num idoso e suas implicações nas relações familiares. Destaque a fala de alguns personagens de que o idoso estava “esclerosado”, enfatizando uma visão preconceituosa da sociedade em geral acerca da condição do idoso demenciado, o que é um reflexo de nossa sociedade ainda má informada e mal preparada para lidar com essa condição que acomete muitos idosos.

Como a realidade nem sempre é positiva, alguns temas cruéis sobre a realidade do idoso também foram mostrados, como a violência. Neste sentido, algumas reflexões merecem ser feitas, pois idosos foram vítimas e agentes de violência.

Um idoso foi manipulado por um familiar e vendeu um imóvel sem saber que estava fazendo isto, totalmente contra sua própria vontade e a partir daí o idoso e o neto mudaram de casa, de país, abandonando os pertences, os amigos e afastando o idoso de sua história de vida pregressa. Uma triste, porém, realidade de muitos idosos que acabam sendo vítimas de violência e, ao exemplo do idoso da ficção, não denunciam o familiar.

A outra face da moeda também foi revelada: uma idosa que desde a juventude cometeu sérios delitos como pedofilia e exploração sexual das netas continua sendo agente de violência já em idade avançada. Sem discutir um possível perfil psicopatológico aqui, fica ilustrada uma frase que ouvi há um tempo: “os cidadãos infratores também envelhecem”, e infelizmente nem sempre a sabedoria adquirida com a experiência os tornam pessoas honestas, idôneas e com retidão de caráter. Independente da idade, os mesmos precisam ser penalizados por seus delitos.

Em relação a esta personagem polêmica, considero extremamente preconceituosa e desnecessário o bordão “velha porca”, repetido frequentemente por sua neta na ficção. Independente do caráter deplorável e ilícito da personagem idosa, nada justifica ofendê-la por sua idade, a exemplo do que aconteceu ao longo da produção. Lamentável que a mesma personagem também se referia a outras pessoas como “velhas” de maneira pejorativa e desnecessária, principalmente para o horário nobre, quando grande número de pessoas assiste à novela e “pega emprestado” bordões caricatos de determinados personagens. Definitivamente espero que esta moda não pegue e que haja um maior cuidado para que determinados segmentos sociais não sejam ofendidos de forma preconceituosa na faixa nobre da TV brasileira e o pior, sem a manifestação de repúdio da sociedade neste respeito.

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